Uma das contribuições mais significativas do Programa Paranaense de Apoio à AgroPesquisa e Formação Aplicada é sua capacidade de multiplicar e difundir o conhecimento. A iniciativa, realizada em parceria pelo Sistema FAEP/SENAR-PR e governo do Paraná, por meio da Fundação Araucária e da Secretaria da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (Seti), além de promover importantes estudos de monitoramento hidrossedimentológico em nível regional, também investe na formação e qualificação de profissionais e estudantes para dar suporte à adoção de práticas conservacionistas no Estado.
O objetivo é disponibilizar ao produtor rural paranaense um time de profissionais capacitados para orientá-lo na busca de um planejamento conservacionista para sua propriedade. Esse tipo de manejo envolve técnicas sustentáveis de produção, observando a vocação da cada área, a adoção de práticas para a conservação de solos, como terraceamento, curvas de nível, plantio direto na palha, além do tratamento correto do entorno de rios, nascentes e outros corpos d’água.
Segundo Graziela Barbosa, pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), é possível observar que parte dos produtores paranaenses tem negligenciado alguns cuidados com o solo, o que leva a autuação pelo órgão fiscalizador. “Quando existe qualquer problema ou processo erosivo, a Adapar [Agência de Defesa Agropecuária do Paraná] notifica o produtor rural. Para que ela possa corrigir a falha e proteger o solo vai precisar contratar um profissional para fazer o planejamento conservacionista daquela área”, explica.
O mesmo se aplica para aqueles que aderiram ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) e precisam adequar suas Áreas de Proteção Permanente (APPs) e de Reserva Legal (RL) à legislação. Essa é a etapa seguinte à realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Após o produtor assinar o Termo de Compromisso do órgão ambiental, que descreve as medidas que devem ser tomadas para adequar o imóvel rural às exigências do novo Código Florestal, caso seja necessário, o produtor precisa recompor Preparados para preservar Programa Paranaense de Apoio à AgroPesquisa e Formação Aplicada conta com time qualificado de profissionais para auxiliar produtores na elaboração de planejamento conservacionista na propriedade rural áreas de APP e Reserva Legal degradadas e/ou alteradas por meio de um projeto de recomposição. Neste momento os profissionais capacitados no âmbito do Programa Paranaense de Apoio à AgroPesquisa podem contribuir.
Foco na formação
Para capacitar estes profissionais, o Sistema FAEP/SENAR-PR disponibiliza, desde 2016, o curso “Manejo de solo e água em propriedades rurais e microbacias hidrográficas”, com módulos presencial e remoto. Com 300 horas de duração, a formação tem como objetivo elaborar um plano de conservação de solo e água para melhorar a capacidade produtiva do solo. Oferecido gratuitamente, o curso é voltado para engenheiros agrônomos, agrícolas ou florestais e técnicos agrícolas. Até o momento 432 profissionais já concluíram o treinamento.
De acordo com Graziela, para realizar esse tipo de planejamento é preciso conhecer as especificidades de cada área, uma vez que diversas variáveis devem ser consideradas. “Fazer plane jamento conservacionista não é receita de bolo. Solo, curvatura, culturas, regime de chuvas, tudo é diferente. Por isso é um trabalho individualizado para cada propriedade”, explica.
Em última instância, esse tipo de planejamento serve para proteger o maior patrimônio de qualquer produtor rural: o solo. Quando as práticas conservacionistas não são empregadas corretamente, a força da chuva pode levar embora a camada mais fértil do solo, além dos fertilizantes minerais aplicados na área, culminando em um processo erosivo muitas vezes difícil de ser revertido.
“Os terraços têm função de reter água. Mas muitos [produtores] tiraram os terraços para facilitar o manuseio das máquinas agrícolas e acreditavam que o plantio direto por si só protegesse o solo contra o processo erosivo. Mas na prática não está funcionando”, observa a pesquisadora.
Segundo ela, o produtor paranaense não vem executando corretamente a técnica do plantio direto. “Como o agricultor, em sua maioria, só planta soja e milho safrinha, que geram pouca palha, existe uma janela de 45 a 60 dias com a terra descoberta. Aí entra sol e chuvas e essa palhada começa a desaparecer, acabando com essa proteção”, ressalta.
Estiagem
Um bom manejo de solo, poderia ajudar os produtores paranaenses a superarem com mais facilidade esse período em que o Estado enfrenta uma das piores secas da história. “Se o produtor faz um bom planejamento, com plantio direto, terraceamento, rotação de culturas, num tempo de veranico, o solo aguenta entre três a quatro semanas a mais segurando a umidade, auxiliando o desenvolvimento das culturas”, explica a pesquisadora.
Quando o produtor não escolhe o manejo conservacionista, o outro caminho é dispendioso, demorado e pode não ter retorno. “Para recuperar uma área degradada não adianta colocar só adubo mineral, tem que fazer o solo voltar a vida, devolver a biodiversidade dele. Isso leva tempo”, analisa Graziela.
Esse trabalho de capacitação profissional vai ao encontro de outro desenvolvido por meio da Rede Paranaense de Agropesquisa: o levantamento de dados em nível de bacias hidrográficas. “Até então os trabalhos e estudos sobre a erosão eram feitos em parcelas menores. Nunca tinha sido feito um trabalho de quantificar a erosão em escala mais ampla. Nossas megaparcelas têm três, quatro hectares cada uma, onde são quantificadas as perdas de nutrientes e, mais importante, fazendo em escala de produtor. Ele colhe, planta, entra com as máquinas e a gente fica só monitorando, quantificando as perdas”, explica a pesquisadora.
Essa ação envolve também estudantes de graduação e pós-graduação, que têm a oportunidade de direcionar seus estudos para esse tema e receber bolsas de estudos via Fundação Araucária e Seti. Outras modalidades de capacitação incluem palestras, workshops, eventos científicos e dias de campo. “Toda essa iniciativa tem como objetivo a ampliação dos conhecimentos e a transferência desses resultados aos produtores rurais, que são os principais interessados em conservar os solos e água”, finaliza Graziela.
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