Nem bem as portas do Sindicato Rural de Juranda se abrem, às 8 horas, os produtores rurais já começam a chegar. Buscam informações sobre cursos do SENAR-PR ou orientações diversas, desde auxílio para elaboração de contratos de compra e venda a ajuda na emissão de documentos. Em alguns momentos, chega a se formar uma pequena fila de espera. A demanda ressalta a importância da entidade sindical para o município de 7,3 mil habitantes, localizado no Noroeste do Paraná. Porém nem sempre foi assim. Dez anos atrás, o sindicato andava mal das pernas, mas deu a volta por cima apostando na ampliação dos serviços e da oferta de cursos – e com apoio do Programa de Sustentabilidade Sindical (PSS), criado e desenvolvido pelo Sistema FAEP/SENAR-PR.
O auge das dificuldades se deu no primeiro semestre de 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus. As medidas de restrições sanitárias provocaram o cancelamento de cursos presenciais do SENAR-PR em todo o Estado, atingindo uma importante fonte de renda do Sindicato de Juranda. Para manter-se em funcionamento, a diretoria chegou a pensar em vender o automóvel usado nos atendimentos externos. Antes de se desfazer do patrimônio, no entanto, pediu ajuda ao Sistema FAEP/SENAR-PR. Por meio do PSS, a entidade passou a receber consultoria, estabelecendo um planejamento para o ano. Foi aí que vieram as ideias que fizeram com que o sindicato se reinventasse.
Um grande cômodo que funcionava como almoxarifado foi transformado em sala de reuniões. As prateleiras e documentos que ocupavam o espaço foram transferidos para um canto na garagem. A sala desocupada foi equipada com uma mesa, com capacidade para reunir 20 pessoas. Com a mudança, o lugar passou a ser alugado para uma empresa da cidade, que usa, uma vez por semana, para ministrar cursos. “Com isso, nós geramos uma renda extra ao sindicato e não foi preciso vender o carro”, conta Maria Luiza Borgo, gestora do Sindicato Rural de Juranda.
Em outra frente, a entidade ampliou a prestação de serviços. O número de declarações de Imposto de Renda feitos pela entidade, por exemplo, saltou de 10 para mais de 380. A equipe também faz declaração de Imposto Territorial Rural (ITR); emite certidões de débitos ambientais; realiza inscrição em cadastros, como o Cadastro da Agricultura Familiar (CAF); e emite Guias de Transporte Animal (GTA). São mais de 20 serviços oferecidos – o que ajuda a explicar a fila de produtores que chega a se formar no sindicato. A entidade também tem convênio com um advogado, que presta consultoria aos associados, com preços especiais.
“O que não conseguimos resolver, entramos em contato com a FAEP na hora. Nós vamos atrás. Não deixamos o produtor sair daqui sem uma resposta”, reforça Maria Luiza. “O nosso dia a dia é bem corrido. Eu sou mobilizadora, mas acabo fazendo de tudo”, diz Gabrielly Borgo de Oliveira, que faz mobilização de cursos do SENAR-PR na entidade.
Um dos associados que não arreda pé do sindicato é o produtor rural José Ângelo Lourenço. Em sua propriedade de 96 hectares, ele cultiva grãos e mantém duas dezenas de cabeças de gado de corte. Em toda safra, precisa fazer contratos de compra e venda, para comercializar a produção. Sempre recorre aos serviços da entidade. “Eu tenho muita confiança no serviço das meninas. Elas explicam direitinho, fazem com todo cuidado. Nunca deu problema”, aponta o produtor.
Em outra via, o sindicato também ampliou a oferta de cursos. A entidade terminou 2022 com 58 turmas concluídas, o que corresponde a 100% dos cursos previstos do Planejamento Estratégico de Mobilização (PEM). Entre os títulos ofertados, estão desde capacitações ligadas à Agricultura de Precisão, passando por modalidades de inclusão digital, até outros ligados à lida no campo, como de tratorista e de colhedora. O sindicato oferta cursos em sua sede – que dispõe de um salão com capacidade para 80 pessoas – e também em localidades rurais e até no município vizinho Boa Esperança.
“Não tivemos cancelamento. E para 2023, continuamos com a mesma dinâmica”, diz Maria Luiza. “Todos os nossos cursos foram realizados com lotação máxima”, observa Gabrielly.
Mobilização
Tudo isso fez com que o sindicato ampliasse seu quadro de associados de 22 para 83 produtores. Além disso, desde o ano passado, a entidade conta com uma comissão de mulheres, com mais de 160 integrantes. A participação feminina é tanta que o sindicato mobilizou uma turma do curso “Liderança Rural” só com produtoras rurais.
Todo esse movimento tem ampliado a mobilização, trazendo mais agricultores para dentro do sindicato. Está havendo um engajamento maior.
Tereza Patek Roman, presidente do Sindicato Rural de Juranda
Essa onda positiva atraiu novas lideranças, como Lisandra Cristina de Melo. De família ligada ao campo, ela foi casada por 26 anos com um produtor rural. Após ter participado do Programa Mulher Atual, do SENAR-PR, Lisandra percebeu que poderia ser mais ativa e passou a frequentar o sindicato. Articulada, foi convidada a fazer parte da diretoria – hoje, ocupa o posto de tesoureira. Mas não parou por aí: ela continua se especializando. Já fez o Programa Empreendedor Rural (PER), os cursos Liderança Rural e Gestão Rural, e o workshop Agro Pro – Produtor Protagonista.
“Quando tem curso, eu estou no sindicato. A gente adquire conhecimento não só para o negócio, mas para a vida”, destaca Lisandra. “O nosso foco é desenvolver ações que vão trazer benefícios para as pessoas, para que elas venham fazer parte do sindicato. Tem sido um salto muito grande”, acrescenta.
O sindicato também prepara novas ações. A entidade acabou de transferir sua cozinha industrial – onde são realizados cursos do SENAR-PR – para um anexo menor. O espaço vago será reformado e transformado em um salão para festas, que poderá ser alugado. A diretoria também planeja o lançamento de um concurso gastronômico para eleger o prato típico do município. A ideia é promover um evento para a seleção da iguaria, reunindo os associados do sindicato.
“A intenção é fazer um grande jantar no final da colheita, como um dia de ação de graças pela safra. Queremos que isso se torne um evento anual, no calendário oficial do município”, vislumbra Maria Luiza.
Meta da entidade é seguir ampliando o quadro de associados
O Programa de Sustentabilidade Sindical (PSS) foi lançado em 2018, depois de a Reforma Trabalhista ter eliminado a contribuição sindical compulsória, que era uma das principais fontes de renda dos sindicatos. O objetivo do Sistema FAEP/SENAR-PR com o programa é estimular e criar instrumentais para que os sindicatos possam pensar em soluções e estratégias que garantam sua autonomia, inclusive financeira.
O PSS tem provocado mudanças significativas em todas as regiões do Estado. O programa tem fornecido ferramentas para que essa transformação ocorra. Tudo isso de forma personalizada: com os sindicatos pensando em ações de acordo com a realidade de sua região.
Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR
Uma das prioridades da instituição para 2023, o PSS tem 11 iniciativas previstas para este ano. Algumas delas já chegaram a ser realizadas, como o 1º Encontro Estadual de Gestores e Mobilizadores dos Sindicatos Rurais. A equipe de Juranda participou do evento e aprovou a programação. “Nós aprendemos muitas coisas, que já estamos adotando. Uma delas é vender os cursos do SENAR-PR como se fosse um produto, mesmo”, exemplifica Gabrielly.
Para a diretoria, o PSS foi determinante para a revolução que está em curso no Sindicato Rural de Juranda. Sem o planejamento estratégico e a consultoria, a equipe não teria tomado as iniciativas que têm feito a diferença. “É por meio do PSS que temos feito a diferença”, resume a presidente Tereza Patek Roman. “Eu até prefiro que não tenha, mesmo, contribuição sindical obrigatória. Isso fez a gente olhar além e pensar em soluções. O PSS fez a gente dar a volta por cima”, acrescenta Maria Luiza.
Diante desse movimento, um dos próximos passos do sindicato é ampliar o número de associados. Hoje, são 83 associados. A intenção é sensibilizar os produtores da importância do fortalecimento do sistema sindical e dos inúmeros benefícios que a família rural tem ao aderir à entidade. “Estamos de portas abertas para receber os produtores. Espero que eles nos procurem cada vez mais, porque juntos somos mais fortes”, define Maria Luiza.
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