A atuação das Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs), mais uma vez, foi peça-chave para uma conquista dos suinocultores integrados de Carambeí, na região dos Campos Gerais. Desde o início do ano, eles reivindicavam à agroindústria o reajuste do preço recebido pelo leitão. Ao fim das negociações, a empresa JBS Foods aprovou, no dia 21 de maio, o aumento do valor pago em 8%. O reajuste imediato será de 5%, complementados em mais 3% a partir de novembro, devido à pandemia do novo coronavírus.
A mobilização dos produtores pelo reajuste começou no início de 2020, após reunião no âmbito da Cadec, quando procuraram a assistência do Sindicato Rural de Arapoti, que abriga parte dos suinocultores integrados da região. “Eles pediram auxílio no levantamento de custos de produção com a intenção de negociar o reajuste no valor recebido pelo suíno. Entramos em contato com a FAEP para tirar dúvidas e ouvir sugestões e preparamos uma planilha”, explica o mobilizador da entidade Ismael de Oliveira.
Após reuniões por videoconferência e ajustes na planilha do levantamento de custos, ocorreu a primeira tentativa de negociação com a agroindústria. “Na reunião, nos ofereceram um reajuste muito abaixo do que apontava nossa tabela. Nós mostramos que aquele valor estava defasado e não aceitamos. Ficamos num impasse. A empresa, então, nos pediu qual seria o mínimo de reajuste que aceitaríamos e ficaram de conversar com o setor corporativo”, relata o coordenador da Cadec de Carambeí e membro da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP, Emanuel Nunes Choaire.
Os suinocultores se reuniram com a empresa duas vezes, até que na terceira, chegaram a um acordo. A principal reivindicação do setor produtivo era o reajuste do preço recebido, visto que a insatisfação se perdurava desde o ano anterior. “Em 2019, fomos despreparados para a reunião. Conseguimos um reajuste, mas ficamos com a sensação de perda. Nós, da Cadec, entendemos que era preciso organizar melhor e ter algo concreto para discutir com a empresa. Neste ano, tivemos o apoio técnico e jurídico da FAEP e da CNA, que forneceram vários argumentos para debatermos com a indústria. Chegamos extremamente preparados, embasados com a nossa planilha e com informações palpáveis”, destaca Choaire.
O coordenador do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP, Jefrey Albers, foi um dos responsáveis pela orientação dos suinocultores para as negociações. Além de revisão das planilhas de custos, os produtores receberam suporte na estruturação de argumentos que fundamentavam o reajuste exigido. “Nós discutimos quais aspectos econômicos justificavam suas reivindicações, o que chamamos de fatores estruturais e conjunturais. Por exemplo, a necessidade de remuneração de todos os fatores de produção, como depreciação e remuneração da terra e a inflação acumulada nos últimos anos. Ainda, enfatizamos que a negociação não poderia ficar centrada no momento atual de pandemia, mas na preservação da atividade a longo prazo”, ressalta Albers.
Atuação da Cadec
As demandas dos suinocultores integrados de Carambeí ganharam força, principalmente, pela consolidação da Cadec na região. Desde 2016, quando a Lei da Integração (Lei 13.288/2016) foi instituída, o relacionamento com a agroindústria se tornou mais equivalente e as negociações têm trazido
resultados satisfatórios.
“A Lei da Integração veio em socorro dos produtores. Nós, integrados de Carambeí, antes dessa lei, chegamos a ficar seis anos sem reajuste algum no valor do leitão. No ano seguinte após a formação da Cadec, já conseguimos um reajuste na primeira reunião. A Cadec tem sido uma rede de apoio e
de organização muito importante para os produtores”, aponta Choaire, coordenador da Cadec de Carambeí.
Com o último reajuste, o preço pago pelo leitão saltou de R$ 196,10 para R$ 205,90. A partir de novembro, ficará estabelecido em R$ 211,80. Segundo Choaire, descontando os custos de produção, o suinocultor integrado tem lucro de 17% do valor do suíno. Além do pedido de reajuste, os suinocultores apresentaram demandas em relação ao fornecimento de ração e medicamentos, que também foram atendidas. “Apesar da pandemia, nós conseguimos um reajuste melhor que do ano passado. Isso também mostra a importância de estarmos preparados e conhecermos os números da atividade. Foi uma grande vitória e os produtores estão bem contentes. A empresa também já nos olha como parceiros. Foi um resultado satisfatório e equilibrado para os dois lados”, afirma.
Cenário estadual
Na suinocultura, das 11 agroindústrias no Paraná, seis já contam com Cadecs consolidadas. Representantes do Sistema FAEP/SENAR-PR prestam assessorias técnica e jurídica para a organização e fortalecimento dessas estruturas em todas as regiões do Estado. Ainda, o SENAR-PR possui um plano de capacitação voltado para os membros de comissões, que inclui os módulos “Noções Jurídicas Aplicadas aos Contratos de Integração”, “Técnicas de Organização e Condução de Reuniões”, “Técnicas de Negociação” e “Custos de Produção”.
“A FAEP tem fomentado esse apoio técnico, jurídico e econômico para as Cadecs, o que se constituiu como um suporte fundamental nesse momento de negociações. Além disso, temos os cursos específicos que também preparam o produtor para as reuniões. Todo esse subsídio está trazendo bons frutos, pois a agroindústria já entende que esse diálogo precisa ser de uma forma paritária para se chegar a bons resultados”, afirma a técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR Nicolle Wilsek, que acompanha a cadeia da suinocultura.
Leia mais notícias sobre a agropecuária do Paraná no Boletim Informativo.
Comentar