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Preço da arroba do boi gordo atinge recorde na BM&FBovespa

O preço da arroba do boi gordo na BM&FBovespa atingiu um recorde nesta sexta-feira com influência das altas cotações no mercado físico brasileiro, diante da baixa oferta de gado pronto para o abate após seca histórica e de um problema estrutural do setor, segundo analistas.

“Tem pouca oferta de gado para ser abatido, isso puxa o mercado para cima, deixa a expectativa de novas altas”, afirmou o analista da Scot Consultoria Alex Lopes, referindo-se ao recorde de alta registrado na BM&FBovespa.

O contrato futuro novembro fechou um pouco abaixo da sua máxima histórica de 134,25 reais/arroba atingida durante a sessão. Ao final dos negócios o novembro encerrou a 133,61 reais.

No mercado físico, o preço da arroba do boi gordo superou pela primeira vez o patamar de 130 reais nesta semana, no mercado paulista.

O Indicador Esalq/BM&FBovespa, que avalia preços à vista, fechou a 130,22 reais na quinta-feira, alta de 0,48 por cento ante o dia anterior, maior valor nominal da história. Em termos reais (considerando correção da inflação pelo IGP-DI), o recorde da arroba bovina no Estado é de 134,91 reais, observado em novembro de 2010, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

O preço do boi gordo vem tendo sustentação desde o início do ano, depois que pastos foram afetados pela severa seca, prejudicando a engorda dos animais. No acumulado do ano, houve uma alta de 13,5 por cento do indicador.

Mas a seca apenas ressaltou um problema de oferta estrutural do setor.

“Na realidade, a gente vive um problema… porque a rentabilidade da bovinocultura ficou defasada em relação a outras atividades do agronegócio, tem um gargalo de oferta estrutural, principalmente na atividade de cria. E isso amarra a oferta, mantém os preços consequentemente altos”, afirmou o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, consultor com larga experiência no setor.

Lopes, da Scot, disse que o recorde no mercado futuro também ocorreu por uma “especulação” gerada pelas cotações no mercado físico, mas o momento exige cautela do pecuarista, considerando que a demanda por carne no mercado interno está fraca, diante dos preços altos do produto e da fraqueza da economia brasileira.

“Para efeito de planejamento de produtor, tem que ser mais cauteloso, levando em consideração a questão da demanda, principalmente”, comentou.

O analista frisou que o mercado bovino está “muito brigado”, pois se por um lado a baixa oferta influencia na alta da arroba, por outro a demanda interna por carne é um limitante do preço do gado.

“Tem uma situação de demanda muito ruim, a população está sem poder de compra, e a carne está chegando mais alta ao consumidor… A mola do mercado está esticada, a indústria aumentando o máximo que pode para preservar margens, o varejo também…”, completou.

Ferraz, por sua vez, observou que a carne bovina, com preços altos, enfrenta a forte concorrência da carne de frango, mais barata, o que afeta o consumo de cortes bovinos, tendo impacto para a cadeia produtiva.

PERSPECTIVAS

O analista da Scot acrescentou que este mês e no próximo deverá entrar no mercado mais boi de confinamento, que representa cerca de 10 por cento do gado abatido no Brasil. Mas o analista não crê que essa oferta será suficiente para mudar o quadro de forma expressiva.

“A gente não acredita em redução de preço, mas em limitação de alta”, destacou.

Embora a demanda interna por carne bovina esteja fraca, as exportações do Brasil (maior exportador global), estimadas para atingir um recorde em 2014, atuam como fator altista para o mercado.

Mas, considerando que 80 por cento da carne produzida no Brasil é consumida no mercado interno, o analista minimizou a importância das vendas externas para a alta da arroba.

Segundo Ferraz, da FNP, ainda que o mercado interno brasileiro não esteja pujante, a perspectiva de preço da arroba para o final do ano é de novas altas, já considerando o maior consumo das festas e a entrada do décimo terceiro salário na economia. “Acredito que haverá possibilidade de aumentar mais o preço, mas não acredito em explosão.”

Posteriormente, com a entrada do boi de pasto a partir de meados de janeiro, os preços deverão apresentar algum recuo sazonal. “Mas também não acredito em grande queda, porque o problema da oferta é estrutural, como eu disse, não é conjuntural.”

QUEBRAR CICLO VICIOSO

A alta do preço da arroba é um estímulo para o setor produtivo romper o que o analista Ferraz chamou de “ciclo vicioso” da pecuária.

“A gente defende a tese de que o setor precisaria ganhar produtividade, fazer mais com menos, isso é decisivo, precisa realmente ganhar muita produtividade, assim como a agricultura fez… aí você consegue criar um circulo virtuoso, boa rentabilidade, mais investimentos, mais ganho de produtividade, esse é o ciclo que precisamos alcançar…”, afirmou.

Esse “ciclo virtuoso” permitiria que o Brasil, dono do maior rebanho comercial do mundo, mas com pecuária baseada fortemente na criação extensiva, pudesse garantir uma oferta de carne consistente, estimulando o consumo.

Fonte: Reuters

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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