A troca de experiências com pessoas de outras nacionalidades permite encher a bagagem com conhecimentos. Essa oportunidade foi dada às vencedoras do Programa Empreendedor Rural (PER) 2019, Thais Fernanda Gavlak, do município de Fernandes Pinheiro, e Ana Carolina Araújo Abreu, de Guarapuava, com a viagem técnica à Colômbia, prêmio destinado aos idealizadores dos melhores projetos do programa. Entre 17 e 25 de setembro, as produtoras puderam conhecer iniciativas e modelos de negócio desenvolvidos pelos colombianos nas propriedades e agroindústrias locais.
Nos últimos anos, a Colômbia conquistou espaço na vitrine do empreendedorismo da América Latina. Medellín, principal destino da viagem, já recebeu o título de cidade mais inovadora do mundo – reconhecimento valioso, visto que, até o início dos anos 1990, liderava o ranking de violência urbana. Hoje, a metrópole colombiana é exemplo em desenvolvimento social e econômico. Seus habitantes – e, consequentemente, seus negócios – carregam valores de cooperação, sustentabilidade e criatividade para a resolução de problemas.
“Os colombianos têm uma consciência social e sustentável muito forte. São pessoas que produzem em áreas pequenas, que se preocupam com o impacto social e ambiental de seus negócios e estão sempre em busca de alternativas para produzir mais com menos recursos”, destacou Débora Grimm, diretora técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR, que acompanhou a viagem, que ocorreu apenas neste ano devido à pandemia do novo coronavírus.
Roteiro diversificado
Antes de desembarcar em Medellín, o grupo fez uma parada em Bogotá, capital da Colômbia. Em Medellín, a comitiva conheceu o MerkaOrgánico, mercado municipal com foco em produção orgânica e uma área reservada para projetos de sustentabilidade, mantidos por uma associação, com oferta de aulas para o público. O roteiro ainda contou com visita a uma produção sustentável de cogumelos no Parque Agrícola Unay.
O roteiro incluiu visitas a Le Montañeré, um empreendimento voltado para cafés especiais; Alma del Bosque, um complexo que abriga a maior coleção de orquídeas da Colômbia, com mais de 5 mil espécies e 15 mil exemplares; San Sebastián, uma queijaria sustentável com mercado especialidado; TorreAlta Cervecería, uma cervejaria artesanal com uma planta de produção exposta ao público e vendas no local; e Amira, fábrica de granolas com produtos regionais, onde trabalham apenas mulheres.
A representatividade feminina nos empreendimentos chamou atenção das vencedoras do PER. “Eles prezam muito pelo propósito social dos negócios. Não é só crescer e ganhar dinheiro. Eu me senti muito à vontade vendo essa participação feminina tão forte”, apontou Thais. “As mulheres são muito acolhidas no ambiente do trabalho. Na queijaria [San Sebastian] tem um espaço para as mães levarem as crianças quando elas não têm com quem deixar em casa. Isso faz com que a mulher se sinta valorizada”, constatou Ana Carolina.
Ainda em Medellín, o grupo participou de uma aula pública dirigida pelo Centro Ambiental Integral, iniciativa privada que trabalha com educação ambiental. O projeto, chamado “La Ciudad Comestible” (“A Cidade Comestível”, em português), também incentiva o plantio de árvores frutíferas, plantas medicinais e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) em regiões da cidade, além de hortas e sistemas de compostagem urbanos.
Na visita ao Mercado de Abastos, as produtoras paranaenses conheceram o Salón Ahumado de Ostrovsky, um empreendimento familiar de culinária, onde fazem defumação de carnes e queijos e servem pratos com pães de fermentação natural. Também houve uma visita à Hiplantro, empresa de chás e infusões com ingredientes naturais, com um mercado em expansão e duas marcas próprias.
Novas ideias
Além do trabalho social envolvido, a queijaria San Sebastián foi um dos destaques para Ana Carolina, pela relação com seu trabalho desenvolvido no PER, em parceria com Elouise Cristine Rodrigues. O projeto “Implantação de agroindústria e biodigestor na Fazenda Vassoural” busca otimizar a produção leiteira da propriedade, empregando a matéria-prima na produção de queijo.
“O proprietário [da queijaria] ajuda os pequenos produtores a permanecerem na atividade para incentivar o mercado. No Brasil, muita gente sai da produção de leite por falta de informação. Precisamos de pessoas que deem esse suporte aos pequenos, para que a atividade não se torne escassa e monopolizada”, comentou.
A viagem também despertou ideias para Ana Carolina aplicar em seu projeto. “Todas as visitas foram muito ricas, mesmo não sendo da mesma área. Quando fiz o estudo de mercado do meu projeto, fui atrás de grandes mercados para inserir o meu produto na indústria. Agora eu penso em focar nos queijos diferenciados e uma linha gourmet, com maior valor agregado, para restaurantes da cidade”, contou.
Além disso, Ana Carolina também está analisando a possibilidade de implantar uma queijaria com espaço físico para degustação e visão da produção, já que a propriedade fica próxima à área urbana. “O consumidor quer saber de onde está vindo o produto que consome”, elencou.
Para Thais, o ponto alto foi a visita à Lácteos Tierra Grata, empreendimento voltado à produção de leite de cabra e derivados. Na propriedade são mantidos 140 animais da raça Alpina e Anglo Lubiana, sendo 80 em lactação, e uma queijaria. “Eles fazem diversos tipos de queijos e iogurtes. É um nicho de mercado, pois as pessoas procuram produtos naturais e diferenciados”, afirmou.
O projeto de Thais no PER, “Migração da avicultura para confinamento de ovinos de corte”, se centrou nas atividades desenvolvidas em uma propriedade de 318 hectares, para substituir a produção de frangos pela criação de ovinos. Após conhecer a Lácteos Tierra Grata, Thais considera mudar o projeto e investir na criação de cabras. “Nunca vi nenhum projeto desse tipo na minha região. Seria algo inovador”, almeja Thais.
Comentar