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Lagarta sai do algodão e ataca a soja em 6 estados

Christian Rizzi/Gazeta do Povo / A lagarta-do-algodão muda de cor ao comer folhas de soja e se confunde com outras pragas

A lagarta-do-algodão muda de cor ao comer folhas de soja e se confunde com outras pragas

Desconhecida no cultivo de soja, a lagarta-do-algodão vem sendo tratada como uma nova ameaça à oleaginosa neste início de temporada. Os agricultores estão reforçando a aplicação de inseticidas para controlar a praga em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e no Paraná, conferiu a Expedição Safra nas viagens realizadas por esses estados nas últimas semanas.

"Tivemos 100 hectares atacados e fizemos uma pulverização de emergência para evitar prejuízo maior na produtividade. Ainda não sabemos exatamente qual será o impacto. A lagarta-do-algodão é capaz de destruir as plantas em cinco dias", contou Hendrik Barkema, produtor de soja e milho em Tibagi, nos Campos Gerais do Paraná. A região não planta algodão.

O inseto pode estar simplesmente migrando de uma região para outra, mas essa explicação é considerada simplista pelos técnicos. O agrônomo José Roberto Massud, que atua em Cândido Mota (Sudoeste de São Paulo), na área de abrangência da cooperativa Coopermota, tem uma teoria para explicar o fenômeno. A expansão do milho Bt, que já representa três quartos das lavouras do cereal do país e dispensa o uso de inseticidas contra lagartas, abre espaço para que insetos mais raros se multipliquem livremente. Com uma população maior, a lagarta-do-algodão teria migrado para a soja e desenvolvido gosto pelas folhas da oleaginosa.

"A redução no uso de inseticidas é uma explicação plausível. Mas, serão necessários estudos de campo para se chegar a uma conclusão segura, que vai definir a melhor estratégia de controle", acrescenta o agrônomo Rudinei Godorni, que atua na região de Itaberá (Sul de São Paulo) como técnico da cooperativa Castrolanda. Ele vem orientando os produtores a controlarem a lagarta-do-algodão logo que identificam sua presença com produtos tradicionais.

Nas lavouras de algodão, a lagarta é controlada com inseticidas específicos. Segundo os técnicos, os produtos registrados para a cotonicultura não podem ser simplesmente usados na soja. Somente produtos registrados para a oleaginosa devem ser aplicados em casos de ataque.

Existem ao menos nove lagartas que atacam a soja. A do algodão (Helicoverpa gelotopoeon) está entre elas, mas sempre foi uma praga secundária, relatam os agricultores. Há registro de ampliação dos ataques na Argentina há quatro safras.

A identificação da lagarta-do-algodão exige conhecimento técnico. Ela tem pretuberâncias com pelos finos e está entre o verde e o cinza, mas muda de cor dependendo da alimentação. Outra diferença é seu hábito alimentar: gosta de comer as folhas novas da soja e fica envolta nos trevos.

Segundo a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrope­cuária de Mato Grosso, a Fundação MT, neste ano há registro de ataque intenso também da lagarta-da-maçã (Heliothis virescens). A orientação é para que os produtores monitorem também o aparecimento da falsa-medideira (Pseudoplusia includens).

Áreas afetadas têm custo elevado em 5%

Os custos operacionais de produção da soja sobem até 5% nas áreas atacadas pela lagarta-do-algodão. Os produtores consideram que terão de fazer pelo menos uma aplicação extra de inseticidas. Cada pulverização exige gasto de cerca de R$ 60 por hectare, dependendo dos produtos utilizados.

"Por hectare, vai o valor de uma saca de soja", relata o produtor Hendrik Barkema, de Tibagi (PR). Ele não descarta a necessidade de uma segunda aplicação extra de defensivo em suas plantações para controle do inseto. O monitoramento vai definir se isso será mesmo necessário. A expectativa, até agora, é de rendimento acima de 3,7 mil quilos por hectare de soja, marca atingida na temporada 2011/12.

Enquanto não surgem produtos específicos, estão sendo pulverizados os mesmos inseticidas que detêm outros tipos de lagartas. O uso desses produtos, por enquanto, mostra-se eficiente no combate à lagarta-do-algodão.

"A preocupação geral existe porque o controle ainda é desconhecido. Isso acontece sempre que surge uma nova praga. Quando a pulverização não é feita no momento certo, o produtor corre o risco de registrar perdas expressivas na colheita", explica o agrônomo Rudinei Bogorni, de Itaberá (SP).

O produtor Eliseu Mar­­tins, de Cândido Mota (SP), aplicou inseticidas logo que notou a presença de lagarta-do-algodão na soja. Dois dias depois, não encontrava mais insetos dessa espécie vivos em sua propriedade. Os 200 hectares que ele cultiva não perderam potencial e devem render 3,6 mil quilos por hectare, conforme sua previsão.

"Com inseticida, meu gasto foi de R$ 30 por hectare. Tem ainda o gasto na operação das máquinas, que chega a um valor próximo disso", relata. Dessa foram, o gasto total de uma aplicação também equivale ao preço de uma saca de soja em sua região.

Para quem controla os custos rigorosamente, esse aumento nas despesas significa perda de rendimento. "Para controlar todos os insetos, das lagartas ao percevejo, vamos ter de fazer quatro ou cinco pulverizações nesta safra", estima Martins.

José Rocher, enviado especial Gazeta do Povo

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