Sistema FAEP
Planta daninha

Novo curso do Sistema FAEP orienta combate a plantas daninhas em grandes culturas

Capacitação aplica na prática métodos de contenção de ervas indesejadas, ajudando o produtor a tomar decisões assertivas e que reduzam uso de herbicidas

Agricultores do Paraná terão à disposição, a partir de 2025, um importante aliado no campo: o curso “Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD)”. Desenvolvido e ofertado pelo Sistema FAEP, a capacitação aborda práticas eficientes e sustentáveis, que ajudam os produtores rurais a identificarem vegetações indesejadas na lavoura e a definir a melhor forma de combatê-las. Tudo isso evita perdas na produção e provoca a redução do uso de herbicidas, implicando mais dinheiro no bolso do produtor.

As técnicas podem ser aplicadas em grandes culturas, como soja, milho, trigo e feijão. O curso trabalha diretamente com o conceito de manejo integrado. Ou seja, a partir do monitoramento constante e periódico da lavoura, o agricultor define estratégias para lidar com problemas específicos. No caso das plantas daninhas, o produtor escolhe que técnica adotar para combater as vegetações invasoras que, porventura, encontre na cultura. Com isso, a condução da safra ocorre de forma mais racional e técnica.

A partir do monitoramento, o produtor vai conhecer as plantas daninhas que existem na lavoura e poderá tomar a melhor decisão de manejo. Hoje em dia, o que mais tem no campo é o ‘pacote tecnológico’, vendido por empresas especializadas, que são muito  focados na aplicação de herbicidas e que, muitas vezes, não atende àquele problema específico.

Paulo Roberto Castellem Junior, técnico do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP

A iniciativa não se dá por acaso. Décadas atrás, os agricultores paranaenses costumavam fazer o monitoramento de lavoura. Porém, a partir da popularização de variedades de sojas resistentes a herbicidas (as sementes RR), no início dos anos 2000, esse tipo de cuidado deixou de ser imprescindível. Nos últimos anos, no entanto, o Paraná passou a ver ressurgir uma série de variedades de plantas daninhas – o que evidencia a necessidade de iniciativas, como a adoção do MIPD.

“Entre 2004 e 2005, a soja RR trouxe benefícios ao produtor, tornando mais fácil o manejo de plantas daninhas. Mas a natureza se adapta com o tempo e surgiram plantas daninhas resistentes a herbicidas. Estamos voltando a ter casos de espécies que afetam culturas, causando perdas, provocando a mesma preocupação que causava nos anos 1980”, diz Alfredo Junior Paiola Albrecht, doutor em Fitotecnia, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um dos autores da cartilha do curso.

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O curso

Totalizando 44 horas, o curso “MIDP” se estende ao longo do ano agrícola, abrangendo duas culturas alternadamente (soja e milho, por exemplo), que podem variar de acordo com a localidade. As aulas têm início na entressafra, para que os produtores possam acompanhar o desenvolvimento da primeira cultura, do pré-plantio à colheita. Em seguida, o cronograma se repete no segundo produto cultivado.

Cada turma será composta entre 12 e 16 produtores rurais. A capacitação é dividida em três fases. Nas épocas que antecedem os plantios, os agricultores terão aulas sobre os fundamentos do MIPD, que abrangem desde a identificação das plantas daninhas até as diferentes técnicas de controle e de combate. Em seguida, a turma vai a campo, para fazer o monitoramento da lavoura, sempre em propriedades dos alunos. Por fim, após as colheitas, os grupos se reúnem para apresentação e análise dos resultados.

“É uma capacitação continuada, para que o produtor possa visualizar o problema e fazer um manejo proativo, e não agir de forma reativa. Com isso, o produtor terá seu potencial produtivo atingindo o nível máximo”, aponta Albrecht.

Manejo racional

O curso coloca os produtores em contato com uma série de métodos de controle: solarização (que utiliza filme de polietileno para recobrir o solo, aumentando a temperatura e matando as plantas daninhas), eletricidade (que elimina a vegetação indesejada a partir de choques elétricos) e fogo (que corresponde à queima controlada das plantas).

Tida como um instrumento arcaico e associado a uma agricultura primitiva, a enxada pode e deve ser utilizada. Ao lado da roçada, a capina manual é lista – da entre as técnicas eficazes de controle mecânico. “A capina deve ser utilizada quando a infestação por plantas daninhas ainda estiver no início e restrita a pequenas áreas”, explica Albrecht.

Planta daninha

Além de outras técnicas, como os controles biológico e cultural, os produtores podem recorrer ao controle químico, que corresponde à aplicação de herbicidas. O MIPD, no entanto, trabalha de modo a orientar o produtor a só recorrer aos agroquímicos quando for realmente necessário. “A capacitação faz com que o agricultor pense no melhor manejo para cada caso. Não existe só o controle químico. Antes disso, tem outros métodos que o produtor pode e deve utilizar”, ressalta Castellem.

Nos últimos anos, o Paraná registrou aumento no uso de herbicidas. Isso tem impacto direto nos desembolsos dos agricultores para produzir. Em Campo Mourão, por exemplo, em 2007, os gastos com herbicidas correspondiam a 15% dos custos de produção. Em 2023, esse índice passou a 30%, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entre as razões para esse aumento, a Rede de Pesquisas em Matologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) sugere principalmente a presença de plantas tolerantes e resistentes a herbicidas, as “plantas de difícil controle”.

Além dos gastos com herbicidas, os produtores podem ter prejuízos diretos em razão do alastramento de plantas daninhas. O complexo caruru (Amaranthus), por exemplo, podem causar perdas de produtividade superiores a 50%. No caso do capim-amargoso (Digitaria insularis), o prejuízo pode atingir 80%. A buva (Conyza sumatrensis, Conyza bonariensis e Conyza canadenses) tem potencial de causar perda de produtividade de 14%.

“Muitas vezes, o produtor não percebe o quanto ele está perdendo com plantas daninhas. Dependendo da variedade, se ele tiver uma planta por metro quadrado, pode perder 20% de sua área. Isso corresponde a 14 sacas por hectare”, aponta Albrecht.

Sistema FAEP leva orientação sobre plantas daninhas

O curso MIPD não é a primeira iniciativa do Sistema FAEP voltada ao controle de plantas daninhas. Em agosto, a entidade publicou e distribuiu a cartilha “O complexo caruru: biologia, identificação, ocorrência e manejo”, elaborada em parceria com a UFPR e a Embrapa Soja. O material aborda diferentes aspectos relacionados às erva-daninha do gênero Amaranthus, como técnicas de controle, manejo integrado, limpeza de máquinas, veículos e equipamentos e uso de defensivos agrícolas, além de outros temas relacionados à praga.

Além disso, o Sistema FAEP preparou a cartilha “Plantas daninhas resistentes: Biologia, identificação, ocorrência e controle”. Entre as ervas indesejadas abordadas, estão a buva, o capim-amargoso e o campim-branco. Ambos os materiais estão disponíveis gratuitamente no site do Sistema FAEP.

Felippe Aníbal

Jornalista profissional desde 2005, atuando com maior ênfase em reportagem para as mais diversas mídias. Desde 2018, integra a equipe de comunicação do Sistema FAEP, onde contribui com a produção do Boletim Informativo, peças de rádio, vídeo e o produtos para redes sociais, entre outros.

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