Por Guilherme Souza Dias, do DTE do Sistema FAEP/SENAR-PR
O volume de abates de bovinos diminuiu no primeiro semestre de 2020 em relação aos seis primeiros meses do ano passado. Segundo a Pesquisa Trimestral do Abate de Animais (PTAA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a redução foi de oito mil animais, queda de 1,19%. Em dados absolutos, o Paraná teve 695 mil cabeças abatidas no primeiro semestre de 2019, passando para 686 mil neste ano.
Enquanto a quantidade de machos acima de 24 meses se manteve estável em termos percentuais (abaixo de 1%), os machos jovens (novilhos) tiveram acréscimos de cerca de 7,5%, apesar da pequena participação no abate total. Somando as duas categorias, a quantidade de machos abatidos se manteve praticamente estável.
Entretanto, enquanto os abates de novilhas aumentaram 4,5%, entre vacas mais eradas (acima de 24 meses) houve redução de quase 5%. Foram 11,7 mil matrizes a menos indo para o gancho em 2020, o que confirma a previsão de que será um ano de retenção de matrizes, mesmo com o acréscimo de 3,5 mil novilhas abatidas. No balanço geral, os abates totais do Estado foram reduzidos em 1,2%, o equivalente à 8,3 mil cabeças.
Mercado
O giro rápido proporcionado pelo abate de categorias mais jovens tem sido aproveitado pelos pecuaristas para otimizar o capital investido. O aquecimento do mercado nacional, calcado no bom desempenho das exportações, tem contribuído para o cenário de altas na arroba paranaense.
Apesar da baixa participação do Paraná nas exportações brasileiras, a tendência de maior escoamento nacional contribui para a solidez nos preços internos. O dólar valorizado tem tornado o escoamento externo interessante de maneira geral, equilibrando a demanda interna, fragilizada pela situação econômica da população nacional.
Ao contrário do que ocorreu com o mercado de leite, o pagamento do auxílio emergencial não trouxe grandes oscilações para o mercado da arroba. Contudo, houve ligeira valorização nas cotações após o pagamento da primeira parcela do auxílio, o que beneficiou um terço da população brasileira.
Exportações
Em se tratando das exportações, no acumulado do ano, o Brasil exportou 1,2 milhão de toneladas de janeiro a agosto, alta de 14,1% em relação igual período do ano anterior. Em termos de faturamento, o desempenho nacional superou US$ 5,4 bilhões, alta de 25,5% ante 2019. O apetite mundial por proteínas animais está aquecido e o Brasil se insere em um contexto de plenas condições de atendimento a esse mercado.
Nesse contexto, ao correlacionar o volume exportado com a produção brasileira, o país exportou 22% do total produzido, contra 18,6% em 2019. Isso denota a importância do mercado externo na ponta da demanda, trazendo sustentação às cotações domésticas.
Há um salto no volume embarcado a partir de maio, notadamente período de retomada das atividades “pós-pandemia”, especialmente na Europa e Ásia. Entretanto, apesar desse aquecimento, é importante lembrar que o dólar valorizado figura como uma via de duas mãos. Se por um lado o escoamento dolarizado fica atrativo, o mesmo não ocorre para os fertilizantes, em sua maioria importados. Nesse contexto, chama a atenção os aumentos previstos para os custos de produção em 2020, especialmente oriundos dos componentes da ração, medicamentos, entre outros.
Paraná
O desempenho da carne bovina paranaense apresentou recuo no acumulado de 2020, ao contrário do Brasil, totalizando 18,3 mil toneladas embarcadas, queda de 20,6% frente ao ano anterior. Em se tratando do faturamento, a redução foi menos expressiva, de 15,8%, em função de melhores cotações. Em números absolutos, a queda foi de 4,7 mil toneladas, representando recuo de US$ 13,8 milhões no faturamento.
A pauta de exportação se manteve inalterada frente ao ano anterior, com a maior parte dos embarques sendo compostos por carnes bovinas desossadas congeladas e/ou refrigeradas. Esses produtos responderam por 81% do faturamento paranaense em 2020, totalizando US$ 59,7 de milhões. Entre os 40 mercados que adquiriram os produtos do Paraná, Hong Kong e Israel absorveram mais da metade do volume, 6,1 mil e 4,6 mil toneladas, respectivamente. A queda nos volumes totais foi motivada por reduções expressivas justamente nos principais mercados. Hong Kong e Israel reduziram suas compras em 19% e 17%, respetivamente.
Vale lembrar que as exportações são mais expressivas no segundo semestre. A retomada das atividades após a pandemia deve aquecer o desempenho no mercado externo, que tem mantido firme a demanda por carne bovina. O Brasil deve bater recorde de exportações no ano, assim como em 2019, mas o desempenho paranaense ainda segue aquém do potencial.
Com o tradicional maior abate de boiadas no segundo semestre, as cotações para a arroba devem seguir a tendência de valorização até o final do ano. Contudo, a demanda doméstica deve sofrer os impactos da queda de 50% no auxílio emergencial, portanto, as valorizações não devem ser tão expressivas quanto no final de 2019.
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