Um projeto desenvolvido pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Dois Vizinhos, no Sudoeste do Estado, irá medir os reais benefícios do uso de dejetos na adubação do solo. Mais que isso: a pesquisa deve estabelecer uma comparação entre as modalidades de fertilização: mineral e orgânica (a partir de dejetos de suínos, bovinos ou camas de aviários). Iniciados em maio deste ano, os estudos terão a duração de três ou quatro anos, conforme os dados apurados.
Para conduzir o projeto, os pesquisadores isolaram seis pequenos lotes – chamados microparcelas – com área de dois metros por seis metros. Cada segmento será desenvolvido a partir de uma modalidade de fertilização diferente: sem adubação; com adubação mineral em linha de plantio; com adubação mineral a lanço; com adubação orgânica com dejeto de suínos; com dejeto de bovinos; e com cama de aviários. Nos pequenos talhões serão plantadas culturas conforme a rotação própria da região: aveia no inverno, soja e feijão no verão.
Em cada microparcela está instalada uma caixa d’água, que armazena a água escoada a partir das chuvas. Como todos os lotes têm as mesmas características de solo e de chuva, é possível comparar o desempenho de cada tipo de adubação, a partir da análise da água coletada e de seus sedimentos.
“Vamos monitorar os processos erosivos e a água e os sedimentos coletados. Em todas as chuvas significativas, podemos avaliar os nutrientes que foram perdidos pela erosão. Além disso, vamos analisar os efeitos de fertilizantes orgânicos e minerais e seu efeito na produtividade da cultura”, explica o coordenador do projeto, professor Carlos Alberto Casali, que integra o Grupo de Pesquisa em Ciência do Solo e o Grupo de Pesquisa em Gerenciamento e Tratamento de Resíduos, ambos da UTFPR.
A preocupação com o tema tem vários motivos. Uma delas de ordem econômica: a região Sudoeste é uma das principais produtoras de proteína animal do país, com destaque em todos os segmentos da pecuária. Por conseguinte, há um grande volume de dejetos animais, que podem servir como fonte de adubação orgânica. Neste aspecto, a ciência tem papel determinante, ajudando a comprovar os ganhos de cada modalidade e as melhores formas de se fazer a fertilização, de acordo com as características de solo da região.
Rede de pesquisas
Denominado “Monitoramento hidro-sedimentológico em microparcelas com aplicação de dejetos de animais no Sudoeste do Paraná”, o projeto faz parte da Rede Paranaense de Agropesquisa, que tem apoio de uma série de entidades, como o Sistema FAEP/SENAR-PR. A pesquisa é inspirada em outras iniciativas, que já se dedicaram ou que se dedicam ao tema.
“Havia alguns estudos, inclusive da Embrapa, com experimentos semelhantes, mas mais voltados a pastagens. Nós aumentamos os tratamentos e estamos trabalhando com lavouras”, diz Casali.
Um dos projetos anteriores que já têm resultados práticos – o “Uso de dejetos animais na agropecuária e sua contribuição para melhoria das condições ambientais” – avaliou a melhoria provocada nas condições do solo pelo uso de adubação orgânica por dejetos animais. A pesquisa foi conduzida pelo Departamento de Solos e Engenharia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pela Fundação ABC (acesse o artigo científico sobre a pesquisa a partir do código nesta página).
“No tratamento onde houve aplicação de dejetos, a absorção de água no solo foi 3,5 vezes maior. O incremento nos estoques de carbono aumentou de 5,5 para 10,5 toneladas por hectare. Isso é resultado do somatório de carbono acrescido pelo resíduo da colheita e pela adição de dejetos animais, indicando um aumento no carbono estocado, influenciado pela adição de dejetos”, comenta o engenheiro agrônomo Werner Meyer, do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Benefícios
Em regra, independentemente do tipo de dejeto usado, a adubação orgânica gera alguns benefícios em comum. Uma delas é de ordem financeira. A fertilização por meio de dejetos pode ser usada de forma complementar, reduzindo os gastos com a adubação química.
“Reduz custos. O uso do dejeto não supre toda necessidade da planta, mas o produtor pode usar essa modalidade como principal fertilização e adotar a adubação química como complemento”, aponta Meyer.
Outro ponto é que a adubação promove o aumento de matéria orgânica no solo, o que melhora as condições da terra e, por consequência, favorece o aumento da produtividade. “A matéria orgânica é o principal componente da fertilidade do solo”, resume o engenheiro agrônomo. Além disso, há um caráter ambiental. Conforme os estudos, o uso de dejetos animais contribui para a mitigação dos efeitos do aquecimento global.
“Esses procedimentos estimulam a remoção do CO2 da atmosfera (gás carbônico, responsável pelo aquecimento global) e imobilização (ou sequestro) no solo. Ou seja, esses processos constroem matéria orgânica e aumentam a fertilidade, mostrando, mais uma vez, a grande contribuição do produtor rural para com o meio ambiente”, finalizou Meyer
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