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Um novo trigo transgênico em gestação

Projeto almeja melhorar a eficiência da fotossíntese – a conversão da energia do sol e do dióxido de carbono da atmosfera em biomassa

Pesquisadores do Reino Unido querem fazer testes com uma cultura de trigo geneticamente modificada para aumentar a eficiência da luz solar sobre o desenvolvimento do grão. Se as autoridades reguladoras aprovarem os testes, o trigo transgênico será plantado no segundo trimestre de 2017, em lotes que cobrirão 96 metros quadrados na Rothamsted Research em Hertfordshire, juntamente com trigo convencional e da mesma variedade (cadenza), a título de controle.

Quando a cultura for colhida, no fim do terceiro trimestre do ano que vem, os pesquisadores vão descobrir se as modificações genéticas de fato aumentarão o rendimento no campo da mesma maneira que nos testes conduzidos em estufa. “Na estufa tivemos aumentos de 20% a 40% no rendimento”, afirma Christine Raines da Universidade de Essex, principal pesquisadora do projeto. “Não esperamos um aumento tão grande no campo, mas até mesmo uma pequena melhora seria importante o rendimento do trigo atingiu um patamar no mundo”, observa ela.

O projeto almeja melhorar a eficiência da fotossíntese – a conversão da energia do sol e do dióxido de carbono da atmosfera em biomassa. As plantas geneticamente modificadas possuem cópias extras de um gene que produz uma enzima chamada SBPase, com papel importante na fotossíntese.

Nenhuma variedade transgênica de trigo é produzida comercialmente no mundo. As principais culturas geneticamente modificadas são milho, soja, algodão e canola, com resistência a pragas ou tolerância a herbicidas, de forma que os agricultores possam pulverizar seus campos com agrotóxicos sem ameaçar as culturas.

Mas cientistas desenvolveram várias cepas experimentais de trigo transgênico. A Rothamsted Research espera que a nova variedade funcione melhor que os testes de campo que foram realizadas com a versão transgênica do “trigo cheiroso”, modificado para repelir pulgões. Funcionou bem em estufa, mas em testes de campo ele não conseguiu mostrar nenhuma proteção maior que a normalmente oferecida pelo trigo convencional.

“A experiência com os pulgões foi completamente diferente da que estamos fazendo com o aumento da eficiência fotossintética”. “Mas o resultado negativo mostrou o quanto é importante realizar testes de campo para confirmar os estudos em laboratório”, diz Malcolm Hawkesford, diretor de biologia vegetal e ciência de culturas da Rothamsted

Mesmo que o projeto da fotossíntese seja bem-sucedido, serão necessários vários anos para o início da comercialização da tecnologia em colaboração com as companhias de sementes. O trabalho tem financiamento público via uma concessão de 696 mil libras do Conselho de Pesquisas de Biotecnologia e Ciências Biológicas, além de US$ 294 mil do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Entre os outros parceiros estão as Universidades de Lancaster e de Illinois. Os financiadores do setor público e os parceiros acadêmicos não pretendem patentear o trabalho, segundo o professor Raines.

A Rothamsted está realizando outro teste de campo de transgênico envolvendo a camelina, uma semente oleaginosa, visando produzir em suas sementes óleos de origem marinha, benéficos à saúde. Eles servirão de alimento para o salmão e outros peixes produzidos em cativeiro, em vez dos óleos de peixes e das rações consumidas hoje em dia, que são insustentáveis. “Acho que o cenário é encorajador”, diz Hawkesford.

Fonte: Valor Economico

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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