A agropecuária paranaense está de luto. O cooperativismo perdeu um de seus maiores entusiastas e os produtores rurais do Estado ficaram sem um defensor incansável dos seus direitos. No dia 18 de maio, o presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, vice-presidente da FAEP e um dos fundadores da Coamo Cooperativa Agroindustrial, Nelson Teodoro de Oliveira, conhecido pelo carinhoso apelido de “Nelsinho”, faleceu, deixando um legado de trabalho e respeito pela família do campo paranaense.
A lição deixada é de que as pessoas são capazes de coisas extraordinárias quando unem forças para um bem comum. Nelsinho viveu na prática esta cartilha, se transformando no próprio exemplo daquilo que pregava. Soube cultivar amizades e inspirar companheiros de luta, colhendo um rol de admiradores e transformando a realidade que o cercava.
“Foi um incansável companheiro de lutas. Esteve ao nosso lado em todos os momentos difíceis pelos quais o agronegócio passou nas últimas décadas e nunca esmoreceu, desanimou ou deixou de se posicionar de formas crítica e propositiva. É um perfil de líder cada vez mais raro nos dias de hoje. Irá fazer muita
falta”, destaca o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.
Até então, havia sido o primeiro e único presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, instituição que ao longo de 51 anos de existência encampou importantes lutas em favor dos produtores rurais paranaenses. “A prioridade dele era o associativismo e a representação da agropecuária. Depois vinha as suas atividades pessoais”, lembra o vice-presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, Neri Thomé.
Com mais de 40 anos de parceria e amizade, o presidente do Sindicato Rural de Astorga, Guerino Guandalini, lamentou a morte do amigo. “Eu e o Nelsinho começamos a participar da Federação no tempo do [Mário] Stadler [ex-presidente da FAEP]. Ele era presidente de sindicato e eu também. Além disso, assim como eu, ele também era vice-presidentes da FAEP e companheiro de Rotary”, recorda. “Era um grande líder. Um grande amigo e companheiro”, reforça.
Lutas
No papel de dirigente sindical, Nelsinho foi protagonista de momentos decisivos para o setor agropecuário paranaense, como, por exemplo, a liberação do cultivo de soja transgênica no Estado. “No momento em que havia um conflito com o então governador [Roberto] Requião, Nelsinho foi um dos principais baluartes desta defesa para que pudéssemos fazer o cultivo e abrir o mercado para o mundo inteiro. Prova de que ele estava certo é que hoje quase todas as lavouras são de soja transgênica”, recorda Thomé.
Outro episódio marcante da atuação do dirigente foi a mobilização para a aprovação do novo Código Florestal. Na ocasião, Nelsinho levou centenas de produtores do seu município a Brasília. Na época, se recusou a ir de avião para fazer a viagem de ônibus, junto aos companheiros.
“Ele sempre foi muito atuante, não só nas bandeiras da agropecuária, mas da comunidade”, observa o amigo Thomé. De fato, Nelson Teodoro participou ativamente de diversas conquistas do município de Campo Mourão como a implantação do Colégio Integrado, da Faculdade Integrada e da Faculdade Estadual de Ciências e Letras Campo Mourão (Fecilcam), hoje Unespar. “Sua atuação também foi fundamental para a implantação da Justiça Federal em Campo Mourão”, complementa Thomé.
A disposição para a representação da classe rural também teve contornos legislativos. Entre 1969 e 1972, Nelsinho foi vereador pela Arena, época em que os representantes do povo não recebiam salário, de modo que era necessário vocação para o cargo e vontade de trabalhar, qualidades de sobra.
Como dirigente sindical e representante do setor rural, articulou diversas políticas que favoreceram a agropecuária. Apoiou a realização de exposições agropecuárias no município, e também a famosa Festa do Carneiro no Buraco, pela qual Campo Mourão é reconhecido no Brasil inteiro.
O cooperativismo foi uma das suas grandes paixões. Em qualquer roda de conversa, da mais informal até a mais oficial, Nelsinho destacava as conquistas da cooperativa que ajudou a fundar em Campo Mourão, a Coamo. Foi o associado número 48 da ata de criação da entidade. O ano era 1970 e a “aventura” começava com 79 cooperados capitaneados por Fioravante João Ferri e José Aroldo Gallassini, hoje presidente da Coamo. Hoje, a cooperativa é uma potência, com mais de 28 mil associados, faturamento de mais de R$ 14 bilhões (2018) e reconhecida como maior cooperativa da América Latina e uma das maiores empresas do Brasil.
“Ele era um grande entusiasta do setor, sempre foi a favor de tudo o que era bom para a cidade. Teve uma participação muito importante no progresso de Campo Mourão”, afirmou José Aroldo Gallassini.
No trato pessoal, Nelsinho era considerado uma pessoa afável e bem-humorada. “Característica marcante como ser humano era a lealdade aos amigos. Também era uma pessoa determinada, um cara que não tinha preguiça, não tinha horário”, relembra Thomé.
Nelsinho deixa a esposa Sônia Maria Bessa de Oliveira, os filhos Luiz Cláudio Teodoro de Oliveira e Luiz Sérgio Teodoro de Oliveira, além do neto Luiz Otávio, sem contar uma legião de amigos e admiradores que perdem uma referência de produtor e líder rural. Sem Nelsinho, este vácuo de lideranças rurais fica ainda maior no Paraná.
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