Sistema FAEP/SENAR-PR

A ameaça bolivariana a bananicultura nacional

Equador quer invadir o mercado nacional de bananas

 

IMG_8400Não é de hoje que o governo brasileiro se curva a países bolivarianos. São assim chamados porque seguem os preceitos do ex-presidente Hugo Chavez, da Venezuela, país onde se restringe as liberdades, a economia afunda, se raciona até papel higiênico, mas tem o apoio integral de Brasília. Esse comportamento vem de longe.

Em maio de 2006, por exemplo, a Bolívia expropriou refinarias da Petrobras e o ex-presidente Lula ficou quieto. A Argentina, sistematicamente, detona acordos comerciais com o Brasil e o governo contemporiza. A ditadura de Cuba não é bolivariana, mas está no mesmo barco e se fartou com US$ 800 milhões do governo brasileiro, para construir o Porto de Mariel, como se os nossos terminais fossem uma maravilha e não precisassem de investimentos.

Das benesses na área industrial, chegamos à agricultura. Agora, o bolivariano Equador, maior exportador mundial de bananas, chefiado por Rafael Correa, quer invadir o mercado brasileiro com essa fruta. A brecha para essa possibilidade surgiu em março, durante a troca do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), quando foi assinada a Instrução Normativa n º 3 (de 20/03/2014), que permite a importação.

Mas a IN tem que ser regulamentada e isso, segundo o ministério, deverá ocorrer até dezembro. Os representantes dos produtores da cadeia da banana estão elaborando uma defesa técnica envolvendo profissionais de órgãos pesquisas de 14 Estados entre eles São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia. E há manifestações de associações e produtores pelo país. Logo após a edição da IN, a FAEP pediu sua imediata revogação e alertou o Ministério da Agricultura de que não havia justificativa para tal importação, “já que o Brasil é o segundo produtor mundial de banana e a fruta é distribuída de Norte a Sul do país durante o ano todo, atendendo a demanda total do mercado nacional”. Apontou os problemas fitossanitários na bananicultura equatoriana e considerou “ser inadmissível permitir a entrada de banana tratada com produtos não registrados no Brasil”.

Surgiam sinais em Brasília de que a pressão fazia efeito e o governo federal recuava na tentativa de importar a banana bolivariana. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPA/Mapa), Seneri Paludo, participou, dia 13, de uma reunião no Palácio do Planalto com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o secretário executivo adjunto, Gilson Bittencourt, além de deputados, produtores e associações. Segundo Paludo, “o Ministério da Agricultura reforça o posicionamento do governo federal de que enquanto o país não tiver confiança fitossanitária e não tiver um mercado sadio para a importação de banana, não irá liberar a importação da fruta do Equador”. Mas ficam duas perguntas: como ficam os 2 milhões de bananicultores nacionais na hipótese de uma invasão da fruta bolivariana? Quem verificará “in loco” as condições fitossanitárias no Equador?

Manobra política
Inicialmente o Equador solicitou ao Ministério da Agricultura a exportação de bananas para o Estado de São Paulo. A cota inicial era de 800 mil toneladas ano. Após negociações esse volume caiu para 150 mil toneladas ano o que representa 17 carretas por dia. * Fonte Apta
A manobra política para beneficiar os vizinhos bolivarianos fica claro com as declarações do deputado federal paranaense Dr. Rosinha no plenário da Câmara Federal.
No último dia 08/05 ele defendeu em plenário a importação de bananas do Equador afirmando que o volume seria o equivalente ao consumo de menos de uma semana do Ceasa de São Paulo. “Essa cota que eles pedem não vai influenciar em nada o mercado brasileiro. É importante que essa importação se dê, porque nós precisamos da integração produtiva da América do Sul. Essa é uma forma que nosso continente tem de enfrentar soberanamente todas as disputas comerciais e políticas no mundo”.
O depoimento do deputado, na íntegra, está no link: https://www.youtube.com/watch?v=JhphjjjTwdo

Bom senso de Dilma

“A importação de banana do Equador representa o fim da atividade agrícola para os produtores. A maioria vai ter que ir embora do sítio e se tornar um empregado na cidade, porque as áreas produtivas são pequenas (média de 3,8 hectares). Tem que haver bom senso da presidente em relação aos produtores de banana, que só querem trabalhar e ter o lucro na própria terra. Fazer manifestações e mostrar para as pessoas o que pode acontecer com esses produtores pode ser feito. Mas, a atitude de não prejudicar os agricultores tem que partir da presidente. Se ela é presidente, a gente acredita que seja inteligente o bastante para saber que a liberação da importação vai atrapalhar um monte de gente. Todo o serviço é braçal. Em cada propriedade são gerados em média quatro empregos diretos e indiretos, pois colheita, lavagem, classificação e transporte acontecem o ano inteiro. Todo esse pessoal vai ficar sem trabalho se a banana do Equador chegar ao mercado nacional”.
(Do presidente da Associação dos Produtores de Banana de Andirá (Apbana), Wilson Aparecido Sargi, 51 anos).

De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná a variedade mais cultivada no Estado é a nanica/caturra seguida da prata. O Estado é o oitavo produtor nacional com 11,3 mil hectares e 268,5 mil toneladas.
O engenheiro-agrônomo, Mestre em Entomologia e técnico da Emater de Andirá, Fernando Teixeira, que coordena o projeto de produção bananas na Região Norte do Estado há 20 anos afirma que o Equador tenta exportar a fruta para o Brasil há nove anos.
A entrada da banana equatoriana no Brasil, segundo Fernando Teixeira terá consequências sociais; econômicas e principalmente fitossanitárias. “Sociais porque a mão de obra da lavoura de banana no Brasil é a familiar o que permite retorno financeiro o ano inteiro para os pequenos agricultores. Econômicas porque, quem controla o mercado no Equador são três empresas multinacionais americanas (veja box), que recebem subsídios do governo desde a compra de insumos até impostos de importação, e por isso conseguem baixar o preço do produto. Como o consumidor ainda escolhe o produto pelo preço, a fruta nacional vai perder espaço. E por último a questão fitossanitária, que é a mais grave”.

A grande ameaça

A questão fitossanitária citada pelo técnico da Emater é o argumento que instituições, em todo o país, ligadas aos produtores de banana estão usando para elaborar um relatório técnico ao Mapa sobre os riscos com a importação.
“Esperamos que essa defesa técnica mostre ao ministério os riscos relativos à sanidade vegetal e essa situação possa ser revista e cancelada”, a afirmação é do engenheiro-agrônomo, fitopatologista, pesquisador da Agência de Pesquisa em Agronegócios de São Paulo (Apta) e consultor da Confederação Nacional dos Bananicultores (Conaban), Wilson da Silva Moraes.
O maior perigo é trazer para as lavouras brasileiras doenças que não existem aqui. Segundo ele a primeira tentativa de importação do Equador ocorreu em 2005 de forma clandestina através da empresa Delmonte. As bananas clandestinas foram detectadas em Curitiba por bananicultores e pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). O fato foi comunicado ao Mapa e a Sociedade Brasileira de Fitopatologia. As frutas apreendidas e a comercialização proibida.
Em 2011 houve mais uma tentativa do Equador de entrar no mercado brasileiro. “Eles perderam mercado em função da crise econômica que a afetou Europa e Estados Unidos. Por conta dos preços praticados por eles o Brasil já perdeu para o Equador os mercados de exportação de banana da Argentina, Paraguai e Uruguai. Hoje toda a banana produzida aqui abastece o mercado interno”, diz.
O pesquisador pontua que as diferenças de custos de produção entre os brasileiros e equatorianos são enormes, pois o governo concede vários subsídios às multinacionais. “Eles não apenas plantam a banana com mão de obra barata e, às vezes até infantil, mas recebem subsídios, para compra de insumos e são donos da rede de transporte que escoa a produção incluindo os navios que fazem o comércio exterior. Enfim, eles não ganham só com o plantio como é o caso dos brasileiros”.

Excesso de agrotóxicos e pesquisa “no olho”

Um exemplo citado pelo pesquisador foi a publicação feita no periódico científico Plant Disease vinculado à Sociedade Americana de Fitopatologia, em agosto de 2013, sobre a ocorrência da virose bract mosaic vírus, que recebeu a sigla BBrMV. O vírus foi detectado por pesquisadores equatorianos em quatro províncias/estados. Essa publicação já foi divulgada em outros eventos científicos no Brasil.
Wilson Moraes explica que essa virose pode estar em plantas assintomáticas, ou seja, que não apresentam sintomas o que requer uma pesquisa mais aprofundada. “O problema é que no final de 2013, a visita técnica de técnicos do Mapa para averiguar a presença ou não dessa virose nos bananais do Equador, concluiu que essa doença não existia mais. Nós que somos pesquisadores sabemos que não é visualmente que se averigua isso é necessário uma pesquisa científica seguindo uma metodologia”, completa.
Outro exemplo de doença citada pelo pesquisador é a sigatoka negra, uma doença causada por um fungo que existe no Equador desde 1987. Aqui no Brasil essa doença existe nos bananais comerciais desde 2004. No Equador, em algumas regiões mais chuvosas, as empresas chegam a fazer 40 aplicações por ano para controlar o fungo, enquanto que, aqui no Brasil as aplicações variam de quatro a no máximo 10 por ano dependendo do clima.
“O grande número de aplicações causa a perda de sensibilidade do fungo à molécula presente no fungicida. Isso ocorre por aplicações indevidas e sem controle. E o mais grave é que apenas 2% da produção destinada à exportação no Equador passam por avaliação fitossanitária”, denuncia.
Wilson Moraes argumenta que ao publicar a IN nº 3, os técnicos do Mapa não levaram em conta o relatório técnico de 42 páginas elaborado por ele em 2011/12, que apresenta inconsistências da Avaliação da Análise de Risco de Praga feita pelo órgão. A Embrapa, também se posicionou contra a importação através de uma Nota Técnica.
“Se o Mapa permitir a importação de bananas do Equador e aparecer doenças exóticas que não existem aqui e que tem lá, o governo Dilma terá que arcar as consequências por esse ato”, alerta Moraes.

Dados da produção de bananas no Brasil
 Área cultivada 520 mil hectares;
 São produzidas anualmente 7 milhões de toneladas;
 Em cada propriedade são gerados quatro empregos diretos e indiretos;
 De acordo com a Fundação Getúlio Vargas a cadeia da banana no Brasil movimentou (são contabilizados produção, transporte, geração de empregos, industrialização, comercialização etc) US$ 10 bilhões no PIB.

BOX Multinacionais americanas
Chiquita e Fyffes criam maior empresa do setor de bananas
O grupo americano Chiquita Brands e a empresa irlandesa Fyffes anunciaram a criação da maior empresa do setor de bananas do mundo, com receitas anuais de 4,6 bilhões de dólares.
Nesta operação por troca de ações, os acionistas da Chiquita possuirão aproximadamente 50,7% da nova companhia, batizada de ChiquitaFyffes, e os da Fyffes os 49,3% restantes, informaram as duas empresas em um comunicado conjunto.
A Fyffes comercializa principalmente seus produtos sob a marca Sol.
A operação deve ser finalizada até o fim de 2014. A nova empresa, que se converterá na número UM mundial da banana e em um peso pesado das saladas embaladas, do melão e do abacaxi, estará presente em mais de 70 países, com 32.000 funcionários.

As bananas no Paraná
No Paraná as bananas são cultivadas em 2,7 mil propriedades rurais com área média de 3,8 hectares, configurando uma atividade exclusiva de pequenas propriedades. O extremo Oeste (Ilha do Bananal), Litoral/Vale da Ribeira e na região de Andirá, no norte pioneiro concentram a maior parte da produção.
O presidente da Associação dos Produtores de Banana de Andirá (Apbana), Wilson Aparecido Sargi revela que região é a segunda em produção da fruta no Estado, perdendo apenas para o litoral. São 250 produtores que cultivam banana em três mil hectares distribuídos em oito municípios – Andirá, Itambaracá, Santa Mariana, Leópolis, Rancho Alegre, Sertaneja, Cornélio Procópio e Abatiá.

O que dizem os bananicultores de Andirá

Geraldo e Bruno Cesar Sargi (pai e filho) estão há 20 anos cultivando bananas em Andirá, na propriedade de 12 hectares.
“Ao invés do governo permitir a importação da banana ele deveria incentivar a melhoria da produção, como um preço mínimo e um incentivo para a compra de produtos que ajudam a melhorar a produção nacional. Todo consumidor quer uma fruta boa e de qualidade, mas o produtor precisa ter a sua renda. Queremos investir mais na produção desde as mudas, mas na época de pico da safra a gente acaba jogando a banana fora por que não conseguirmos vender”.

Cidinéia Aparecida Ramos, 44 anos e João Luiz Alves, 51 anos. O casal trabalha com a produção de bananas há 11 anos na propriedade com 4,8 hectares.
“Se a banana do Equador entrar no Brasil vai ser o fim do seu cultivo no país. Eu desconfio que o nosso custo deve ser muito mais alto do que o deles, porque não temos nenhum incentivo. Parece que é uma empresa americana, e americano você sabe quando mete a mão no meio vem com tudo. E nós vamos fazer o quê?”

Marco Tetsutaro Outuki, 54 anos, engenheiro-agrônomo é considerado um grande produtor com uma área de 21 hectares tem quatro funcionários fixos. Com uma rentabilidade média de 30 mil quilos por hectare, ele afirma que 40% do que recebe com a banana é para pagar o custo dos funcionários.
“Você está em uma atividade não apenas porque gosta, mas primeiro porque ela te dá retorno financeiro. É a banana que garante nossa sobrevivência. O governo deveria estudar direito para não prejudicar os produtores rurais e seus funcionários. Eu acho que o custo da nossa produção agrícola é muito alto, o governo deveria se concentrar nesse ponto e criar uma política agrícola mais eficaz. Hoje eu vejo o produtor rural como um maluco, que pega dinheiro no setor financeiro, enterra na terra e reza para que dê retorno. Após 14 anos cultivando banana me incluo nesse grupo”.

Sidnei Segantini, 60 anos, 8,5 hectares de banana irrigada. Entre os 85 produtores do município de Andirá ele é um dos oito que investiu em irrigação no cultivo da banana com orientação técnica da Emater.
– “A produtividade dobra 2,5 mil caixas por hectare, pois com o sistema de irrigação consigo distribuir regularmente a água que a planta necessita para produzir. Por ano a bananeira precisa de 1.500 milímetros de chuva. Mesmo quando ela sofre uma geada a recuperação da planta é mais rápida em 60 dias. Se levar em conta que toda uma região é atingida pelo clima e você tem o produto com 60 dias antes dos outros começarem a colher é uma boa vantagem. A oferta de água promove conforto a planta, que responde com a produção de frutos de mais qualidade e em maior quantidade. Nossa banana perto da equatoriana..
Será que se o consumidor souber das 40 aplicações de defensivos agrícolas que se faz no Equador vai comprar?”

Pedro Gonçalves, 54 anos, há 12 no cultivo da banana em 4,8 hectares.
– “Se tivermos que parar de produzir a banana teremos que ir para a cidade, para ganhar R$ 600,00 por mês. Ou seja nossa renda vai cair pela metade, hoje temos liberdade para trabalhar e fazer o que gostamos. Sinceramente não sei e não entendo porque o governo vai querer importar. Para prejudicar nós brasileiros e beneficiar o outro país?”.

Fonte: Sistema FAEP

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