Por André Amorim
O ovo de codorna já foi cantado em verso e prosa como santo remédio para recuperar o vigor e a vitalidade dos homens que já adquiriram uma certa idade. Não se sabe se a receita funciona, mas a iguaria vem sendo cada vez mais incorporada na gastronomia brasileira e é encontrada na maioria dos restaurantes e bares do país.
Comercializada na forma de conservas ou em dúzias, a produção de ovos de codorna vem crescendo. De acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2014 (a mais recente até agora), naquele ano a produção brasileira foi de 392,73 milhões de dúzias, registrando um aumento de 14,7% em relação ao ano anterior. Naquele ano, o valor da produção total foi de R$ 312,22 milhões, um aumento de 11% sobre o apurado em 2013.
Esse não é um fenômeno pontual, a série histórica do instituto mostra um crescimento constante na produção dos ovinhos nos últimos dez anos. Se em 2005 produzíamos pouco mais de 100 milhões de dúzias, em 2014 esse montante já era quatro vezes maior. A produção dos animais acompanha o mesmo padrão. Em 2014, segundo o IBGE, as aves somavam 20,34 milhões de cabeças no país, um crescimento de 11,9% em relação ao ano anterior.
São Paulo é a “Meca” das codornas brasileiras. O Estado responde por 54,5% da produção nacional de aves e 59,3% da produção de ovos. Na sequência vêm o Espírito Santo e Minas Gerais, em ambas as categorias. A pesquisa trabalha apenas com a espécie Coturnix coturnix, conhecida como codorna comum. No Paraná a espécie que predomina é a Coturnix japonica, variante boa para a produção de ovos, mas de porte muito pequeno para produção de carne.
Em 2014, o Paraná contava com um plantel de 752.345 cabeças de codorna, a grande maioria concentrada na região Norte do Estado. Naquele ano a cidade de Apucarana contava com 260 mil cabeças e Arapongas com 234.600. Diferente de outros centros, por aqui as aves são destinadas quase que exclusivamente à produção de ovos. Em 2014 foram produzidas no Estado mais de 15 milhões de dúzias.
Parte dessa produção veio da granja de Jean de Faveri, em Santa Terezinha do Itaipu, na região Oeste do Estado. Desde 1994 na atividade, ele produz uma média de 8 mil ovos por dia, que industrializa e entrega diretamente nos supermercados e restaurantes da região. Ele conta que começou na coturnicultura (cultura da codorna) de maneira informal. “Comecei com 27 codornas que minha irmã comprou para usar os ovos pra fazer vitamina para os filhos, que tinham anemia”, conta.
Hoje, ele tem 10 mil animais em um barracão semiautomatizado, que lhe proporcionam uma produção de cerca de 180 vidros de ovos em conserva por dia. Cada vidro de 300 gramas da marca De Faveri leva entre 33 e 40 ovinhos e é vendido por R$ 6,00. A quebra, segundo ele, corresponde a 10% da produção.
Há quatro anos, o produtor também vendia a carne de codorna, mas deixou a atividade por conta do mercado consumidor reduzido na região e a rotina das inspeções sanitárias feitas antes e após a morte dos animais. “Era muito burocrático”, enfatiza.
“É melindrosa”, diz produtor
Em linhas gerais, a produção de codornas pode ser comparada à de frangos. São animais rústicos, com boa resistência a doenças, mas bastante sensíveis a temperaturas muito altas ou muito baixas. Também não lhes pode faltar comida nem água. São alojadas em conjuntos de gaiolas individuais de 20 x 15cm e 13cm de altura. “O manejo é mil vezes mais complicado que da galinha, não pode pegar vento nem entrar bicho na granja, senão aborta toda produção”, explica o produtor Edson Miyoshi, de Arapongas.“Ela é muito melindrosa”, completa.
Para fins comerciais, uma codorna tem vida útil de aproximadamente 12 meses. Nesse período, quando bem cuidada, ela pode botar até 300 ovos. Uma vantagem é a precocidade, aos 45 dias já está em idade reprodutiva. O consumo de ração por animal é, em média, de 25 gramas por dia.
Apesar de comerem pouco, foi o preço da ração que levou Miyoshi a reduzir a produção. “Hoje está entre 30% a 40% menor”, avalia. Segundo ele, o impacto no custo foi ocasionado pela recente alta nos preços do milho. Com uma capacidade para alojar 350 mil codornas, hoje ele trabalha com apenas 190 mil, que lhe proporcionam uma produção média de 180 caixas com 600 ovos (cada) por dia. Esse volume é entregue à indústria que processa e vende os alimentos com a marca de terceiros.
Há 19 anos na atividade, ele acredita que hoje o conhecimento para a criação de codornas já está dominado na região. Juntas, as cidades de Apucarana e Arapongas respondem por mais de 65% das codornas encontradas no Paraná. “Eu e o Horita começamos na produção no mesmo dia”, lembra Miyoshi ao referir-se ao produtor Márcio Horita, de Apucarana. Ambos encomendaram as primeiras aves em 1997 e a partir daí iniciaram a produção de ovos.
“Era uma época que esse setor estava em expansão, estava na moda criar codorna”, lembra Horita. Segundo ele, naquela época havia mais de 40 criadores no Vale do Ivaí. Hoje, só ele permanece na atividade.
Com foco na produção de ovos, atualmente Horita possui 300 mil animais que produzem uma média de 200 mil ovos por dia. Sua propriedade tem capacidade para alojar 400 mil aves, mas, como o vizinho de Arapongas, também pesa sobre ele o alto custo da ração. “É mais concentrada do que a ração para frango”, explica o produtor, que formula o alimento na sua propriedade.
Na sua opinião, a baixa competitividade da carne de codorna está no preço e na nossa cultura alimentar, que não assimilou tão bem a ave quanto seus ovos. “Um quilo de frango custa seis reais, o quilo de codorna é o dobro”, compara. Em sua propriedade estão instalados 18 galpões de produção, um galpão de cria e recria, uma fábrica de ração e um galpão para industrializar os ovos. Cerca de 90% de sua produção são direcionadas para indústrias e chega ao mercado com a marca de terceiros. O restante ele mesmo industrializa e leva a sua marca, a Quails.
O descarte das aves velhas é fiscalizado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). No caso de Miyoshi, elas são destinadas para compostagem, mas ele pretende em breve adquirir um incinerador para facilitar esta etapa.
No caso dos três produtores ouvidos para esta matéria, as matrizes vêm de Assis, em São Paulo. Apesar de nenhum deles atuar mais com a venda da carne das aves, existe alguma oferta no interior, que denotaria a existência de abates clandestinos.
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