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Aliados naturais contra as pragas

Você conhece o Manejo Integrado de Pragas (MIP) ou já ouviu falar no Manejo Integrado de Doenças (MID)? Pelo MIP, por exemplo, você economiza na hora da aplicação de produtos químicos, deixando que um inimigo natural faça o combate às pragas das lavouras. Um exemplo disso é a vespa Trichogramma sp,  que se tornou uma importante ferramenta ao combate de lagartas de soja. A vespinha, como é conhecida – com pouco mais de três milímetros – é cada vez mais utilizada para fazer o controle biológico natural contra pragas e reduzir a aplicação de inseticidas nas lavouras. O produtor pode usar todas as técnicas de manejo de pragas para racionalizar e diminuir o uso de inseticidas. Em entrevista ao Boletim Informativo, o engenheiro-agrônomo Celso Daniel Seratto, mestre e coordenador do trabalho com grãos da Emater, explica as principais vantagens do MIP e do MID.   

BI – Afinal, o que é MIP e MID?
Celso – O MIP é o arranjo e uso de técnicas que se baseiam no conhecimento sobre o comportamento e a biologia dos insetos pragas, ou seja, dos insetos que atuam como inimigos naturais da lavoura que está sendo cultivada. Assim como o MIP, o MID consiste em conhecimentos e técnicas comprovadas cientificamente, com base no comportamento e na biologia dos fungos e das cultivares na lavoura. Através das duas técnicas, podemos tomar decisão sobre o momento e a maneira mais eficiente para controlar as doenças.

BI – A adoção do MIP e do MID está avançando no Brasil?
Celso – O uso das técnicas está cada vez mais crescendo no país. Desde 1970 as técnicas são conhecidas e utilizadas em todo o mundo e tem avançado em países como o Canadá, Estados Unidos, Alemanha, França, Itália e Espanha, China, o Japão e a Austrália.

BI – Quais os critérios que o produtor deve seguir ao adotar as técnicas?
Celso – Os produtores e profissionais que prestam assistência técnica devem seguir os protocolos de controle e as pesquisas desenvolvidas no meio científico. É o que nós da Emater buscamos fazer. O princípio básico é de só intervir, agir na lavoura, quando se atinge um nível elevado de dano econômico causado pelo inseto nas lavouras. É o ponto em que o prejuízo provocado pelo inseto-praga vai ultrapassar o custo de controle. Por isso, essas práticas exigem mais conhecimento e certa convivência com a presença das pragas.

BI – Como funcionam as técnicas do MIP, por exemplo?
Celso – Todas as técnicas empregadas no MIP são validadas por pesquisas e experiências de campo desenvolvidas pela Emater, entre outros. Por exemplo, no controle da lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), só se recomenda a intervenção com produtos químicos antes do florescimento, quando a desfolha está prestes a alcançar a marca de 30% da área foliar; e depois do florescimento, quando está perto dos 15%. No entanto, é evidente que devem ser consideradas as condições e previsões climáticas para os próximos 10 dias, permitindo tomar uma decisão bastante segura de intervenção com o uso de inseticidas. E, nesse caso, o recomendado é utilizar produtos seletivos aos inimigos naturais, sempre que possível. A estratégia central do MIP é sempre a de causar o menor impacto possível no ambiente, permitindo que a natureza também ajude no controle das pragas que estão causando o dano econômico. É esse justamente o ponto central: as pragas só devem ser controladas quando provocam um dano que justifique essa ação.

BI – Mas, na prática, não é o que ocorre usualmente…
Celso – Os produtores, na maioria das vezes, iniciam o controle das pragas antes desse prazo que citei e isso acaba ampliando o número de aplicações e, consequentemente, provocam um desiquilíbrio desnecessário no meio ambiente.

BI – E onde entram os inimigos naturais das pragas?
Celso – Outra técnica de MIP que pode ser utilizada em diversas culturas como milho, algodão e tomate, por exemplo, é o uso de parasitoides para o controle das lagartas. Nesse caso, o Trichogramma pretiosum e dos percevejos da soja, com o uso do Trissolcus basalis. Hoje, já existe fornecedor idôneo desses parasitoides no Brasil. No caso do uso Trichogramma, por exemplo, já se comprovou a eficiência para resolver os problemas com algumas pragas importantes, que estão aí causando apreensão entre os produtores, como é o caso da lagarta-falsa-medideira (Pseudoplusia includens), a lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea), a lagarta-das-maçãs do algodoeiro (Heliothis virescens) e, da temida Helicoverpa armigera, (conhecida anteriormente como a traça-do-tomateiro).

BI – Quais são as principais vantagens na adoção o MIP?
Celso – Além de garantir economia ao produtor, o uso das técnicas ajuda no equilíbrio do ambiente de produção. É o que nós da Emater constatamos no dia a dia no campo. As técnicas permitem que o produtor tenha mais segurança e eficiência no controle das pragas, reduzindo o número de aplicações. Dessa forma, ele consegue eliminar as aplicações desnecessárias, reduz a carga de agrotóxicos utilizada na lavoura e minimiza a exposição dele aos produtos químicos e protege a sua saúde. Sem contar na redução dos riscos de contaminação ambiental.  No caso da vespinha, por exemplo, nós verificamos que, entre os produtores que fazem o manejo de pragas, houve uma queda no número de aplicação de produtos. Geralmente, eles realizavam, em média, de três a cinco aplicações de produtos químicos para combater as lagartas. Com o controle biológico, esse número passou para duas aplicações.

BI – As técnicas podem ser adotadas em qualquer tamanho de propriedade?
Celso – Sim, no entanto, exigem um monitoramento mais constante dos talhões pelos produtores e profissionais que prestam assistência. Além disso, exigem mais conhecimento e capacitação.

BI – O que ocorre se o produtor segue à risca o calendário de aplicação?
Celso – Ao seguir um calendário para aplicação do produto, ele pode provocar a eliminação precoce de inimigos naturais e forte desequilíbrio ambiental nas propriedades. Assim, o que visivelmente, num primeiro momento, parece muito eficiente, se volta contra o próprio produtor, já que permite a rápida reinfestação dos insetos praga, exigindo uma nova intervenção química para o controle. Dessa maneira, se inicia uma roda viva que pode não ter fim. E nesse jogo, quem sai perdendo, normalmente, é o produtor, pois, com o excesso de uso de produtos químicos, ele acelera a seleção dos insetos-praga e aumenta a necessidade de intervenções.

BI – Em relação à ferrugem asiática, como usar o manejo integrado?

Celso – A ferrugem asiática da soja nas lavouras do Paraná tem origem a partir da germinação de esporos (sementes da doença) desse fungo. Esses esporos surgem normalmente nas plantas chamadas tigueras e nas lavouras de países vizinhos, que são plantadas muito cedo. E, quando as condições de umidade são favoráveis, esses esporos são transportados pelas correntes de vento e com o avanço das frentes frias. A experiência adquirida pela Emater aponta a ocorrência de safras em que, por conta da baixa umidade do ar, os esporos não chegam ao nosso estado ou, quando chegam, já estão inativados pelos raios ultravioletas emitidos pelo sol. Por outro lado, também podem ocorrer excepcionalmente situações em que a aplicação seja necessária até mesmo antes do calendário de aplicação que os produtores seguem. Por isso, o monitoramento da ferrugem é indispensável.

BI – Por falar nisso, como funciona esse monitoramento?
Celso – Para controlar a doença, a Emater instalou alguns coletores de esporos em alguns municípios do estado, que são dotados com lâminas de vidro autoadesivas, nas quais podemos monitorar a eventual chegada e a viabilidade dos esporos da ferrugem asiática. Assim que são detectados os primeiros esporos, é feito e teste de germinação dos mesmos e, se for confirmada a sua capacidade germinativa, nós emitimos o aviso ao sistema de alerta da ferrugem e aos parceiros localizados nos municípios próximos à estação, como os sindicatos do Sistema FAEP, Fetaep, Banco do Brasil e outros. Quando o alerta da presença e viabilidade é acionado, os produtores têm um prazo, dependendo das condições climáticas, entre sete e 10 dias para realizar a aplicação de fungicidas com total segurança. Só assim se justifica o uso do fungicida para o controle dessa doença. O resto é desperdício de tempo e de dinheiro.

BI – Quais são os passos que produtor deve seguir se quiser adotar o MIP e o MID?
Celso – O primeiro passo é conhecer as técnicas e experiências existentes, participando de eventos organizados pela Emater e as organizações de pesquisa oficiais. Nestas ocasiões é possível aprender com a experiência dos produtores que já adotam essas práticas. Outra etapa é discutir com um profissional que assiste o planejamento para a instalação da lavoura, optando por cultivares mais resistentes ou tolerantes, quando for possível. Além disso, existem estratégias de época de plantio que pode ser adotadas, melhorando as condições para das técnicas preconizadas. Outro passo é monitorar a área semanalmente e não tem outro jeito! Antes de fazer a intervenção, é preciso avaliar a situação com a assistência de um profissional habilitado e só fazê-la quando necessário. Depois disso, verificar o resultado da intervenção para aperfeiçoar seu conhecimento e prática com a utilização das técnicas de MIP e MID.

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