Produtores rurais de Santa Maria do Oeste e da comunidade do Rio Tigre, na região Central do Paraná, estão caminhando para estruturar uma cadeia produtiva do alho. Nos dias 5 e 6 de abril, duas turmas foram capacitadas pelo SENAR-PR em um curso voltado ao plantio e cultivo da hortaliça. O treinamento, que não faz parte do catálogo da entidade, foi desenvolvido de forma personalizada a pedido do Sindicato Rural de Pitanga, em resposta à uma demanda dos próprios produtores, que desejam se especializar na cultura.
“Além das centenas de capacitações oferecidas pelo SENAR-PR no seu portfólio, a instituição também está à disposição para elaborar atendimentos personalizados. Isso permite que a nossa atuação seja ainda mais abrangente e inclusiva, incentivando a diversidade e a organização das cadeias produtivas”, destacou Débora Grimm, diretora técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR.
A capacitação de oito horas-aula foi formatada pelo pesquisador em fertilidade do solo e nutrição de plantas na Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Leandro Hahn. Os catarinenses são medalha de bronze em produção de alho no país, com 19,1 mil toneladas colhidas na safra 2021/22.
“Procurei passar o que fazemos em Santa Catarina em termos de técnicas de cultivo, que vão desde preparo da área, escolha e preparo da semente, adubação, nutrição, controle de pragas e doenças, até a parte de colheita e armazenagem para a comercialização”, afirmou Hahn, que foi o instrutor do curso.
Organização do setor
Na avaliação de Hahn, uma saída para a consolidação da produção de alho na região Santa Maria do Oeste seria a organização da cadeia produtiva em associações ou cooperativas. “Nessas condições, é possível investir em uma central para o beneficiamento, maquinários maiores e mais modernos, enfim, toda uma estrutura mais profissional”, diz.
“A organização dos produtores rurais, principalmente dos pequenos, aumenta a escala da produção e as opções de mercado para comercialização, além de agregar valor por meio do beneficiamento dos produtos. Esse conjunto de fatores incrementa as chances de retornos mais lucrativos e sustentáveis”, elenca Vanessa Reinhart, técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Características
Na capacitação foi abordado o cultivo do alho roxo nobre, variedade com sabor marcante que possui alto valor comercial e, consequentemente, é a mais popular nos supermercados. Segundo o especialista, mesmo sendo uma planta comum, o alho é uma cultura com particularidades, que exige detalhes em todas as etapas do cultivo.
“É fundamental que seja um clima de região de altitude, mais frio, pois o alho é uma cultura de inverno. O ideal é em torno de 900 metros, similar à nossa região produtora em Santa Catarina. Também tem potencial uma região que seja majoritariamente plana, que favorece a mecanização, com uso de enxada rotativa para formação de canteiros. Solo declivoso, com pedras, dificulta”, explica Hahn.
O município de Santa Maria do Oeste apresenta altitude de aproximadamente 1 mil metros e clima subtropical úmido, o que, na avaliação do instrutor, é excelente para o cultivo do alho. O clima frio, preferencialmente com temperaturas entre 0°C e 15°C, é o que estimula a formação dos bulbos da planta. Ainda, é necessária alta incidência de luz solar – o alho roxo nobre precisa de mais de 13 horas de iluminação por dia. O solo ideal deve ser rico em matéria orgânica e ter boa drenagem de água, sendo preciso irrigação frequente nos primeiros estágios de cultivo.
“O alho é uma cultura irrigada, então o produtor tem que investir em um sistema para começar, seja por aspersão, pivô central. O custo de produção do alho é muito alto, então o manejo adequado da irrigação é um fator determinante para uma boa produção e conservação dos bulbos após a colheita”, afirma o instrutor.
Custo de produção
Hoje, o custo de produção de um hectare de alho gira em torno de R$ 100 mil, considerando adubos, sementes e energia elétrica para irrigação, além dos gastos com serviços de preparo do solo, tratamento de sementes, aplicação de defensivos, entre outros.
Segundo Hahn, o valor agregado é significativo, desde que a lavoura tenha boa produtividade. Na Ceasa-PR, o quilo de alho varia entre R$ 15 e R$ 20. “No mínimo 10 toneladas por hectare. Abaixo disso é inviável”, recomenda. Outro ponto a ser considerado são os produtos utilizados, especialmente herbicidas específicos para a cultura do alho. “O agricultor precisa comprar esses produtos previamente para fazer o manejo, bem como o controle de pragas. Não adianta utilizar produtos de outras culturas”, adverte Hahn.
Dois aspectos oneram o custo de produção do alho: valor da semente (bulbilho) e mão de obra. O quilo da semente de alho roxo nobre pode custar, em média, até R$65. Em um levantamento realizado pela Embrapa, concluiu-se que, em um hectare, são necessárias, pelo menos, 175 toneladas de semente para atingir uma produtividade de 15 toneladas de alho.
Já o alto custo com mão de obra está relacionado com as particularidades da cultura. “A condução da lavoura é feita com maquinário, mas muitas etapas são manuais, como preparo da semente, plantio, colheita, corte, toalete. Ainda que existam máquinas, o produtor que está começando dificilmente vai comprar uma máquina de R$ 200 mil”, aponta.
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