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Quebra da safra causa prejuízo de R$ 2,2 bi ao Paraná

Estiagem reduz em 12% a expectativa de colheita de soja no Paraná e adia recorde. Produtores de milho perdem 100 mil toneladas

A seca e o calor de janeiro e fevereiro adiaram a safra recorde de soja no Paraná. O clima reduziu a colheita estadual da oleaginosa em 2 milhões de toneladas (12% da estimativa inicial de 16,5 milhões de toneladas), apontou ontem a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). No milho, foram perdidas 100 mil toneladas (2%, restando 5,5 milhões de toneladas). Com base nos preços atuais, perderam-se R$ 2,2 bilhões.

Caso a falta de umidade persista, a quebra pode chegar a 2,5 milhões de toneladas de soja, disseram os técnicos da Seab. A colheita aproxima-se da metade. As regiões Norte e Nordeste do estado foram as mais afetadas. Em Cornélio Procópio (Norte), o recuo é de 50%.

O produtor Édino Nóbrega, de Campina da Lagoa (Centro-Oeste), esperava colher 3,8 mil quilos por hectare de soja, mas confirma média de 2,6 mil, 40% a menos. Por pouco, a renda (R$ 2,7 mil por ha) não encosta nos custos de produção.

“No início de janeiro, as lavouras estavam de encher os olhos. Daí tivemos 50 dias de altíssima temperatura chegando a 70 graus no meio da lavoura. Essas perdas frustram a ideia de uma safra abundante”, disse o secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara.

A quebra terá reflexo na temporada 2014/15. A seca desclassificou cerca de 100 mil toneladas de sementes produzidas no Paraná. A Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) estima uma produção de 3 milhões de sacas de 50 quilos, o que obriga o estado a recorrer à inscrição de novas áreas ou disputar a produção de estados vizinhos. Há temor ainda de redução nos investimentos em tecnologia, o que pode gerar queda na produtividade.

As cooperativas reveem projetos industriais. Empresas do Norte e do Nordeste, regiões mais atingidas, aguardam a concretização dos resultados para confirmar investimentos. “Essas regiões terão movimentação menor e, automaticamente, impacto no faturamento da agropecuária. Os planos em execução continuam. Mas talvez haja uma postergação dos novos projetos”, afirma o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.

Inverno

Além da quebra de 100 mil toneladas, avaliada em R$ 42,5 milhões, o milho vai perder espaço nas lavouras de inverno por atravessar uma fase de preços apertados (R$ 21 por saca). O recuo ficará entre 10% e 12%, para 1,9 milhão de hectares, segundo a Seab. Parte deste terreno será ocupada pelo trigo, que deve ter sua área ampliada em 20% em relação à temporada passada – para 986 mil hectares.

Paraná pede reajuste de 25% no Plano Safra

Na mesma entrevista coletiva sobre quebra de safra, o Paraná entregou documento com 67 propostas para o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2014/15, o Plano Safra, aos representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O estado pede melhores condições de financiamento da produção.

Para os representantes paranaenses, o agronegócio brasileiro precisará de R$ 200 bilhões para custeio e investimento – R$ 170 bi para agricultura empresarial e R$ 30 bi para a familiar. Em 2013/14, foram R$ 136 bi e R$ 20 bi, respectivamente, com reajuste de 18%. Agora a expectativa é de orçamento 25% maior.

As reivindicações “são importantes para que o setor continue investindo e para que o negócio continue viável”, disse o secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara. Diretor do MDA, João Guadagnin disse que as propostas serão avaliadas, mas que nem todas serão aceitas. “Há um limite administrativo e fiscal.” A previsão é de que o Plano Safra seja anunciado no início de maio.

Análise

Giovani Ferreira, editor executivo de Agronegócio da Gazeta do Povo

Recuo puxa para baixo a expectativa sobre a produção nacional

Os efeitos colaterais da quebra climática na safra de grãos do Paraná vão muito além do impacto negativo para o agronegócio paranaense. Puxam para baixo a expectativa nacional de produção em 2013/14. Não mais no estado, mas no país o volume total de produção ainda será recorde. Deve ficar bem acima das 185 milhões de toneladas colhidas em 2012/13, mas abaixo das 200 milhões de t previstas.

Outra conquista que terá de esperar mais um pouco é a consolidação do Brasil como maior produtor mundial de soja. O gostinho de liderar o ranking, que era dado certo, durou pouco. Com as perdas, reforçada por Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, a safra da oleaginosa se esforça para superar 88 milhões de t, contra um potencial acima de 91 milhões de t. Assim, o festejado título de maior produtor mundial volta para os EUA, que em 2013/14 colheram 89,46 milhões de toneladas.

De qualquer forma, nem tudo está perdido. O ranking de maior exportador de soja ninguém mais tira do Brasil. Em 2013/14 o país deve exportar 45 milhões de t de soja em grão, contra 41,1 milhões de t dos norte-americanos.

Fonte: Gazeta do Povo – 26/02/2014

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