O primeiro mês de 2015 não foi muito animador para os principais produtos agrícolas negociados pelo Brasil no exterior e referenciados nas bolsas americanas. À exceção do preço médio do açúcar demerara, que subiu ligeiramente ante dezembro de 2014, as cotações das demais commodities recuaram – no caso do trigo, despencaram.
Os contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente, os de maior liquidez) do cereal, que vinham em movimento de recuperação desde setembro do ano passado na bolsa de Chicago, acumularam baixa de 10,16% até ontem, em relação ao mês anterior, para a média de US$ 5,4964 por bushel, indicam cálculos do Valor Data. Em relação a janeiro de 2014, a queda é de 5,25%.
A expectativa de elevada oferta global de trigo, fruto da redução do consumo, tem pesado sobre os preços. Com a valorização do dólar, ocereal dos EUA também ficou menos competitivo, o que diminuiu o apetite dos estrangeiros pela compra do produto.
Os fundos especulativos refletiram o pessimismo com o trigo. Relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na siglaem inglês) apontou que os gestores de recursos – “managed money” – encerraram a semana de 20 de janeiro com um saldo líquido vendido (que indica aposta na baixa) de 2.462 contratos (entre futuros e opções) de trigo brando, ante uma posição líquida comprada de 9.430 contratos na semana anterior. No caso do trigo duro, as apostas na valorização caíram 20% na mesma comparação, para um saldo líquido comprado de 15.860 contratos.
Ainda em Chicago, as cotações da soja e do milho voltaram a ceder, depois de terem reagido no fim de 2014. Os preços médios do milho recuaram 2,18% ante dezembro, e 8,59% sobre janeiro de 2014. No caso da soja, as baixas foram mais expressivas: de 2,86% e 21,81%, no mesmo intervalo.
As apostas na desvalorização da soja têm crescido em ritmo acelerado. A oleaginosa, que na primeira semana de 2015 contabilizou saldo líquido comprado de 42.603 contratos, passou a uma posição líquida vendida de 7.539 contratos na semana até o dia 20.
A produção recorde de soja em 2014/15 nos EUA deve ser seguida por uma safra abundante também no Brasil. A colheita brasileira está no início, e apesar das preocupações com o clima seco, as previsões continuam apontando uma produção histórica, entre 94 milhões e 96 milhões de toneladas. Há ainda temores com a demanda da China, emfunção de cancelamentos de compras dos EUA e margens de esmagamento negativas no país asiático.
O milho também enfrenta tensão com a demanda, o que fez os investidores reduzirem em 3,7% as apostas na alta do grão, para um saldo líquido de 197.018 contratos comprados na semana até 20 de janeiro. A forte queda do petróleo deixou o etanol pouco competitivo nos EUA – no país, o biocombustível é feito com o grão. Os estoques elevados, também reflexo de uma safra volumosa, e o início da colheita na América do Sul são fatores adicionais de pressão às cotações.
Na bolsa de Nova York, o café arábica foi protagonista da maior redução de preços médios no mês: 2,40%, ainda que em relação a janeiro de 2014 o grão apresente alta de 43,81%. A escassez de chuvas que castigao Sudeste do Brasil – e que foi responsável pela supervalorização do café no primeiro semestre de 2014 – não tem dado suporte às cotações nas últimas semanas.
Os fundos reduziram em 13,4% a crença na elevação do café na semana até o dia 20, para um saldo líquido de compra de 26.061 contratos. Mas as previsões de novas quedas na colheita brasileira neste ciclo 2015/16 mantêm abertas as portas para um repique de preços.
O açúcar demerara também está às voltas com os efeitos da seca no Brasil, e fechou janeiro com ganho marginal de 0,03% em Nova York, ante dezembro. Contribuiu para esse suporte o aumento da tributação da gasolina no Brasil, que tende a ampliar a atratividade do etanol e reduzir a produção de açúcar. Os elevados estoques globais ainda mantêm parte dos especuladores na defensiva, mas a sinalização é positiva: os fundos cortaram em 56,5% as apostas na baixa do açúcar na semana até o dia 20, para um saldo líquido vendido de 21.680 contratos.
Já o futuro de segunda posição do suco de laranja encerrou o mês compreço médio 1,69% menor, ante dezembro. Entretanto, houve redução na expectativa de desvalorização da bebida, em meio às projeções de queda na produção em São Paulo e na Flórida e aos contínuos recuos do consumo nos EUA. A posição líquida vendida caiu 46,8% na semana até odia 20, para 474 contratos.
Por outro lado, diminuiu a confiança dos investidores na alta do algodão.O saldo líquido passou de 3.558 contratos comprados, na semana até odia 13, para 7.331 contratos vendidos na semana seguinte. As indicações de elevada oferta mundial têm pesado sobre as cotações da fibra – opreço médio caiu 1,50% ante dezembro, e 29,57% em relação a janeiro de 2014.
O cacau, por sua vez, fechou o mês com baixa de 1,25%, em meio às recentes divulgações de queda na moagem global da amêndoa. Os fundos aumentaram as apostas na alta da commodity na semana passada, mas a fraca demanda industrial deve arrefecer essa confiança.
Fonte: Valor Econômico
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