Sistema FAEP

Governo zera importação de feijão de países de fora do Mercosul

Medida tardia não deve segurar disparada dos preços

Frente a um quadro de desabastecimento de um produto considerado de primeira necessidade, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) propôs à Câmara de Comércio Exterior (Camex) a redução a zero da alíquota para importação de feijão de países de fora do Mercosul. Hoje a Tarifa Externa Comum (TEC) para importação é de 10%, sua retirada poderia favorecer a entrada no Brasil de feijão de países produtores como México e da China, por exemplo.

A medida é uma tentativa de minimizar a falta do produto, que fez o preço da saca do feijão carioca saltar de R$ 106,82, em maio de 2015, para R$ 225,89 em maio de 2016, fruto de problemas climáticos e da redução da área plantada nas últimas safras.
Na opinião do produtor de feijão e presidente do Sindicato Rural de Castro, Eduardo Medeiros, a decisão do governo tem caráter midiático e dificilmente irá resolver o problema. “Acho inócuo, quando esse feijão chegar, já teremos algum feijão por aqui. Além disso, temos que ver a que preço ele vai chegar. O governo está tentando dar uma satisfação à população”, avalia.

Outro ponto que deve ser observado, segundo o dirigente, é que tipo de subsídio gozam esses outros países exportadores. “Aqui nós temos uma questão sanitária que não permite que utilizemos uma série de produtos no feijão. Será que a China obedece às mesmas regras?”, questiona.

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders, a redução da tarifa de importação não deve prejudicar os produtores brasileiros, uma vez que o produto importado é o feijão preto, e não existe terceira safra desta variedade no Brasil. “Para o produtor do Paraná o impacto é zero, pois essa medida tem caráter de exceção de três meses, então não compete com a produção do Estado”, avalia.

Na opinião do especialista, o desabastecimento deve continuar até o início do ano que vem, quando entrará no mercado a primeira safra paranaense do grão. Nesse momento, outros Estados começam a vender a produção da terceira safra de feijão carioca, porém, isso não deverá fazer o preço do produto baixar, uma vez que o volume produzido é muito pequeno. “Trata-se de uma área muito pequena, e que foi reduzida ainda mais”, observa.

Segundo Lüders, o cenário atual traz uma rara oportunidade para que os produtores diversifiquem as variedades. Hoje a grande maioria das lavouras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste dedicam-se à produção do feijão carioca e do feijão preto. “Pela primeira vez na história estamos vendo que o consumidor gosta de feijão e está experimentando outras variedades, como o feijão vermelho o feijão rajado, entre outras”, observa.

Essa é a mesma opinião de Medeiros, “A crise gera oportunidades, essas outras variedades podem ser uma opção”.
Fórum

Um espaço para discutir o futuro da cadeia produtiva do feijão e alinhar as reivindicações do setor será o Fórum Brasileiro de Feijão 2016. O evento, promovido pelo Ibrafe, acontece de 13 a 15 de julho em Foz do Iguaçu. Mais informações no site: http://www.forumfeijao.com.br/

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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