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Tecnologia promove desenvolvimento econômico na atividade rural

Dezenas de empresas e entidades estão aportando recursos para a digitalização da lavoura brasileira

A novidade agora é que multinacionais, tanto do agronegócio como da área de tecnologia, estão aportando recursos para a digitalização da lavoura brasileira. E, ao que alguns anúncios recentes levam a crer, 2017 será marcado como o ano em que a internet das coisas vai entrar, definitivamente, para a agenda de prioridades do setor.

Em dezembro do ano passado, a multinacional americana Monsanto anunciou a seleção de 100 produtores de soja e milho de Mato Grosso, Goiás e Bahia para testar uma plataforma que lê sensores espalhados na fazenda e em máquinas agrícolas e gera previsões sobre o aumento adequado de fazer a manutenção do trator ou iniciar um plantio, e que atualmente só está em uso nos Estados Unidos. Os dados começarão a ser analisados agora no primeiro semestre. Num estágio similar está a parceria da fabricante alemã de softwares SAP com a fabricante gaúcha de implementos agrícolas Stara num protótipo de trator equipado com sensores e interligado ao software de gestão de fazendas da SAP.

O objetivo? Monitorar indicadores, como o volume de fertilizantes despejado a cada semeadura, para encontrar o melhor custo-benefício do plantio. As recomendações aos donos das máquinas inteligentes deverão começar no primeiro trimestre deste ano. Em algumas das iniciativas da internet das coisas que devem despontar nas lavouras brasileiras em 2017, o setor privado uniu esforços com a pioneira Embrapa.

Ainda no começo do ano deverão entrar em operação, em lavouras de soja do Paraná e de frutas em Pernambuco, os drones de baixo custo desenvolvidos pela fabricante americana Qualcomm em parceria com a Embrapa de São Carlos, num investimento de R$ 2 milhões. A empresa pública deve inaugurar em abril uma fazenda de 90 hectares em Jaguariúna, no interior paulista, um laboratório de testes de sensores para a agricultura que já despertou o interesse de grandes empresas de tecnologia, como a Samsung.

O verdadeiro corre-corre pela digitalização do campo já abriu espaço até para novos cursos na área: a partir de março, os jovens de Pompéia, no interior de São Paulo, poderão aprender gratuitamente técnicas de internet das coisas para o agronegócio num curso patrocinado pela multinacional americana Intel em parceria com a fabricante de máquinas agrícolas Jacto, sediada lá.

É a primeira iniciativa desse tipo da Intel no agronegócio no mundo. ‘O Brasil já tem os recursos naturais e a tecnologia está chegando’, diz Fábio Tagnin, diretor da Intel para internet das coisas na América Latina. ‘Vai faltar gente para operar tudo isso’. Muitas dessas tecnologias não focam apenas o aumento da produtividade das fazendas brasileiras. Elas estão sendo criadas para lidar com novos problemas impostos no agronegócio nacional.

Desde 2015, a consultoria finlandesa em engenharia Poeyry, que atende principalmente o setor de papel e celulose no Brasil, está desenvolvendo uma tecnologia de digitalização de florestas de eucalipto e de pínus para acelerar a captura de dados com o objetivo de prever o impacto das mudanças climáticas nessas áreas.

Para acompanhar o ritmo de crescimento das florestas, a Poeyry, em parceria com a Klabin, tem colocado drones nas plantações da empresa para coletar imagens das árvores que são depois utilizadas na construção de modelos tridimensionais – como se fossem maquetes das plantações de eucalipto e pínus.

As informações captadas pelos drones são combinadas com dados como os de microclima, permitindo, assim, prever a evolução da floresta árvore por árvore. Esse tipo de coleta de dados pode ser feita diversas vezes ao ano – diferentemente do inventário florestal tradicional. Hoje, uma equipe de três pessoas consegue medir uma área de 400 metros quadrados num período de 1 hora e meia.

Com a tecnologia de digitalização será possível extrair as informações de uma área semelhante em minutos. ‘A expectativa é que, no prazo de um ano, essa tecnologia comece a ser adotada em larga escala no setor de papel e celulose’, afirma Jefferson Mendes, diretor de negócios florestais da Poeyry.

Apenas um entrave poderá comprometer a boa safra de projetos para digitalização do agronegócio no país: a falta de preparo do Estado brasileiro para lidar com novas tecnologias. Um exemplo disso são as regras para uso de drones, uma discussão que se arrasta há dois anos na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Por enquanto, a legislação existente, de 1999, autoriza apenas o voo para atividades recreativas ao redor de aeródromos. O uso para fins agrícolas precisa ser analisado caso a caso pela agência, criando uma burocracia sem fim para quem costuma gerar riqueza nos rincões do país – e bem longe do aparato estatal.

Existem também desafios tributários como o Fistel, fundo criado há duas décadas para arrecadar recursos para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mas que atualmente serve para reforçar o caixa da União (anualmente, o governo federal levanta 5 bilhões de reais via Fistel).

Uma tarifa de 5 reais é cobrada das operadoras de telefonia para cada dispositivo eletrônico conectado à internet, além de uma taxa de manutenção anual que beira 2 reais ao ano. Ou seja, o país impõe uma cobrança de 7 reais para sensores que são vendidos por 50 centavos de dólar. ‘O Brasil é o único lugar no mundo com uma cobrança dessas’, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.

Para o agronegócio tirar proveito de fato da internet das coisas, será necessário espalhar uma quantidade imensa de sensores em fazendas Brasil afora – o que torna a conta bem salgada. Apenas para conectar à internet os dispositivos de identificação bovina, os chamados brincos, em todo o rebanho do país custaria 1,2 bilhão de reais. Além disso, mais 400 milhões de reais seriam gastos por ano a título de manutenção da boiada conectada. A saída para o problema, porém, pode estar próxima.

Em fevereiro, começam os trabvalhos de uma comissão financiada por governo federal e BNDES para discutir uma política nacional para a internet das coisas, especialmente linhas de crédito e leis que facilitem sua implementação.

O debate vem em ótima hora. O agronegócio brasileiro – que em se provando um dos setores mais lucrativos e inovadores do país – não pode parar por barreiras digitais.

Fonte: Exame

Carlos Filho

Jornalista do Sistema FAEP/SENAR-PR. Desde 2010 trabalha na cobertura do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial). Atualmente integra a equipe de Comunicação do Sistema FAEP na produção da revista Boletim Informativo, programas de rádio, vídeos, atualização das redes sociais e demais demandas do setor.

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