Sistema FAEP

Plantio direto alavanca produtividade de mandioca e hortaliças

Técnicas de conservação de solo se mostram viáveis para além do cultivo de grãos, contribuindo para uma agricultura ainda mais sustentável e redução de custos

O Sistema de Plantio Direto (SPD) é um dos pilares da produção agrícola sustentável, promovendo a preservação ambiental e a eficiência no campo. Altamente adaptada às condições do solo brasileiro, o SPD foi fundamental para posicionar o país entre os maiores produtores mundiais de grãos, como soja, milho e trigo. Diante disso, esse sistema de manejo tem sido utilizado na adaptação de outras culturas.

O SPD elimina o revolvimento do solo, mantendo a palha e outros restos vegetais provenientes de uma cultura para o cultivo seguinte. Essa prática não só aumenta a proteção contra a erosão, mas também facilita a recuperação de áreas degradadas, conserva a água e evita a perda de nutrientes. Como resultado, o SPD impulsiona a fertilidade do solo e eleva a produtividade das lavouras.

Mandioca e hortaliças, por exemplo, são culturas que, em sistema convencional, necessitam de intensa mobilização do solo. O Sistema de Plantio Direto nestas duas culturas é uma quebra de paradigma, pois, geralmente, são associadas a solos de baixa fertilidade, com alta suscetibilidade às intempéries climáticas e de baixo retorno financeiro.

Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP

No caso da mandioca, a Embrapa identificou que a técnica pode aumentar a produtividade da cultura em até 50%, além de melhorar significativamente a qualidade do solo. O SPD surgiu como uma alternativa para tornar a mandiocultura mais sustentável, considerando que o cultivo é conhecido por sua rusticidade e por extrair grandes quantidades de nutrientes do solo.

Já nas hortaliças, o manejo – que ganhou sigla própria: Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) – busca maximizar o potencial produtivo, enquanto reduz a necessidade de adubos, agroquímicos e água para irrigação. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), o agricultor gasta, em média, 30% menos para produzir hortaliças em SPDH.

Mandioca

De acordo com Marco Antônio Rangel, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, a ideia de adaptar o SPD à cultura do tubérculo surgiu devido à suscetibilidade do solo de arenito à erosão, predominante na maior parte das áreas de cultivo no Centro-Sul do Brasil. A região Noroeste do Paraná, onde está o Arenito Caiuá, destaca-se como a maior produtora de mandioca com finalidade industrial no país, com polos importantes em Paranavaí e Umuarama.

Iniciado em 2008, os pesquisadores identificaram diversos benefícios na adoção de sistemas conservacionistas de produção para toda a cadeia produtiva, como a redução das perdas de solo, a diminuição dos custos de preparo da área e a melhoria da produtividade.

“Nós começamos a fazer testes porque percebemos casos de erosão muito graves nessas áreas do Arenito [Caiuá], com quadros drásticos de perda de solo. Nós tínhamos o conhecimento do plantio direto nos grãos, mas, na época, a imagem que se tinha é que para a mandioca não dava certo”, conta Rangel.

Nos últimos anos, a área de cultivo de mandioca e a produtividade da cultura cresceram no Paraná graças ao uso de novas tecnologias e à técnica do plantio direto. Em quatro safras, a área saiu de 128,6 mil para 145,5 mil hectares, enquanto a produção saltou de 3 milhões para 4 milhões de toneladas. Com o avanço das pesquisas, a Embrapa lançou, em 2016, a primeira variedade de mandioca para indústria adaptada ao SPD. Diferentemente do plantio convencional, que precisa de 30 a 45 dias para preparar do solo, o plantio direto é feito em cima da pastagem seca (palhada), que serve como proteção do solo. Segundo os dados, é possível reduzir em cerca de 90% as perdas de solo.

O produtor rural Victor Vendramin, parceiro das pesquisas em Paranavaí, destaca a economia no custo de produção devido à redução nas operações de preparo do solo. De acordo com a Embrapa, a média é de R$ 1,5 mil por hectare. “O plantio direto suporta maior volume de chuvas sem danos à estrutura de solo, conservando a umidade, por causa da palhada. A janela de plantio aumenta, em média, três vezes”, relata.

Victor Vendramin teve economia ao utilizar as técnicas de plantio direto

Segundo o produtor, no sistema convencional, a umidade dura por cerca de sete dias. Em plantio direto, com a cobertura da palha, essa umidade permanece por até 30 dias. O solo mais úmido também aumenta a janela de colheita em até 15 dias, principalmente em períodos de estiagem prolongada, fazendo com o que os agricultores consigam aproveitar preços melhores na comercialização. Além disso, Vendramin relata que a quantidade de plantas por hectare aumentou, enquanto o número de falhas de raízes reduziu em 50%.

Segundo a Embrapa, a produção de amido da mandioca cultivada em sistema de plantio direto pode aumentar em até 50%.

O plantio direto permite o armazenamento de água, que fica disponível por mais tempo, e a cultura responde com produtividade. O solo se torna um ambiente melhor para as raízes, permitindo que a mandioca acumule mais amido, agregando mais valor ao produto.

Marco Antônio Rangel, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura

Apesar dos benefícios, os especialistas alertam para alguns cuidados prévios antes de aderir ao SPD, principalmente em relação aos cuidados com o solo. É preciso adotar uma plantadora adaptada e de variedades adequadas.

Na avaliação de Ivo Pierin Júnior, presidente do Sindicato Rural de Paranavaí e diretor da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), o Sistema de Plantio Direto aumenta a competitividade e o valor agregado da mandioca paranaense no mercado internacional.

“O amido de mandioca tem vantagens sobre o amido de milho em muitas aplicações. Ao aumentar o potencial de uso da mandioca, o Paraná pode acessar mercados que pagam mais pelo melhor amido”, afirma Pierin, que também é diretor-secretário do Sistema FAEP. “As parcerias aceleram o desenvolvimento das tecnologias e disseminam informação entre os produtores”, complementa.

Hortaliças

O uso do SPDH nas hortaliças garante o bem-estar das plantas, reduzindo em 35% as perdas na colheita, enquanto a infiltração de água no solo chega a ser três vezes maior do que no sistema convencional. Segundo Josiane Bürkner dos Santos, pesquisadora do IDR-Paraná, as plantas de cobertura elevam o teor de matéria orgânica na terra, resultando em maior produtividade e melhor qualidade, além de reduzir os gastos com fertilizantes.

“A alta concentração de matéria orgânica ajuda no controle da temperatura do solo, reduzindo o estresse térmico das plantas, além de reduzir a perda de água. Essa matéria orgânica ainda retorna por meio dos resíduos da cultura anterior, ou seja, é economicamente viável e ambientalmente sustentável”, afirma Josiane.

Além de proteger o solo, a palhada reduz a incidência de plantas daninhas, o que, por sua vez, diminui a necessidade de mão de obra para manejo e a necessidade de aplicação de defensivos químicos.

As plantas de cobertura também têm a capacidade de captar carbono e fixar no solo, o que, a longo prazo, contribui para a redução da emissão dos gases de efeito estufa.

Tiago Hachmann, extensionista do IDR-Paraná

No entanto, os produtores podem ter dificuldades em encontrar maquinários adaptados ao sistema e às particularidades de cada olerícola. Segundo Hachmann, existem algumas opções, mas, na maioria das vezes, o agricultor pode adaptar outros maquinários de acordo com sua realidade. “Tem microtratores que fazem adaptação de espécie de rolo nas rodas, produtor que adapta palanque de eucalipto, que abre o sulco de plantio com máquina semeadora de milho ou de soja”, exemplifica.

Leandro Jovinski reduziu os custos de produção, a partir do SPD

Motivado pela possibilidade de reduzir os custos de produção, há dois anos, Leandro Jovinski, de Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), abandonou o plantio convencional. No SPDH, o produtor conseguiu estabilizar a produção e diminuir a aplicação de agroquímicos.

“O sistema permite uma diversidade biológica grande no solo, que produz com mais qualidade e com menos necessidade de uso de insumos. A diminuição das perdas na colheita também aumenta os índices de produtividade”, assegura. “Quando as condições climáticas não estão favoráveis, as perdas no sistema convencional podem facilmente passar de 30%. No SPDH, são de 5%, no máximo 10%”, conclui.

Imprensa

Composto por jornalistas e diagramadores, o Departamento de Comunicação do Sistema FAEP desenvolve a divulgação das ações da entidade. Entre suas tarefas, uma é o relacionamento com a imprensa, incluindo a do setor agropecuário e também os veículos

2 comentários

  • Conheci também o sistema SPDH em Angelina SC, com o pessoal da Prefeitura de São José dos Pinhais e os parceiros que patrocinaram a ida de um ônibus com agricultores de região, e o dia de campo no Avencal em São José dos Pinhais. O SPDH é o futuro dos hortifrutigranjeiros!

    • Boa tarde Celso,

      primeiro, obrigado pelo seu contato.

      Realmente, esse sistema é ótimo, como mostra a nossa matéria.
      Estamos trabalhando para mais produtores rurais do Paraná adotarem a técnica.

      Seguimos à disposição.

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