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Forte consumo de lácteos pode causar déficit global até 2024

Conforme a pesquisa, mudanças nos hábitos de consumo e na demografia global colocam a indústria de lácteos em um período de transição

O consumo global de lácteos, incluindo leite, queijo e manteiga, deve aumentar 36% durante a próxima década, alcançando cerca de 710 milhões de toneladas equivalentes em leite líquido em 2024, segundo o Tetra Pak Dairy Index, pesquisa global sobre tendências na indústria de leite divulgado ontem pela gigante sueca de embalagens. E esse avanço, mostra o estudo, será puxado pelos países emergentes.

A demanda crescente, estimulada principalmente pelo avanço da população, maior prosperidade e urbanização na África, Ásia e América Latina, pode superar a oferta, segundo o estudo, criando um déficit nos próximos 10 anos, “o que levará inevitavelmente a uma alta dos preços”.

Conforme a pesquisa, mudanças nos hábitos de consumo e na demografia global colocam a indústria de lácteos em um período de transição – no atual cenário, elas olham cada vez mais além de seus próprios mercados para outras regiões do mundo, seja como fontes ou para vender seus produtos. Isso significa oportunidades mas também desafios, na análise da Tetra Pak.

Um reflexo desse cenário traçado pela pesquisa é o recente investimento da francesa Lactalis no Brasil. A empresa comprou alguns ativos da LBR-Lácteos Brasil, em recuperação judicial, por R$ 250 milhões, e a divisão de lácteos da BRF por R$ 1,8 bilhão. A lógica do investimento é exatamente crescer em mercados ainda não maduros e depender menos do mercado europeu.

O levantamento da Tetra Pak observa que, ao mesmo tempo em que buscam atender a maior demanda por lácteos nos países em desenvolvimento, as empresas do setor enfrentam queda de consumo em seus mercados domésticos. Na Europa e América do Norte, por exemplo, novos estilos de vida e exigências nutricionais causaram mudança significativa nos hábitos de consumo.

Nos EUA, revela a Tetra Pak, as vendas de leite estão em seus menores níveis em 30 anos. E menos da metade dos adultos americanos tomam leite atualmente. Já na Europa ocidental, o consumo de leite branco (longa vida, pó ou cru) caiu 0,8% nos últimos três anos. Para enfrentar esse quadro, as empresas têm investido em produtos de maior valor agregado e em inovações, principalmente para atender os jovens adultos, disse Dennis Jonsson, CEO mundial da Tetra Pak, em teleconferência para comentar a pesquisa.

Ao mesmo tempo, a crescente demanda em mercados menos maduros está incentivando companhias de lácteos locais a elevar sua própria produção. Segundo a Tetra Pak, para manter a qualidade da matéria-prima, essas empresas estão buscando países exportadores para formar parcerias. Mas com a competição por leite cru a cada dia mais acirrada, aumenta a pressão nas nações em desenvolvimento para investir em maior autossuficiência.

Ainda conforme a pesquisa, o consumo global de leite branco (longa vida, em pó ou cru) deve aumentar 1,8% (taxa de crescimento anual composta) entre 2013 e 2016, dos cerca de 212 bilhões de litros para em torno de 223 bilhões de litros, superando o crescimento de 1,2% visto de 2010 a 2013. E o esperado incremento na demanda na Ásia, Oriente Médio e África, não deve ser atendido localmente, uma vez que a produção nesses mercados deve avançar mais lentamente.

Além disso, a oferta de países exportadores de lácteos dificilmente conseguirá acompanhar o ritmo de crescimento dessa demanda, criando um “gap” entre disponibilidade e demanda na próxima década.

Na análise da Tetra Pak, a crescente demanda por lácteos vai acelerar a globalização da indústria do setor. Nesse cenário, “a cooperação e a consolidação serão mais importantes do que nunca para assegurar ofertas sustentáveis de leite e rentabilidade estável para as indústrias de lácteos”.

O estudo ressalta ainda que em abril de 2015, a União Europeia deve suspender as cotas de leite, sistema que tem restringido a produção por mais de 30 anos. A expectativa é de que as companhias de lácteos europeias tirem vantagem de novas oportunidades de exportação. A projeção é que os 28 países do bloco elevem a produção de leite cru em 11% entre 2012 e 2023. Mas um desafio para o setor na Europa é que a produção de leite deve logo exceder a sua capacidade de processamento.

Nesse quadro de avanço do consumo, sobretudo na Ásia e na África – onde há limites para crescimento da produção -, a expectativa é de que em 2017 a oferta comece a ser superada pela demanda, segundo a Tetra Pak.

Em outro dado da pesquisa, a importação global de leite fluido e em pó (excluindo o comércio entre os países da UE) deve ser impulsionada pela China entre 2014-2024, reflexo do rápido aumento da demanda local e da confiança na qualidade dos produtos importados, diz a Tetra Pak. A previsão é que a China dobre sua fatia nas importações globais de lácteos nos próximos 10 anos – de 6% em 2013 para 12% em 2024. Mas também se espera que o país invista mais em busca de autossuficiência – em 2013, esse índice já foi de 86%. Não à toa, Dennis Jonsson disse ontem, na teleconferência, que a China poderia se tornar uma exportadora de lácteos no futuro.

Mas, por enquanto, os déficits em lácteos na China – e na Rússia, outro grande importador – devem persistir. Segundo o Dairy Index, na China, deve sair de 9.119 toneladas em 2012 para 32.520 toneladas em 2024. Já na Rússia, sairá de 217 toneladas em 2012 para 5.245 toneladas em 2024.

Do lado dos exportadores, o excedente de oferta de lácteos da União Europeia deve sair de 27.799 toneladas em 2012 para 49.329 toneladas em 2024. No caso dos EUA, a projeção é de que aumente de 10.724 toneladas em 2012 para 25.602 tonelada em 2024, segundo o Dairy Index.

Com as perspectivas de continuidade do aumento da demanda num momento em que as ofertas diminuem, o levantamento da gigante sueca de embalagens projeta que os preços globais do leite devem continuar a subir na próxima década. Houve queda este ano durante a maior parte do período, mas a Tetra Pak não vê o comportamento como tendência.

Em 2913, os preços na UE subiram de cerca de € 34 por 100 quilos para € 40 enquanto na Nova Zelândia saltaram quase € 10. Eduardo Eisler, líder de marketing da Tetra Pak para as Américas, vê um mercado equilibrado no Brasil, pois embora a seca tenha afetado a oferta de leite em algumas regiões, há acomodação no consumo. E, apesar de incertezas na economia, Eisler avalia que o mercado nacional de lácteos deve voltar a crescer em 2015.
Fonte: Valor Econômico – 01/10/2014

 

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