Como será a pecuária nos próximos anos? Segundo o IBGE (2011) o rebanho bovino soma 212 milhões de cabeças em todo o País e 9,5 milhões no Paraná. A cada ano que passa, o rebanho paranaense está encolhendo porque a pecuária está sendo substituída pelo plantio de grãos ou outras atividades. Em entrevista à Hemely Cardoso , do Boletim Informativo, o economista e consultor da Sociedade Rural Brasileira, o alemão Francisco Villa revela como será a pecuária e as tendências na cadeia daqui para frente. Com o tema o "Caminho do Boi – A Revolução da Pecuária", Villa participou do Congresso Internacional da Carne em Goiânia, no último mês de junho.
BI – Qual é o cenário para a pecuária nos próximos anos? O que o pecuarista vai ter que fazer para permanecer na atividade?
Francisco Villa – Temos que observar que nos últimos 20 anos infelizmente não houve a profissionalização na pecuária. Dessa forma, o primeiro passo é o pecuarista fazer uma avaliação de como está indo na atividade ao longo das duas últimas décadas. Como ele está hoje? Cresceu na atividade? Piorou ou ficou no mesmo lugar? Ele deve avaliar qual é o sistema de produção que utiliza na propriedade. Depois disso, olhar para o futuro, ter uma ideia do cenário em 2020. Atualmente, a pecuária está num terceiro ciclo.
BI – Como assim?
Villa – Por exemplo, o primeiro ciclo, de 1970 a 2000, foi de expansão de terra e do rebanho. O segundo, de 1990 a 2015 é de intensificação da produção de carne bovina e o terceiro, de 2010-2025 é de integração da cadeia, não como é na suinocultura e na avicultura. O pecuarista deve verificar se tem condições de se associar formalmente ou informalmente a uma associação, a outros produtores em pontos de compra e venda, formando grupos ou alianças com cooperativas. O produtor tem que sair da toca, não deve estar confinado porque as condições de mercado estão mudando e ele tem que pelo menos saber para onde elas estão indo e como isso vai afetar o modelo de negócio
BI – De que forma ele pode avaliar o futuro?
Villa – Outro fator que se reflete na atividade é a sucessão familiar. Uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul revelou que 1/3 das propriedades não possuem um sucessor. Nesse caso, o produtor terá que optar em arrendar ou vender a terra, ou até mesmo terceirizar a gestão. Temos que avaliar também o fato do crescimento tecnológico em todas as áreas do agronegócio e, além disso, qual será o sistema de produção que ele terá futuro?. Afinal, continuará produzindo do mesmo jeito? Outro passo é saber quais serão os recursos financeiros, se terá acesso a financiamentos, por exemplo.
BI – Dentro dessas projeções, como será a pecuária no futuro?
Villa – Há mudança no entendimento da cadeia produtiva. Até pouco tempo o produtor decidia qual animal ele queria criar ou engordar, qual o sistema de produção (semi-extensivo ou intensivo) que ele iria aplicar, com rotação de pastagem, com ou sem adubação, por exemplo. Ele decidirá se criará ou investirá em um cruzamento industrial. Depois criava o animal e, numa média de 30 meses, ligava ao frigorífico e perguntava qual era o preço do dia. Não se importando, por exemplo, com a idade ou o peso. Mas essa lógica mudou radicalmente. Hoje é o consumidor que, através do comprador de carnes para o varejo, finaliza qual o tipo e qualidade de carne quer. Com isso, mudamos da venda avulsa para os programas de fidelização.
BI – Como o produtor pode acompanhar esta mudança?
Villa – Para aumentar a qualidade e acelerar a produção ele precisa investir em tecnologia, isso inclui investimentos na pastagem, nutrição, suplementação, reprodução e sanidade dos animais, além da infraestrutura e equipamentos. Esses fatores são determinantes para que o produtor possa, por exemplo, participar de um programa de fidelização e venda de carne, no qual a garantia de compra por anos. Se avaliarmos, do ponto de vista comercial, isso ocorre em todas as esferas industriais e o único setor que não acompanhou essa lógica foi a pecuária. O produtor que não investir em tecnologia ficará de fora do mercado porque não terá uma atividade produtiva e rentável.
BI – Hoje a maioria dos pecuaristas reclama que o caixa está fechando no vermelho. A atividade deixou de ser uma forma de investimento lucrativa?
Villa – O que acontece é um mau gerenciamento dos custos de produção. Como o produtor tem uma renda que não é mensal, ele precisa gerenciar muito bem o fluxo de caixa, ser um bom especialista na gestão do negócio.
BI – Na sua avaliação, como o preço da arroba vai ficar lá na frente?
Villa – O preço da arroba deve chegar a R$ 105,00 em novembro e se avaliarmos que temos uma inflação de 5% ao ano, teremos no ano que vem, por exemplo, uma arroba de R$ 110,00, sendo assim sucessivamente a cada ano. Mas o preço não vai chegar a grandes patamares, porque o consumidor não consegue pagar a mais do que já está pagando pela carne. Além disso, os consumidores estão cada vez mais exigentes, mas quem fala por eles são os representantes, os compradores de carne de supermercados. Como o tema está no ar, o consumidor pega a bola e naturalmente exigirá mais qualidade, sem pagar por isso.
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