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O sumiço das abelhas

Desaparecimento dos insetos responsáveis pela polinização de grande parte dos alimentos em todo mundo intriga especialistas e preocupa apicultores

Abelha 2

Imagine a cena. Pela manhã, centenas de operários chineses prendem penas de frango na ponta de uma vara de bambu e saem com um pacote de pólen para polinizar manualmente – flor por flor – árvores frutíferas. A imagem pode parecer surreal aos leitores, mas ela já é uma realidade na China, onde os agentes polinizadores naturais, as abelhas, desapareceram totalmente de algumas províncias.

O mel é apenas uma das baixas nesse cenário. As abelhas são responsáveis pela polinização de 73% das espécies vegetais do planeta. De acordo com o documentário “O Silêncio das Abelhas”, produção norte americana de 2007 que retrata casos preocupantes de desaparecimento destes insetos pelo mundo, um enxame de abelhas pode polinizar até 3 milhões de flores em um dia, enquanto um chinês poliniza no máximo 30 árvores no mesmo período. As abelhas também trabalham de graça, realizar a polinização com humanos nos Estados Unidos, por exemplo, custaria mais de U$ 90 bilhões por ano.

O caso não se restringe apenas ao Hemisfério Norte. No Paraná, casos preocupantes de desaparecimento de colônias estão acometendo os apicultores do Estado. As espécies mais atingidas são os meliponídeos, conhecidas como abelhas sem ferrão, que são nossas espécies nativas. O produtor Flávio Haupenthal, da cidade de Santa Helena, conta que das 130 colônias de abelha Jataí (uma espécie de meliponídeo) que possuía, lhe restaram apenas seis. Desde 2002 ele vem notando uma mortandade acima da média, mas no ano passado esse processo se intensificou. “Um enxame bom tem mais o menos sete mil abelhas. Agora os enxames têm 50 abelhinhas”, conta.

Segundo ele, a captura de enxames de Jataí na mata também deixou de ocorrer. “Antes armava até litro vazio de refrigerante para servir de isca e pegava bem. Agora não tem mais nada”, lamenta.

Os relatos de desaparecimento de abelhas ocorrem em diversos pontos do Estado, mas se concentram na vale do Rio Paraná que envolve também o Paraguai, numa extensão de cerca de 300 quilômetros, em especial no trecho que vai de Foz do Iguaçu a Altônia.

Em Marechal Cândido Rondon, o apicultor Valdo Brackmann conta que perdeu cerca de 80% de suas abelhas nos últimos cinco anos. Das 500 colônias que possuía, com quatro tipos diferentes de Jataí, hoje não restam mais de 100. “Elas somem, vão embora. E quando você abra as caixas vê que não tem mais rainha, nem favas de filhotes”, conta.

Com o desaparecimento das Jataís, aos poucos Brackmann vai substituindo as abelhas nativas pelas abelhas da espécie Apis Mellifera, de origem europeia, que têm se mostrado mais resistentes. Apesar de estar sumindo aos bilhões em outros países da Europa, Ásia e América do Norte, no Brasil, seu desaparecimento ocorre num ritmo mais lento.

Essa estratégia, no entanto, pode ter um revés terrível. De acordo com o biólogo e professor aposentado de genética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Harold Brand, nossas abelhas nativas somam mais de 200 espécies diferentes, como Mandaçaia, Manduri, Tubuna, Vorá, Guaraipo e muitas outras. “Se desaparecer a Apis, quem faz mel vai perder o emprego, mas pior é o desaparecimento das nossas nativas que são as grandes responsáveis por polinizar as plantas”, afirma.

Devido à sua capacidade de produzir mel, a Apis Mellifera é muito mais difundia comercialmente, mas são as meliponídeas nativas que estão nas matas há séculos promovendo a polinização dos vegetais, essencial para nossa biodiversidade.

De origem europeia, a Apis foi introduzida no Brasil durante o período colonial, pois sua cera  tinha cor mais clara do que a cera das espécies nativas, e era então considerada mais adequada pelos padres jesuítas para produzir velas. Uma colmeia desta espécie pode produzir 50 quilos de mel por ano, enquanto uma colônia de Jataí rende apenas 500 gramas. A resistência da Apis, conquistada através de cruzamentos com abelhas de origem africana, também é maior do que as espécies nativas. Muitos dos produtores de mel que alertam para o desaparecimento da Jataí e outras espécies de meliponídeos no Paraná ainda mantém suas colmeias de Apis.

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