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Iniciativa privada vai cuidar da logística por 30 anos

Sem capacidade gerencial para concretizar investimentos ambiciosos, o governo abraçou a iniciativa privada e anunciou ontem o maior pacote de concessões em rodovias e ferrovias já feito no país, no valor de R$ 133 bilhões, com a expectativa de impulsionar a economia a partir de 2013. O conjunto de iniciativas inclui apenas duas obras no Paraná, o que gerou reações da administração estadual (veja reportagens nesta página).

O choque na infraestrutura foi comparado a um modelo de privatização até por empresários presentes à cerimônia de anúncio do programa, no Palácio do Planalto, mas a presidente Dilma Rousseff não só rejeitou o termo como criticou a venda de estatais ocorrida na gestão do PSDB. "Nós, aqui, não estamos desfazendo de patrimônio público para acumular caixa ou reduzir dívida", disse Dilma, numa referência à privatização de empresas no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "Nós estamos fazendo parceria para ampliar a infraestrutura do país, beneficiar sua população e seu setor privado, saldar uma dívida de décadas de atraso em investimentos em logística, e, sobretudo, para assegurar o menor custo logístico possível, sem monopólios."

Ano de eleição

As medidas integram a primeira etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL), apelidado de "PAC das Concessões". O plano contemplará ainda portos, aeroportos e energia e passará para o setor privado a responsabilidade por obras de infraestrutura nos próximos 30 anos. Segundo analistas privados, o efeito sobre o desempenho da economia – que neste ano poderá crescer menos de 2% – somente deverá ser sentido de forma plena a partir de 2014, ano de eleição presidencial. Dilma quer um crescimento na faixa de 4,5% a 5%.

Dos R$ 133 bilhões previstos para obras em estradas e ferrovias, mais da metade (R$ 79,5 bilhões) serão aplicados em cinco anos. O restante (R$ 53,5 bilhões) deve ser bancado por empresários em um período de 20 a 25 anos.

Dúvidas

Ao abrir um volume colossal de concessões à iniciativa privada, Dilma inaugurou uma nova etapa de relacionamento entre governo e empresas, que também contempla a presença do Estado. "O nosso propósito é nos unirmos para obter o melhor que a iniciativa privada pode oferecer em eficiência, e o melhor que o Estado pode e deve oferecer em planejamento e gestão de recursos públicos, e mediação de interesses legítimos."

Embora bem recebido, o pacote gerou dúvidas quanto à sua execução. O governo quer licitar as rodovias em abril do ano que vem e as ferrovias em junho. "São prazos ambiciosos", reconheceu o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Na prática, o governo gasta muito mais tempo que isso para colocar um leilão na rua. "Depois de licitado, você pode cortar os prazos de execução das obras para um quarto do atual", apostou o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy. Embora otimista, Godoy se mostrou cauteloso quanto às condições de risco, rentabilidade e estabilidade jurídica dos novos negócios.

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