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Apesar de dólar alto, vendas de café travam

O agricultor está de olho mais na falta de café no curto e médio prazos, apostando que os danos da seca foram consideráveis

O dólar valorizado em relação ao real estimulou menos as negociações de café arábica no mercado interno do que se poderia supor. Em tese, a moeda americana forte tende a impulsionar as vendas realizadas por produtores brasileiros do grão, na medida em que aumenta a rentabilidade das exportações – feitas em dólar. Ocorre que a maior parte dos cafeicultores do país está mais atenta à perspectiva de quebra da safra nacional do que à escalada do câmbio, de acordo com Thiago Cazarini, corretor da Cazarini Trading, do município de Varginha (MG).

“O agricultor está de olho mais na falta de café no curto e médio prazos, apostando que os danos da seca foram consideráveis. E o mercado não está entendendo isso”, diz Cazarini. As cotações da commodity caíram de forma abrupta e muito rapidamente: nos últimos 30 dias, até sexta-feira, os contratos para maio, que ocupam a segunda posição de entrega (normalmente as de maior liquidez) recuaram 17,51% na bolsa de Nova York, para US$ 1,3990 por libra-peso, nos cálculos do Valor Data. No mesmo período, o dólar avançou de R$ 2,70 para R$ 3,00.

O retorno das chuvas ao Sudeste do Brasil (onde se concentram as lavouras de café no país), após um longo período de estiagem, incentivou os fundos a cortarem as apostas na alta da commodity. “Eles [os especuladores] acham que as chuvas vão ‘consertar’ os danos, mas acredito que vão apenas prevenir danos maiores. Reverter a situação, acho difícil”, avalia.

No mercado doméstico, Cazarini afirma que as negociações estão travadas. Segundo ele, o produtor está capitalizado e retendo o café. “Essa situação ‘atrasa’ o mercado porque o exportador tem compromissos de venda. Agora, não sei até quando o agricultor conseguirá segurar, porque ele precisa de receita para a pré-colheita”, afirma.

A retirada de campo dos primeiros grãos da safra 2015/16 começa em abril. Nos cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de arábica oscilará entre 32,4 milhões e 34,4 milhões de sacas, ante as 32,3 milhões da temporada anterior. O Brasil é o maior produtor mundial de café.

Já há algumas vendas antecipadas do novo ciclo, mas a maioria dos produtores brasileiros ainda se concentra na comercialização do café colhido em 2014/15. Cazarini calcula que ainda esteja disponível de 15% a 20% da produção, e o mercado tem feito ofertas entre R$ 450 e R$ 460 por saca. O agricultor, por sua vez, espera ao menos R$ 500 por saca.

A expectativa de Cazarini é que março ainda seja um mês difícil para as vendas, mas que os negócios podem se desenrolar mais facilmente entre abril e maio. “Acredito que na medida em que os estoques nos EUA e na Europa forem baixando e o produtor [do Brasil] não puder mais segurar o café, o mercado voltará a girar”, previu.

 
Fonte: Valor Econômico – 09/03/2015

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