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Guerra no comércio entre EUA e China pode beneficiar o Brasil

Retaliação da China ao grão americano abre oportunidades para o produto do Brasil, mas existem limites

A escalada na guerra comercial entre China e Estados Unidos chacoalhou o mercado internacional de soja ontem e reforçou as expectativas de que as exportações brasileiras do grão batam novo recorde este ano. Pequim anunciou ontem uma sobretaxa de 25% sobre uma lista de 128 produtos americanos, entre eles, soja, milho, sorgo e algodão, caso os EUA mantenham a decisão de taxar o equivalente a US$ 50 bilhões em produtos importados da China.

Com a expectativa de que os chineses comprem menos soja americana, os contratos futuros do grão despencaram na bolsa de Chicago – o recuo foi de mais de 22 centavos de dólar nos contratos de segunda posição.

Ao mesmo tempo, os prêmios de exportação para a soja brasileira no porto de Paranaguá dispararam, com os sinais de que o Brasil exportará mais, e chegaram a bater US$ 1,32 sobre o valor do contrato de maio (US$ 10,1525) na bolsa americana, de acordo com a corretora Labhoro.

Para analistas, o anúncio do governo chinês abre espaço para o Brasil exportar 4 milhões de toneladas a mais de soja neste ano. As estimativas iniciais eram de que o país exportaria um total de 70 milhões de toneladas de soja em grão – já um volume recorde. Mas a decisão chinesa pode levar os embarques a 74 milhões de toneladas sem afetar a demanda doméstica.

Os prêmios da soja brasileira já vinham subindo desde janeiro com a quebra da safra na Argentina e, mais recentemente, com as especulações sobre uma eventual retaliação da China à soja americana. Na terça-feira, já haviam batido US$ 1,20, bem acima dos 40 centavos de dólar de igual período um ano antes. “Os prêmios devem continuar fortes no decorrer do ano, porque o excedente no mercado nacional vai diminuindo “, disse Enilson Nogueira, da consultoria Céleres. Segundo ele, à medida que o Brasil elevar exportações, os prêmios tendem a aumentar.

Analistas observam que há limites para o Brasil ampliar suas vendas de soja à China, uma vez que o país não têm condições de atender toda eventual demanda adicional do país asiático. Considerando que o Brasil vai colher 115 milhões de toneladas na safra 2017/18 e que processará 43 milhões de toneladas – conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) – não sobrará muito soja para exportação.

Outro fator que deve limitar os embarques de soja em grão para a China é que produzir farelo de soja no Brasil está rentável atualmente em função da quebra da safra da Argentina, observou Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities.

Ele acrescentou que a China já vinha reduzindo as importações de soja americana nos últimos meses em retaliação ao governo de Donald Trump. Segundo o serviço alfandegário da China, o país importou 5,4 milhões de toneladas de soja em fevereiro, 2% menos que no mesmo mês de 2017. As compras do Brasil, no entanto, subiram 154,1% na mesma comparação, para 1,7 milhão de toneladas. Já as dos EUA recuaram 24,4%, para 3,6 milhões de toneladas.

Para Victor Ikeda, analista do Rabobank, um cenário mais improvável, porém, possível, é o Brasil exportar mais de 74 milhões de toneladas neste ano em função da maior demanda chinesa e importar soja dos Estados Unidos para atender o consumo doméstico.

Como alternativa para driblar a taxação chinesa, tradings americanas que operam no Brasil também poderiam exportar soja dos EUA à China por meio das operações brasileiras, avaliou uma fonte do setor.

Outro efeito do anúncio chinês ontem foi que os volumes negociados nos mercados futuros de soja, tanto no Brasil quanto em Chicago, foram elevados. “O comprador tentou fechar compras para garantir o fornecimento”, disse Andrea Cordeiro, da Labhoro. No mercado físico, por outro lado, os produtores evitaram fechar vendas. “A oferta ficou retraída com o produtor tentando decifrar essa guerra comercial, mas tinha muito comprador procurando fechar negócio hoje”, disse.

Ainda há muitas dúvidas no mercado sobre como a China fará a nova taxação da soja. Atualmente, o país já aplica um imposto de 13% sobre o grão americano. “Os 25% serão sobre os atuais 13% ou serão 25% no total?”, questiona Dejneka. Para Ana Luiza Lodi, analista de mercado da INTL FCSTone, esses detalhes são importantes para saber o rumo dos preços e do mercado, mas “a tendência é que a procura pela soja brasileira aumente”.

Ainda que os prêmios da soja brasileira na exportação devam subir, também há limites e a tendência é que o prêmio pago pela soja americana caia, tornando o grão americano mais competitivo no mercado global, lembrou Steve Cachia, da Cerealpar, do Paraná. Além disso, ressaltou Dejneka, os fretes americanos são mais baixos. “A depender dos detalhes da nova lei, a soja dos EUA pode não ficar tão cara”.

Analistas observaram ainda que os preços da soja em Chicago estavam altos e muito distantes dos fundamentos. Isso porque há muita soja no mercado internacional, os estoques americanos são os maiores da história (57,42 milhões de toneladas em 1º de março). “Os algoritmos e os gráficos dominam os preços de Chicago, mas os fundamentos são baixistas. Uma correção para US$ 9,70 o bushel não é uma aberração”, afirmou Dejneka.

A decisão chinesa gerou reação nos EUA entre produtores e grandes empresas do setor, como a Cargill. A companhia afirmou estar “profundamente preocupada” com o avanço das tensões comerciais entre EUA e China. “O impacto de um conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo pode levar a uma guerra comercial destrutiva com sérias consequências para o crescimento econômico e para a criação de empregos”, disse a empresa.

A Associação Americana de Soja, que reúne produtores dos EUA, exortou a Casa Branca a reconsiderar as tarifas que levaram à retaliação de Pequim. “Não se trata mais de uma possibilidade e a tarifa de 25% será devastadora para o sojicultor americano. Lamentamos que a atual administração americana não tenha conseguido conter as políticas da China”, disse John.

Fonte: Valor Econômico.

Antonio Senkovski

Repórter e produtor de conteúdo multimídia. Desde 2016, atua como setorista do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial) em veículos de comunicação. Atualmente, faz parte a equipe de Comunicação Social do Sistema FAEP/SENAR-PR. Entre as principais funções desempenhadas estão a elaboração de reportagens para a revista Boletim Informativo; a apresentação de programas de rádio, podcasts, vídeos e lives; a criação de campanhas institucionais multimídia; e assessoria de imprensa.

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