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Queda de preços dos grãos vai espremer as margens nos EUA

Apesar da tendência de queda das margens, o Rabobank prevê um aumento de 1,3% na área plantada de soja nos EUA, em detrimento do trigo

A atual curva de baixa das cotações internacionais dos grãos, definida sobretudo pela recomposição dos estoques globais nas safras passada (2013/14) e atual (2014/15), tende a derrubar as margens de lucro dos produtores americanos de milho e soja ao menor patamar em uma década na temporada 2015/16, conforme relatório recém-concluído pelo banco holandês Rabobank.

No cenário traçado pelos analistas da instituição nos Estados Unidos, a margem bruta de uma “fazenda-modelo” localizada no Meio-Oeste americano, com uma área de plantio hipoteticamente dividida em partes iguais entre milho e soja, será de US$ 49 por hectare neste ano. O número embute custos relativamente estáveis e inclui os resultados de uma parte pequena da comercialização da colheita do ciclo passado (2014/15), mas, a grosso modo, serve de termômetro para 2015/16.

Em 2014, mesmo sob pressão da tendência de queda das cotações de milho e soja a partir do fim do primeiro semestre, a margem dessa “fazenda-modelo” foi de quase US$ 500 por hectare. Em 2011, impulsionada por adversidades climáticas que afetaram a oferta global, chegou a quase US$ 1,2 mil (ver gráficos). Mas a realidade atualmente é diferente.

Além do peso da recomposição dos estoques globais, também as perspectivas para a produção americana em 2015/16 ajudam a manter as cotações de milho e soja pressionadas. Apesar da tendência de queda das margens, o Rabobank prevê um aumento de 1,3% na área plantada de soja nos EUA, em detrimento do trigo. Para o milho, o banco prevê leve retração na área, mas nada que não possa ser compensado por um bom padrão de produtividade.

As estimativas mais recentes do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) indicaram que a área de milho chegará a 36,02 milhões de hectares no país no novo ciclo, 1,8% menos que em 2014/15, e a de soja será de 33,79 milhões, uma ínfima queda de 200 mil hectares na comparação. Em 2014/15, as colheitas americanas de milho e soja bateram recorde – e, segundo analistas, se o clima ajudar poderão voltar a crescer mesmo se as quedas de área previstas pelo USDA se confirmarem.

Levando em conta o cenário que traçou para as áreas, o Rabobank projeta que, na bolsa de Chicago, os contratos futuros mais negociados do milho poderão recuar para uma média de US$ 3,4 por bushel neste ano, ao passo que os papéis mais negociados da soja tendem a descer ao patamar de US$ 8,9 por bushel. Ontem, os papéis mais negociados do milho (maio) fecharam a US$ 3,9025 por bushel (medida equivalente a 25,2 quilos), enquanto os da soja (maio) ficaram em US$ 9,8350.

Ainda que atualmente estejam sendo beneficiados pelo câmbio – diferentemente dos americanos, que têm no dólar forte um fator de perda de competitividade -, os produtores brasileiros de grãos também estão preocupados com uma possível redução de margens na safra 2015/16, que por aqui começará a ser semeada em setembro. O Rabobank estima que, em 2014/15, a margem de uma “fazenda-modelo” de Mato Grosso, maior Estado produtor de grãos do país, tenha diminuído 33% na comparação com 2013/14, para R$ 868 por hectare.

Rui Prado, presidente do Sistema Famato/Senar, que representa os produtores agropecuários de Mato Grosso, Estado que lidera a produção brasileira de grãos, lembra que o mesmo dólar que beneficia as vendas encarece o plantio, já que a maior parte da demanda brasileira por fertilizantes e defensivos é coberta por produtos importados.

Como já informou o Valor, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que faz parte do Sistema Famato/Senar, calcula que os custos de produção de soja baterão recorde em Mato Grosso 2015/16. Mas é cedo para projeções de margens, uma vez que a colheita de verão de soja do ciclo 2014/15 ainda está na reta final no Estado e não há notícias de vendas antecipadas da próxima safra, em boa medida em razão das oscilações do dólar.

Fonte: Valor Econômico

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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