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Paraná vive as dores de uma supersafra

Paraná vive as dores de uma supersafra

Preços dos grãos estão em forte queda nos últimos meses, o que tem espremido as margens de lucro dos produtores, reduzido o ritmo de comercialização e sinalizado que haverá problemas com armazenagem e transporte nos próximos meses

Se tivessem caído no início de abril do ano passado, as chuvas da última semana no norte do Paraná teriam sido a salvação de muitas lavouras de milho cultivadas na segunda safra da temporada 2015/16. Mas ao caírem agora no volume certo, como previsto em um calendário climático normal, sem influência significativa dos fenômenos El Niño ou La Niña, as chuvas aumentaram as preocupações dos agricultores.

Ninguém gosta de ver sua plantação quebrar com secas ou inundações. E quanto maior o volume colhido, maior a movimentação da economia em polos do agronegócio como Londrina, um dos mais importantes municípios do norte paranaense. Só que os preços dos grãos estão em forte queda nos últimos meses, o que tem espremido as margens de lucro dos produtores, reduzido o ritmo de comercialização e sinalizado que haverá problemas com armazenagem e transporte nos próximos meses.

“No caso da soja [colhida antes do plantio da safrinha de milho], a comercialização na região ainda não passou de 30% do volume total. E a saca [de 60 quilos], que chegou a atingir R$ 85 entre outubro e novembro, hoje está por volta de R$ 56”, afirma André Muller Carioba, produtor de soja, milho, trigo e tomate em estufa espalhados por 3,3 mil hectares no município de São Sebastião da Amoreira. Parte da “nata” dos empresários rurais da região norte do Paraná, na propriedade de sua família há pivô de irrigação e confinamento de gado.

De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Estado, a saca de soja foi negociada, em média, por R$ 56,28 na sexta-feira, ante médias de R$ 66,01 em abril de 2016 e de R$ 68,60 em dezembro. Já o milho encerrou a semana passada em R$ 21,14, contra R$ 37,18 em abril de 2016 e R$ 29,35 em dezembro. A cada nova estimativa de safra, as cotações têm descido um degrau.

Conforme o Deral, com o clima favorável, a colheita de soja no Paraná, que está na reta final, deverá totalizar 19 milhões de toneladas nesta safra 2016/17, 15,2% mais que no ciclo anterior. A de milho de verão, praticamente concluída, tende a atingir 4,6 milhões de toneladas, aumento de 39,4%. A safrinha de milho está projetada em 13,7 milhões de toneladas, volume 34,3% superior ao da temporada 2015/16, que foi golpeada pelo El Niño.

No caso da soja, afirma Antonio de Oliveira Sampaio, quem plantou cedo, na virada de setembro para outubro, teve problemas com um veranico e colheu menos que o previsto. Mas quem semeou suas lavouras em meados de outubro se deu bem e registrou produtividades médias maiores que as médias históricas. Sampaio cultiva soja e milho no verão, além de milho, trigo, triticale e aveia no inverno em uma área total de 1,1 mil hectares em duas fazendas, em Arapongas e Santa Fé.

Como Carioba, Sampaio faz parte do grupo de produtores que emprega um nível tecnológico bastante acima da média no norte do Paraná. Boa parte deles comanda a Sociedade Rural do Paraná (SRP), na qual Sampaio é vice-presidente. Ele diz que, em média, sua colheita de milho rendeu 192,5 sacas no verão, enquanto a média da soja foi de 71 sacas. E são agricultores como eles, cujos investimentos nas lavouras são maiores, que estão vendo as margens recuarem mais.

“Estamos vivendo um momento crucial. Quando os produtores da região iniciaram o plantio, tínhamos dólar e preços mais favoráveis. O cenário mudou muito, o que tem reduzido o ritmo de comercialização”, diz Ricardo Gomes de Araújo, que faz rotação de culturas com soja e milho no verão e milho, trigo e aveia no inverno em uma fazenda de 846 hectares em Bela Vista do Paraíso, cidade vizinha a Londrina – e também faz parte da cúpula da SRP. Segundo o Deral, 26% da colheita de soja prevista para o Paraná em 2016/17 foi vendida até agora, ante 42% no início de abril de 2016. No milho safrinha, o percentual está em apenas 2%, ante 19% há um ano.

“Teremos problemas para armazenar esse milho todo, ainda que as cooperativas que atuam na região [Cocamar e Integrada, principalmente] tenham ampliado suas capacidades”, afirma Narciso Pissinatti, presidente do Sindicato Rural Patronal de Londrina, que representa 2,5 mil produtores. Em uma região formada por 30 municípios, com Londrina como epicentro, Pissinatti calcula que a soja represente 22% do valor bruto da produção. Em seguida vêm avicultura (14%), milho (11%) e tomate (11%). O café, que impulsionou o agronegócio na regão até a grande geada de 1975, atualmente tem pouca expressão. Apenas em Londrina, o VBP da agropecuária se aproxima de R$ 800 milhões.

Apesar do cenário bem menos favorável do que o previsto na época do plantio da safra de verão, é visível que a economia de Londrina respira aliviada com uma safra volumosa. Não só pelo bom movimento na tradicional Expo Londrina, realizada na semana passada, mas comércio, restaurantes e outros serviços também estão com a demanda aquecida.

Fonte: Valor Econômico

Carlos Filho

Jornalista do Sistema FAEP/SENAR-PR. Desde 2010 trabalha na cobertura do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial). Atualmente integra a equipe de Comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR na produção da revista Boletim Informativo, programas de rádio, vídeos, atualização das redes sociais e demais demandas do setor.

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