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Araucária em risco

“Tentamos salvar pelo coração, com as homenagens, como símbolo do Paraná, etc. Não deu. Tentamos salvar pela caneta, com punições duras. Não deu. A saída agora é salvar pelo bolso”, Flávio Zanette, professor da UFPR

Pinhão assado, cozido, sapecado. Sopa de pinhão, paçoca, ou farofa de pinhão. Aproveite para comer tudo isso enquanto você ainda pode, pois o fruto da araucária pode se tornar iguaria rara em um horizonte próximo.

Não se trata aqui de histeria ecológica, nem de alarmismo vazio. A araucária está numa encruzilhada preocupante, onde a falta de renovação da espécie pode comprometer o futuro da árvore-símbolo do Paraná.

Em uma viagem recente pelas regiões de Irati e da Lapa – onde existe grande concentração destas árvores – o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Flávio Zanette, um dos maiores pesquisadores da araucária do Brasil, fez uma triste constatação. “Não pude enxergar mais do que 20 araucárias com menos de 30 anos de idade”, afirmou. A percepção traz um diagnóstico preocupante: “Que futuro tem uma espécie que há 30 anos não tem um filho novo?”, pergunta.

O envelhecimento sem renovação é um mal silencioso, que causa uma falsa sensação de tranquilidade. Quando olhamos árvores frondosas, altas, com a copa no formato de um candelabro, logo concluímos que a espécie vai bem. Essa sensação é tão ilusória, que muitos de nós nem ao mesmo sabemos qual é a aparência de um pinheiro jovem. Hoje, segundo o professor Zanette, há muito mais mortes do que nascimentos de araucárias. Neste ritmo, ele calcula que em 15 anos (se não houver nenhuma intervenção) teremos muito pouco pinhão.

Os efeitos desse envelhecimento sem renovação já começam a surgir nos gráficos econômicos. Segundo levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), entre os anos de 2012 e 2013 houve um declínio de 35% na produção de pinhão no Estado. Segundo a autora do material, a engenheira florestal Rosiane Dorneles, do Instituto Florestas, sem renovação da população de araucárias, a tendência é que a produção caia ainda mais. Para ela, a fórmula para reverter esta situação passa por uma mudança na atual legislação, que é focada na punição. “Tem que haver uma mudança na legislação ambiental, que engessa a cultura, é muito restritiva e assim impede a regeneração”, afirma.

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