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Com preços 50% maiores, trigo cresce 9% no PR

As cotações atraentes do trigo estão abrindo espaço para a retomada do cereal no Paraná. Após três safras consecutivas com redução da triticultura no estado "maior produtor nacional do cereal do pão", a cultura recupera simpatia entre os produtores, com a projeção de uma safra de inverno 9% maior em relação à temporada passada. Para essa expansão, no entanto, o mercado teve de elevar seus preços num porcentual cinco vezes maior.

De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Se­cre­­taria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o Paraná deve plantar 845 mil hectares de trigo neste ano. A produção pode atingir a marca das 2,5 milhões de toneladas ? 500 mil toneladas acima do registrado na colheita passada. Já os preços cresceram proporcionalmente bem mais. A cotação média em 2013 está em R$ 39 a saca de 60 quilos, 50% acima do índice dos últimos quatro anos. A recuperação começou na temporada passada, quando a saca alcançou R$ 36,39 em dezembro.

Plantar trigo é um alto investimento, cujo retorno depende não só do mercado, mas também do clima. "Se o produtor não tiver o trigo, vai para o centeio ou  a aveia, que não proporcionam receita econômica tão importante como o trigo no inverno", aponta o técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) Flávio Turra.

Há dez anos na triticultura, o agricultor João Nazima, de Londrina, Norte do estado, dobrou a área plantada nesta safra, alcançando 120 hectares de semeadura os 80 hectares restantes são destinados a laranja, milho e uma reserva ambiental. Nazima planeja colher, ao menos, 50 sacas por hectare."É preciso saber escolher a variedade e acertar a época do plantio", comenta.

Acostumado com safras sem grandes lucros, o triticultor ressalta que o trigo requer persistência para alcançar a viabilidade técnica e econômica, numa conta que abrange várias safras, algumas de lucro e outras de prejuízo. "Não pode ir só atrás do preço porque o resultado, às vezes, não chega, se colocarmos na ponta do lápis. Mas este ano, o preço melhorou bem. Se continuar assim vai sobrar um pouco", pontua Nazima.

Para o produtor Luciano Agottani, de Palmeira, nos Campos Gerais, preço não é tudo. A triticultura reduz os custos da produção de outras culturas no verão, acrescenta. "O trigo permite otimizar o maquinário e o aproveitamento da mão de obra, além de mantermos a área de cultivo limpa", comenta.

Na avaliação do técnico da Ocepar, o cereal permite redução de 15% nos custos do verão, funcionando como investimento. "A lavoura estará mais adubada, pois os fertilizantes utilizados vão permanecer no solo. Assim, a necessidade de agroquímicos é menor na soja, por exemplo", explica Turra.

A tradição de plantar o cereal do pão nas terras de Agottani vem de seu pai. O tamanho da área da nova semeadura, que começa no mês que vem, ainda não está definido. A expansão da plantação ainda depende das perspectivas de mercado e, principalmente, dos preços de comercialização do cereal. Mas, a previsão é atingir 400 hectares e colher 65 sacas por hectare.

Mercosul

Países vizinhos reduzem oferta e Brasil tem de importar da América do Norte

A produção de trigo no Mercosul em 2012/13, considerando Argentina,Brasil e Paraguai, ficou na casa dos 15,7 milhões de toneladas, com queda de 15% em relação à temporada anterior (18,5 milhões de toneladas). Essa redução na oferta obriga os moinhos brasileiros "que importam metade da matéria prima" a trazer o alimento de países como Canadá e Estados Unidos.

O principal fator da redução é o fraco desempenho da Argentina, líder na triticultura na região. Estiagem, calor, tributos elevados e desinteresse dos produtores fizeram com que safra fosse 28% menor. Segundo dados da Bolsa de Rosário, a produção argentina de trigo ficou em 13 milhões de toneladas na safra 2011/12 e caiu a 9,3 milhões na última colheita.

O trigo paraguaio, por sua vez, rendeu 1,3 milhão de toneladas, conforme relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a safra 2012/13. O volume é pouco superior ao do período anterior (1,2 milhão de toneladas).

Ainda não há garantia de que a recuperação da triticultura brasileira prevista para este ano ocorra também na Argentina. A Companhia Nacio­­­nal de Abastecimento (Conab) estima que a área de plantio cresça 5,9% em relação à safra anterior.

Com isso, a produção brasileira tende a ser de 5,1 milhões de toneladas, volume 19,6% maior que o colhido em 2012.

Cooperativas reduzem dependência externa

Nos últimos anos, o Brasil tem importado entre 5 e 7 milhões de toneladas de trigo para suprir a demanda interna. Na contratendência, as cooperativas do Paraná trabalham para se tornar autossuficientes, importando apenas para mistura.
A cooperativa Agrária, localizada no distrito de Entre Rios, em Guarapuava (Centro-Sul do Paraná), projeta, para os próximos anos, que 80% do trigo necessários para operar o seu moinho sejam de cooperados. Hoje, 40% do produto são fornecidos pelos associados, 20% por parceiros e outros 20% são importados do Paraguai e da Argentina

"Eu gostaria que todo o trigo fosse daqui, pois o cooperado é o dono do moinho e precisa ser beneficiado. Estamos trabalhando para aumentar a produção", reforça o gerente de Negócios da empresa, Jeferson Caus. O moinho, fundado na década de 60, tem capacidade de moagem de 470 toneladas/dia.

Na região dos Campos Ge­rais, as cooperativas Batavo, Castrolanda e Capal projetam concluir as obras de um moinho, em Ponta Grossa, em fevereiro de 2014. Como a produção das três empresas, juntas, chega a 350 mil toneladas de trigo por ano, o grupo planeja importar apenas 10% da matéria-prima a ser processada.

"A quantidade é necessária para fazer a mistura. Mas estamos investindo nos municípios de Tibagi e Arapoti, que têm vocação para o trigo de qualidade, para reduzir a importação", ressalta Antonio Carlos Campos, gerente-geral da Batavo. As cooperativas investem R$ 52 milhões no moinho, que terá capacidade de 120 mil toneladas/ano.

Exemplo

Apesar da produção nacional reduzida em comparação com a demanda, é possível eliminar a importação de trigo. A Coamo, de Campo Mourão, trabalha apenas com o cereal produzido pelos associados. "Nunca, nos 35 anos que temos moinho, compramos trigo de fora. Essa história de que o nosso cereal não é bom não existe. Temos variedade e qualidade", afirma o presidente da cooperativa, José Aroldo Gallassini.

A empresa investe R$ 80 milhões na construção de um novo moinho no seu parque industrial, na cidade sede, com capacidade para moer 500 toneladas/dia. A inauguração deve ocorrer no segundo semestre do próximo ano. O moinho antigo foi desativado e a empresa trabalha com estrutura arrendada em Mamborê.

Carlos Guimarães Filho e Antoniele Luciano, especial para Gazeta do Povo

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