A safra 2018/2019 de soja do Paraná deve ter uma quebra de 12% em seu potencial produtivo, chegando a 16,8 milhões de toneladas. A revisão de estimativa de produção foi divulgada nesta quinta-feira (24), pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab). No início do ciclo, a perspectiva era de que a produção chegasse a 19,1 milhões de toneladas. Levando-se em conta os preços de mercado, o prejuízo aos produtores deve girar em torno dos R$ 3 bilhões.
Esta é a primeira quebra após sete safras consideradas boas pela Seab. O mau desempenho está diretamente relacionado a condições climatológicas desfavoráveis – principalmente às altas temperaturas e à estiagem, principalmente após a segunda quinzena de dezembro, fase de enchimento dos grãos. A falta de chuvas também deve provocar reflexos negativos em outros estados produtores, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Tocantins.
Segundo o Deral, as regiões mais afetadas até agora foram Oeste, Sudoeste e Noroeste do Paraná. Segundo a coordenadora agrícola do Departamento Técnico Econômico do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ana Paula Kowalski, a produtividade nessas regiões gira em torno de 2 mil quilos por hectare – bem abaixo do registrado em situações consideradas normais. No ano passado, por exemplo, a média fechou e 3,5 mil quilos por hectare.
“A preocupação maior ocorre porque a safra de soja é a principal, o resultado dela é quem paga a maior parte das dívidas e gera a maior rentabilidade aos produtores”, observou Ana Paula.
Em Toledo (Oeste), a estimativa de safra sofreu redução de 39%. Em Umuarama (Noroeste), a quebra esperada é de 25%. Outros municípios que devem ter perdas significativas são Campo Mourão (Noroeste), com redução de 23%, Francisco Beltrão (Sudoeste), com retração de 22%, Paranavaí (Noroeste), com 22% e Cascavel (Oeste) com 14%.
Por causa da estiagem, muitos produtores anteciparam a colheita e, segundo o Deral, 15% da área plantada (o equivalente a 5,4 milhões de hectares). A produtividade caiu de 3.523 mil quilos por hectares colhidos na safra passada, para 3.108 quilos por hectare no ciclo atual – o que também representa uma queda de 12%.
Atuação
Ao longo deste mês, a FAEP havia recebido informações sobre a provável quebra da safra de grãos e se antecipou ao problema. Na última terça-feira (22), o presidente da Federação, Ágide Meneguette, enviou um ofício ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), solicitando a articulação do órgão federal junto a instituições financeiras, para prorrogar o pagamento de financiamentos agrícolas feitos pelos produtores. A possibilidade está prevista no Manual do Crédito Rural – MCR 2-69.
“Queremos evitar que os produtores fiquem inadimplentes e impedidos de operar no sistema de crédito, o que desencadearia danos aos demais cultivos da safra em curso”, afirmou Meneguette.
Ana Paula Kowalski prevê que os produtores que fizeram financiamentos para investimentos nas propriedades nos últimos anos serão os que vão ter maior dificuldade em honrar seus compromissos com os resultados ruins nas lavouras. “O custeio ainda há formas de reverter, como por meio do seguro rural e do Proagro. Mas o investimento é mais complicado. Isso tem um efeito imediato, pois afeta diretamente a capacidade de investimento dele para a safrinha de milho”, prevê.
Sobre o pedido da FAEP de prorrogação do crédito, a técnica explica que essa é uma prática prevista no manual de crédito rural, mas que o volume de pedidos que devem ser feitos é o que causa preocupação. “O produtor pode negociar com o seu banco as parcelas já assumidas. Mas o que nós pedimos ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é para que seja facilitado esse processo, que venha algo do ministério fornecendo uma orientação que sirva a todos os produtores para que eles não precisem pedir isso individualmente em cada instituição financeira”, detalha.
Feijão 1ª safra
Segundo o Deral, a quebra na safra de feijão 1ª safra deve chegar a 21%, com a produção ficando em torno de 260,1 mil toneladas. Segundo o governo, a estimativa é de que os prejuízos cheguem à R$ 171 milhões. A região mais afetada foi a de Curitiba, com redução de 30% na produção. Em seguida vem Ponta Grossa, Campos Gerais, com perdas de 14%.
O levantamento aponta que 80% da área plantada (162.306 hectares) já foi colhida e as perdas já estão provocando reflexos no mercado. De dezembro a janeiro, os preços do feijão de cor tiveram alta de 41% e do feijão preto, 26%.
Milho
O ponto positivo é que a produção de milho de primeira safra foi pouco afetada pelas condições climatológicas dos últimos meses – por causa, principalmente, da resistência das lavouras ao clima seco. A produção esperada pelo Deral para esse período do ano apontava para uma colheita de 3,3 milhões de toneladas, mas o início da colheita aponta que deverão ser colhidas 3,1 milhões de toneladas, uma redução de 200 mil toneladas de grãos em função do calor excessivo ocorrido também nos meses de novembro e dezembro.
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