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Paraná altera período de vazio sanitário

Vazio sanitário, que antes acontecia entre os dias 15 de junho a 15 de setembro, agora passa de 10 de junho a 10 de setembro, já valendo a partir desta temporada

A safra de soja 2017/18 já poderá ter plantas no campo a partir do dia 11 de setembro, devido as mudanças determinadas pela Agência de Defesa Sanitária do Paraná (Adapar) por meio da portaria 202, de 19 de julho. O vazio sanitário, que antes acontecia entre os dias 15 de junho a 15 de setembro, agora passa de 10 de junho a 10 de setembro, já valendo a partir de agora. Excepcionalmente este ano, o Estado terá 85 dias de vazio, porque o início do vazio não foi antecipado. A partir de 2018, retorna para 90 dias.

O vazio sanitário é uma medida que visa reduzir a sobrevivência do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática da oleaginosa, evitando assim o surgimento precoce da doença na safra. Desde 2006, a medida vem sendo adotada no país. Atualmente está implantada em 11 Estados (MT, GO, MS, TO, SP, MG, MA, PR, BA, RO e PA) e no Distrito Federal. A maioria deles adotou por 90 dias. No entanto, três deles optaram pelo período de 60 dias: Bahia, Pará e Maranhão. Os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul não estão incluídos na estratégia.

A mudança foi feita para adequar o período ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) nos quais, em diversos municípios do Estado, pode haver plantas de soja a partir do segundo decêndio de setembro. “A principal justificativa para a portaria é compatibilizar o zoneamento climático. Mas houve também uma demanda do setor produtivo, principalmente no Oeste do Estado, que entende que não há maiores riscos em antecipar um pouco a semeadura”, explica o diretor de defesa agropecuária da Adapar, Adriano Riesemberg.

Mas realizar tal antecipação pode trazer alguns riscos, como a explica a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudine Seixas. Ela coloca a situação na balança. “Do lado positivo, enquanto mais cedo os agricultores semearem, maior chance eles têm de que a ferrugem chegue tarde na lavoura e não necessite de tantas aplicações. Por outro lado, há uma ampliação da janela de semeadura, o que pode dificultar o controle da doença nos municípios onde a semeadura é mais tardia”, explica.

Na prática, as primeiras lavouras da janela de semeadura – que segue até 31 de dezembro, segundo a mesma portaria – acaba produzindo o inóculo do fungo da ferrugem e atingindo as outras lavouras que virão na sequência. “Do ponto de vista dos fungicidas e da importância grande de preservá-los, isso pode trazer consequências”.

O fato apontado insistentemente pela pesquisa é que os fungicidas existentes hoje no mercado contra a ferrugem têm perdido eficiência e não há novas moléculas para o controle da doença. O impacto disso pode ser grande nas safras futuras. “Tínhamos dois grupos de fungicidas que já têm resistência contra a ferrugem e agora houve a detecção de um terceiro grupo. É uma situação muito grave, porque não temos muitas opções para combater a doença. As nossas ferramentas de controle estão diminuindo”.

Por fim, o Consórcio Antiferrugem aponta que até o momento não houve nenhum relato de ferrugem no Paraná neste período de vazio. O tempo seco não favorece a presença de soja viva no campo e também do fungo, que se adapta melhor à umidade. “Isso não significa que não se deva tomar cuidado e destruir qualquer planta de soja que porventura esteja viva no campo”, salienta a pesquisadora. O diretor do Adapar finaliza batendo na tecla que hoje no Estado “existe um rigor muito grande dos produtores de seguirem o vazio sanitário”.

Janela de plantio deve ser debatida

O vazio sanitário é hoje a principal medida de defesa contra a ferrugem asiática na soja e a janela de plantio poderia até ser menor. A opinião é do chefe de pesquisa e desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ricardo Abdelnoor. “Se a ferrugem asiática não for controlada, pode causar perda de até 100% da safra e o modo usado no combate é principalmente por produtos químicos, que estão tornando o fungo mais resistente e que precisam ser menos usados”, diz.

O pesquisador considera que é preciso planejar a cultura em um prazo de ao menos cinco anos e, por isso, defende a definição de um período que não permita a proliferação do fungo. “Defendemos restringir a janela, de repente, até para um período mais curto”, conta. “A soja plantada em setembro começa a gerar fungo que não causa problema para essa plantação, mas o inóculo atingirá as plantadas mais tarde”, explica Abdelnoor.

No entanto, ele entende que a mudança não será simples e que passa pela discussão também do zoneamento climático para o Paraná e o Brasil. “Existem regiões que precisam plantar a soja mais tarde porque a colheita do trigo é feita depois da do milho segunda safra, então não dá para restringir de uma vez”, afirma. “A solução genética para a ferrugem é um desafio, porque até existem algumas variedades, mas que não apresentam defesa total”, completa o chefe de pesquisa da Embrapa.

Carlos Filho

Jornalista do Sistema FAEP/SENAR-PR. Desde 2010 trabalha na cobertura do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial). Atualmente integra a equipe de Comunicação do Sistema FAEP na produção da revista Boletim Informativo, programas de rádio, vídeos, atualização das redes sociais e demais demandas do setor.

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