Atraído aos poucos para as redes sociais, o meio rural do Brasil vence a timidez com opções que oferecem mais que a postagem de comentários e fotos ou a formação de listas de amigos. Os 40% conectados? numa estimativa otimista sobre a internet no campo ? parecem sair de vez do isolamento e ignorar distâncias em busca de diversão, contatos e, por mais estranho que pareça, atrás de informação de trabalho. E isso está virando negócio, inclusive para multinacionais.
Os primeiros passos das redes sociais direcionadas ao campo partem das próprias páginas de associações, sindicatos e empresas, que não se contentaram em manter contas no Facebook ou no Twitter. Essas novas redes começam em cadastros simples e chegam a algo muito parecido com as tradicionais. O Time Agro, da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por exemplo, é praticamente uma cópia do Facebook. Lançado numa campanha em defesa da imagem do agronegócio brasileiro em julho por ninguém menos que Pelé, tem 700 integrantes.
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Vacas suíças enviam SMS para avisar que estão no cio
Da Redação, com New York Times
Com a mudança na alimentação das vacas para potencializar a produção de leite ? com mais proteínas, minerais e vitaminas ?, muitos animais estão sofrendo com alterações no metabolismo. Para os pecuaristas, a questão se tornou um problema porque ficou mais difícil identificar quando a vaca está no período fértil e pronta para reproduzir.
Professores de uma universidade de Berna, na Suíça, criaram um dispositivo para tentar solucionar a questão. Um aparelho com sensor é colocado na vagina das vacas e mede o calor no corpo do animal. Caso a temperatura suba, indicando que a vaca está no cio, um SMS é disparado para o celular do pecuarista.
Com o aumento da produtividade há uma queda na atividade reprodutiva?, diz Samuel Kohler, veterinário que faz parte do grupo que desenvolveu o aparelho. Acontece de, muitas vezes, perderemos o momento certo [da inseminação artificial], completa ele.
A Suíça é um dos países que estão na vanguarda da legislação de proteção animal. Até o momento, a questão não se tornou um problema. O grande impacto para os pecuaristas deve ser financeiro, já que reduz o risco de realizar uma inseminação num momento em que a vaca não está fértil.
Por esse número, parece que a interação não é a veia da conectividade no campo. Mas não é o que mostra um outro exemplo. O Digilab, um aplicativo lançado pela Basf, da área de tintas, agroquímicos, petróleo e gás, alcançou 3 mil usuários. O kit inclui uma lupa e um software ligado a bancos de dados (catálogos de doenças e plantas). Na prática, com uma foto de uma folha de soja aumentada em até 200 vezes, um produtor consegue saber, sem sair da fazenda, se a plantação está com ferrugem asiática.
A multinacional alemã avaliou que os 3 mil aplicativos eram só um começo. Segundo Maurício Russomanno, vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf no Brasil, esses dispositivos estão sendo usados por produtores e empresas que detêm 20 milhões de hectares, ?40% da área plantada do Brasil?, ressalta.
Estamos lançando uma nova versão e vamos chegar a 20 mil. A meta é atingir 100 mil nos próximos anos, se o aplicativo, que passará a ser pago, emplacar também fora do Brasil. No mesmo tablet ou smartphone, o agricultor pode baixar também um aplicativo que mostra notícias por setor (soja, milho, algodão…) e informações climáticas por cidade. Além disso, faz conta com técnicos para tirar dúvidas antes de tomar decisões. Para organizar essa rede de serviços e contatos, falta uma rede social, que está quase pronta e será lançada em 2013, disse Russomanno. O kit com a lupa e os aplicativos custarão R$ 3 mil no Brasil.
Não vamos criar mais um Facebook. Será uma comunidade fechada, com interesses em comum, sem perda de tempo, anunciou. A base da rede social e dos aplicativos será um portal, batizado de Porteira, que também ficará pronto no ano que vem, disse a gerente de Marketing Digital de Proteção de Cultivos da Basf, Frenda Shu. O portal vai vender também cursos pela internet, para produtores e técnicos.
A nova investida da Basf foi foco de atenção no Top Ciência, evento técnico e de premiação de pesquisas sobre agroquímicos realizado em Campinas (SP), na última semana. De repente, aplicativos e softwares ganharam estandes e viraram assunto em rodas de conversa que normalmente discutem o lançamento de novos agrotóxicos e a descoberta de novas moléculas.
O vice-presidente sênior da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Eduardo Leduc, disse que, a princípio, a empresa não pensa em lucrar com aplicativos e redes sociais. Segundo ele, a renda com aplicativos e cursos vai simplesmente ajudar a pagar custos. O que a empresa busca é se aproximar do mais do meio rural, apontou.
Qualidade da conexão ainda é obstáculo
Não falta interesse em redes sociais no campo, mas sim acesso à internet. As contas sobre os internautas do meio rural não fecham. De um lado, as estimativas otimistas consideram que os produtores não ficam só no campo, e que seus filhos estão instalando computadores, mesmo quando só podem acessar internet discada. Por essa perspectiva, perto de um terço da população teria contato com a internet. Mas não é bem assim.
Do outro lado, está a população que vive a 20, 30 ou mais de 50 quilômetros de qualquer estrutura urbana. Para quem não consegue nem carregar uma foto no Facebook, há motivos de sobra para duvidar da previsão do governo federal de que a internet sem fio terá alcance de até 50 quilômetros daqui a três anos.
Entre essas famílias, há produtores que cultivam perto de mil hectares, que dependem de informações e que são clientes em potencial de aplicativos e cursos on-line.
Há pelo menos 100 famílias nessa situação em Nova Santa Rosa, em Uruçuí (PI). A 50 quilômetros da zona urbana, a comunidade só acessa internet discada (por telefone fixo).
Filhos e netos dos primeiros agricultores que se instalaram em Nova Santa Rosa crescem ávidos por informação, mas, por enquanto, precisam esperar. Para carregar uma foto mais pesada não dá. Quando precisamos transmitir um arquivo que não carrega, vamos pra cidade?, relata Wilson Marcolin. Na escola, os dois filhos de Wilson e Geisa ? Brenda e Eduardo também ficam off line.
Já fizemos orçamento para saber quanto custaria internet via rádio, mas seriam R$ 200 por família?, conta Geisa. A ideia acabou sendo adiada. Há expectativa de que alguma operadora instale rede no local e ofereça internet sem fio.
O jornalista viajou a Campinas a convite da Basf.
Gazeta do Povo Online – Curitiba/PR – TECNOLOGIA –
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