Já imaginou uma lavoura de trigo coberta de flores? Isso pode acontecer quando se trata de um trigo diferente, que só tem em comum com o trigo tradicional o nome. Trata-se do trigo mourisco, ou trigo sarraceno (Fagopyrum esculentum), uma planta herbácea de ciclo curto muito comum em países como Rússia, Polônia e Ucrânia e que vem ganhando força no Paraná.
Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), a área destinada a esta espécie ainda é tímida, mas crescente. Em 2013 foram cultivados míseros 66 hectares da planta, que renderam uma produção de 150 toneladas do grão. No ano seguinte a área cultivada foi de 1.282 ha e a produção de 1.877 ton. Em 2015 (último dado disponível) foram plantados 1.793 ha, que proporcionaram uma produção de 2.640 ton, avaliada em cerca de R$ 2 milhões.
As áreas destinadas a essa cultura se concentram na região Oeste do Paraná. Em 2014 e 2015 Cascavel respondeu pela maior área cultivada 350 ha e 600 ha, respectivamente. Outras cidades da região, como Céu Azul e Ibema, também se destacam no plantio do grão.
Talvez um dos apelos mais interessantes do ponto de vista comercial para o trigo mourisco seja a saúde. O grão é rico em ferro, e possui quantidade de proteína maior do que a encontrada no arroz, no trigo convencional ou no milho. Além disso, ele não possui glúten, o que o torna uma opção interessante para produção de pães e massas para pessoas que têm intolerância a esta substância. Os grãos, feno ou silagem da planta possuem o mesmo valor nutritivo das gramíneas, de modo que também podem ser usados na alimentação animal.
Outra vantagem da planta está nos benefícios para o solo, quando utilizada na rotação de culturas. Além de ser uma espécie altamente tolerante à acidez, ela tem grande capacidade de utilização de sais de fósforo e potássio pouco solúveis no solo e também é eficiente no controle de plantas daninhas.
Foi essa característica da cultura que levou o produtor Franco Sonda, de Cascavel, a aderir ao trigo mourisco. Há quatro anos na atividade, ele observa diversas vantagens quando associa a cultura ao milho e à soja de verão “É um bom solubilizador de fósforo”, afirma.
Planta rústica e de ciclo curto (menor que 90 dias), muitos produtores como Sonda costumam encaixar seu plantio entre a colheita da safra de verão, de soja ou milho, e antes da safra de inverno. O clima pode atrapalhar um pouco o manejo dependendo da região do Estado, uma vez que a planta não tolera frios extremos. Segundo informe de julho do Deral/Seab “A cultura do trigo mourisco, que este ano teve aproximadamente 2.400 ha plantados no núcleo, sofreu severamente com adversidades climáticas – estiagem em abril, geada na sequência e chuva na colheita, resultando numa média de colheita de 650 kg/ha, contra ao estimado inicialmente de 1500kg/ha”.
Na lavoura de Sonda, foram destinados neste ano 520 ha para essa cultura, mais do que o dobro cultivado no ano passado, 250 ha. “Mas esse ano foi bem frustrante, perdeu muito com ataque de lagarta, geada e excesso de chuva no início do plantio”, avalia. Com isso a produtividade média que era de 25 sacas por hectare caiu para 12 sacas/ha este ano.
Apesar de o desempenho ter ficado aquém das expectativas em 2016, o produtor não pensa em deixar a atividade. “Foi algo circunstancial, em vez de deixar a terra parada, é uma alternativa interessante”, diz Sonda, que utiliza a mesma semeadora de trigo e a mesma colheitadeira de soja para manejar a cultura.
Toda produção de trigo mourisco do produtor é encaminhada à Protecta, empresa localizada em Ponta Grossa que fornece todo o pacote tecnológico para o cultivo (sementes e insumos) e garante a compra do produto após a colheita.
Segundo o responsável pelo fomento do trigo mourisco na Protecta, João Schmidt Jr., o principal mercado para este produto são países da Europa e da Ásia. “Não é muito difundido no Brasil”, avalia. Atuando na exportação desde 2008, ele observa que a demanda internacional é constante, mas não crescente. “Nos últimos anos conseguimos ampliar o mercado conquistando mercados que eram de outros fornecedores”, diz.
Esta ampliação está ligada ao aumento da área ocupada pelo grão nos últimos tempos. Além do Paraná, a Protecta fomenta o plantio de trigo mourisco em Goiás. Neste ano, como o evento climático La Niña trouxe seca para o Estado goiano, não houve plantio por lá.
Schmidt não abre os dados sobre volume exportado de trigo mourisco, mas conta que atualmente a empresa está em busca das certificações necessárias para a instalação de uma fábrica de farinha para processar parte da produção. Ele faz uma ressalva de que é preciso distinguir o mercado do trigo mourisco do mercado do trigo comum. “Não é o mesmo mercado, não pode misturar”, observa.
Separe os nomes. Deixem de chamar o grão sarraceno de trigo pois que não é trigo e passem a nomear como grão sarraceno. Chamar de trigo leva a confusão e afasta o público que não pode consumir glúten. Também podem colocar um subtítulo nas embalagens identificando como o verdadeiro grão de kibe. Quando eu era criança era comum achar grão sarraceno descrito como trigo de kibe mas, após alguns anos, substituiram por trigo quebrado e e o kibe feito com trigo tem sabor bem inferior.
Boa tarde Marta, tudo bem?
Primeiro, obrigado pela sua mensagem.
Sobre o questionamento, acataremos sua sugestão de referenciar sempre as duas nomenclaturas, de trigo mourisco e grão sarraceno, até porque, ambas são denominações utilizadas oficialmente no padrão oficial de classificação do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Pode verificar que nas matérias vinculadas em nosso site já temos o cuidado de informar que trata-se de um grão sem glúten, sendo, inclusive, um dos principais diferenciais (https://www.sistemafaep.org.br/trigo-mourisco-sem-gluten-com-mercado/).
Infelizmente, não é possível dissociar totalmente do termo trigo, pois hoje, o nicho de mercado do sarraceno produzido no Brasil é a exportação, e a Nomenclatura Comum do Mercosul usada para especificar o produto é, justamente, trigo mourisco (NCM 10081090).
Ainda falando sobre a demanda para exportação, em inglês, o sarraceno é chamado “buckwheat”, e “wheat” é trigo.
Como o foco principal dos nossos materiais informativos é o produtor rural, é preciso orientá-lo sobre estas nomenclaturas de mercado.
Consideramos interessante seu comentário o trigo para quibe comercializado, e sugerimos que, como consumidora, notifique ao Ministério da Agricultura e Pecuária, responsável por regulamentar a embalagem e rotulagem de produtos agropecuários, sobre a necessidade de identificar corretamente a matéria-prima do trigo para kibe.
No mais, seguimos à disposição.
Qual o nome do agricultor que passou a informação: “Mas esse ano foi bem frustrante, perdeu muito com ataque de lagarta, geada e excesso de chuva no início do plantio”, avalia. Com isso a produtividade média que era de 25 sacas por hectare caiu para 12 sacas/ha este ano”.
Olá, Maiara! Tudo bem?
É fala do produtor Franco Sonda, de Cascavel/PR. Não temos mais o contato dele.
Agradecemos seu contato e estamos à disposição!