A produção de grãos no Paraná do ano agrícola 2015/16 caminha para o seu final, com a expectativa de colher um total de 35,9 milhões de toneladas entre as três safras plantadas no Estado: de verão, outono/inverno e inverno. Esse volume é 6% menor que a anterior (2014/15), que rendeu 38 milhões de toneladas. Este ano a safra foi atingida por vários eventos climáticos negativos desde a primavera do ano passado até o inverno deste ano, informou o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.
No relatório de acompanhamento de safra do Deral, relativo ao mês de julho, o destaque é a finalização das lavouras de segunda safra de milho e de trigo, que estão em campo. Segundo o relatório, houve redução na produção de milho, soja e feijão por conta do clima, que influenciou na queda de produção e na qualidade dos grãos.
Para o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, os produtores enfrentaram todas as variações possíveis de clima. “Esse período vem desde a primavera de 2015, quando iniciou o plantio da safra 2015/16, e o inverno que estamos atravessando neste momento, com chuvas no verão, calor e seca entre março e abril. E agora um frio intenso no início do inverno com cerca de seis geadas consecutivas que acabaram prejudicando especialmente a produção de milho segunda safra”, afirmou.
Para o diretor do Deral, Francisco Carlos Simioni, se por um lado as variações constantes do clima contribuíram para reduzir a produtividade e a qualidade dos grãos, por outro, contribuiu para a elevação dos preços dos principais produtos cultivados no Estado. Esse fator não foi bom para os consumidores, mas está dando condições para os produtores se manterem capitalizados de maneira geral, observou Simioni.
Para ele, a sustentação dos preços dos grãos está ajudando a manter o produtor na atividade, apesar de alguns problemas localizados de endividamento em algumas explorações.
Soja
A colheita de soja foi encerrada com um volume de 16,5 milhões de toneladas, cerca de 10% abaixo do potencial de produção, que apontava para uma produção de 18,3 milhões de toneladas. Mesmo assim, a produção de soja da safra 2015/16 é a segunda maior da história. Houve uma redução de 1,8 milhão de toneladas de soja, motivada pelo histórico de eventos climáticos que afetaram as demais culturas de grãos no Estado.
Com a redução da oferta, os preços se mantêm elevados, em parte impulsionados pelo câmbio, ainda atrativo para exportação. No mês de julho, o preço pago pela soja ao produtor esteve em média cotado a R$ 77,25 a saca com 60 quilos, valor 26% superior à média de comercialização no mesmo mês do ano passado, quando a saca foi vendida pelo produtor por R$ 61,00, em media.
O ritmo de exportações de soja do Paraná está mais acelerado este ano. De janeiro a junho, o Estado exportou 6,1 milhões de toneladas do grão, volume 35% maior que no mesmo período do ano passado quando foram exportadas 4,5 milhões de toneladas.
A segunda safra de soja, que foi a última plantada no período da entressafra, também apresentou quebra de 8% em relação ao potencial de produção que previa um volume de 351 mil toneladas. Após os eventos climáticos, a safra rendeu um volume de 323 mil toneladas, mesmo assim 6% maior que o colhido no ano passado que foi 304 mil toneladas.
Milho
A segunda safra de milho está com mais de dois terços da área plantada (2,2 milhões de hectares) já colhida. Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, a safra tinha um potencial de produção de 12,9 milhões de toneladas, mas a colheita deve se encerrar com um volume ao redor de 11,3 milhões de toneladas, uma redução de 13% em relação à estimativa inicial.
O milho foi muito afetado por uma sequência de eventos climáticos negativos que incidiram sobre o atraso no plantio, seguido de um período de excesso de calor no mês de abril deste ano. Depois, vieram várias ocorrências de geadas, que influenciaram na perda de qualidade do grão.
De acordo com Garrido, a perda do milho na quantidade foi influenciada pelo excesso de calor em abril e a perda de qualidade foi provocada pela sucessão de geadas. Esse quadro fez a comercialização do grão se manter sustentada em pleno período de colheita.
Como o quadro é de escassez de oferta de milho no País, a tendência para os preços é se manterem elevados no período de entressafra até a colheita da próxima safra (de verão) que vai acontecer a partir de fevereiro do ano que vem.
No mês de julho, o milho foi comercializado pelo produtor, em média, por R$ 34,69 a saca com 60 quilos, um aumento de 67,26% no ano. No mesmo mês do ano passado a saca de milho era vendida pelo produtor por R$ 20,74 a saca.
Para Francisco Simioni, esse quadro de menor oferta é preocupante, principalmente para manutenção dos custos de produção das cadeias de produção de aves, suínos e bovinos de leite, que dependem do milho como principal insumo para a ração animal. O executivo acredita que a elevação dos preços do milho, em especial no período de entressafra, poderá contribuir para novos aumentos nos preços na produção de alimentos oriundos dessas cadeias produtivas.
Por isso há uma pressão de compra por parte de empresas integradoras e fabricantes de rações para formação de estoques de milho. Há incerteza sobre como vai se comportar o mercado lá na frente, sendo esse um fator de sustentação de preços, explicou Simioni. “Com a escassez, o milho virou um produto disputado e valioso”, acrescentou.
Trigo
O trigo, um dos últimos produtos da safra de grãos do Paraná a permanecer em campo até o final do ano agrícola, encontra-se 100% plantado, com uma área ocupada de 1,1 milhão de hectares. Até agora, a safra está com bom desenvolvimento e ela deverá ser 19% menor do que no ano passado, quando foram plantados 1,34 milhão de hectares. Naquele ano, a produção de trigo no Estado enfrentou problemas como chuvas na colheita que reduziram a produção esperada.
Apesar da redução de área, o Deral prevê uma produção maior este ano, de 3,35 milhões de toneladas, 2% a mais que no ano passado, quando foram colhidos 3,28 milhões de toneladas de trigo.
Segundo o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Godinho, a estimativa de produção de trigo no Paraná está mantida, “apesar de alguns sustos como seca em abril que atrasou o plantio”. Houve um período seco de quase um mês, que voltou à normalização com as chuvas. Mas depois houve a sequência de geadas que voltou a ameaçar, mas não ao ponto de refletir na produtividade esperada, salientou Godinho.
Apesar do bom desempenho das lavouras até agora, a comercialização não está animando muito o produtor que vive sob a ameaça de importação de trigo, que pode derrubar os preços do grão no mercado. No mês de julho, a média de preços recebidos pelo produtor foi de R$ 45,71 a saca/60-kg. Ocorre que no mercado internacional os preços estão competitivos, o que favorece as importações.
Feijão
O Paraná está concluindo a colheita da terceira safra de feijão plantada no Estado, que é pequena, mas que também apresentou quebra de produção como nas duas safras anteriores. No total, o Paraná está colhendo um volume de 595 mil toneladas entre as três safras plantadas no ano agrícola 2015/16, que é 17% menor em relação ao volume colhido no ano anterior que somou 715 mil toneladas. Essa redução representa uma redução de 120 mil toneladas, que está fazendo falta no mercado, disse o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador.
Este ano, explicou Salvador, a redução na produção de feijão ocorreu em todo o País, o que motivou a explosão de preços no mercado, com efeitos devastadores sobe o consumidor que viu o preço do grão subir até a R$ 18,00 ou R$ 19,00 o quilo no varejo.
Segundo a Companhia Nacional de Alimentos (Conab), a produção de feijão no País este ano foi de 2,7 milhões de toneladas, volume 16% menor que o ano anterior quando foram produzidas 3,2 milhões de toneladas. Houve uma perda de 592 mil toneladas, que equivale a uma safra inteira do Paraná, que é o maior produtor do País”, comparou Salvador. Segundo ele, é como se o Paraná se retirasse do mercado durante um ano inteiro.
Essa quebra nacional está refletida nos preços, cuja tendência é de se manterem firmes até a entrada da safra de verão que começa a ser plantada em agosto, com início da colheita previsto para outubro. Como não há estoques de feijão, a produção é ajustada ao consumo, cerca de 95% da primeira e da segunda safra de feijão plantadas no Paraná já foram vendidas. “Feijão novo só por outubro”, disse Salvador.
Em um ano, os produtores tiveram aumento de 260% no feijão de cor, que passou de R$ 110,00 a saca de 60 quilos no mês de julho do ano passado para R$ 395,00, em julho deste ano. O feijão preto teve aumento de 148%, passando de R$ 86,00 a saca no ano passado para R$ 213,00 a saca este ano.
Esses são os maiores preços de feijão alcançados na história. Segundo acompanhamento do Deral, a média dos preços de feijão de cor, este ano, alcançou valor de R$ 250,56 a saca. Preços altos ocorreram, mas em menor intensidade, nos anos de 2013, quando a média alcançou R$ 149,58 a saca e em 2015 quando a média de preços foi de R$ 127,00 a saca.
Mandioca
O Paraná também se destaca como o maior produtor de mandioca do País, com produção concentrada na região Noroeste do Estado. Este ano, a safra está em recuperação de preços após um período de depreciação com pico no ano passado, que motivou a manifestação de produtores nas estradas estaduais.
Por causa dos baixos preços da mandioca no ano passado, este ano houve redução de 7% na área plantada e 6% na produção. No ano passado, a área ocupada com a cultura era de 143.115 hectares; e este ano é de 133.222 hectares. No ano passado a produção de mandioca alcançou volume de 3,95 milhões de toneladas e este ano a previsão é colher 3,73 milhões de toneladas.
No mercado, o quadro é de escassez de produto porque houve redução na produção em todos os estados produtores, disse o economista do Deral, Methódio Groxco. Com isso, houve uma valorização de 171% no preço. Em julho do ano passado o preço era de R$ 147,00 a tonelada e este ano avançou para R$ 399,00, no mesmo mês.
A farinha de mandioca, que estava cotada a R$ 41,00 a saca de 50 quilos em julho de 2015, aumentou para R$ 92,00 a saca em julho deste ano, uma elevação de 124%. E a fécula de mandioca, que estava cotada a R$ 26,00 a saca com 25 quilos em julho do ano passado, avançou para R$ 57,00 a saca em julho deste ano, um aumento de 119%.
Por conta dos preços animadores, os produtores estão adiantando a colheita. No período janeiro a julho do ano passado, 53% da área plantada estava colhida. Este ano, no mesmo período, 70% da área plantada foi colhida, um aumento de 32%.
Fonte: Deral
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