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Exportação de milho deve bater recorde

A estiagem que castiga o Meio-Oeste e deve derrubar a produção de milho dos EUA teve reflexos imediatos na comercialização do grão no Brasil. As exportações foram retomadas e devem bater recorde (14 milhões de toneladas). Além disso, desde quarta-feira, quando o Departamento de Agricultura dos EUA cortou suas projeções para a colheita americana, os preços da commodity subiram mais de 12% no mercado brasileiro. Em julho, a alta acumulada é de 19,4%.

As tradings redirecionaram suas aquisições para o Brasil, que colhe a maior safra de sua história – 34,5 milhões de toneladas. Em duas semanas, 21 carregamentos, num total de 1,26 milhão de toneladas, foram acertados.

 

A constatação de que a estiagem que castiga o Meio-Oeste dos EUA pode derrubar a produção mundial de milho na safra 2012/13 teve reflexos imediatos sobre a comercialização do grão no Brasil, com a retomada das exportações – que em 2011 renderam US$ 2,7 bilhões ao país- e a escalada dos preços.

Desde quarta-feira, quando o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) cortou em mais de 46 milhões de toneladas sua projeção para a colheita americana, os preços da commodity registraram alta superior a 12% no mercado interno, até então indiferente às pressões altistas vindas de fora. Só em julho, as cotações acumulam alta de 19,4%, conforme o indicador Cepea/Esalq.

A perspectiva de escassez e a escalada dos preços nos EUA fizeram com que as tradings redirecionassem suas aquisições para o Brasil, que colhe a maior safra de sua história neste ano, graças à "safrinha" de inverno. Segundo Daniel D"Ávila, analista da corretora Newedge USA, estima-se que as multinacionais tenham acertado o embarque de 21 carregamentos (o equivalente a 1,26 milhão de toneladas) de milho brasileiro nas últimas duas semanas. Em todo o primeiro semestre, o país embarcou pouco mais de 1,8 milhão de toneladas, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

A mudança de cenário nos EUA pode levar a uma revisão das estimativas de exportação da safra 2011/12. Em seu último relatório, o USDA elevou de 12 milhões para 14 milhões de toneladas sua projeção para os embarques brasileiros no período – um recorde. A Conab ainda prevê um embarque de 12 milhões de toneladas, ante 9,3 milhões na temporada 2010/11, mas a tendência é que esse número seja revisado para cima em agosto.

Para Marcos Rubin, sócio da Agroconsult, que prevê embarques recordes de 14 milhões de toneladas no ciclo industrial 2011/12 (março de 2012 a fevereiro de 2013), o número só não deve ser maior porque parte dos embarques deverá ser realizado apenas no primeiro semestre do ano que vem, durante a entressafra americana. "Os EUA terão grande disponibilidade de milho nos próximos meses, mas o cenário pode ficar realmente crítico no ano que vem", afirma. Segundo ele, "não é nenhum absurdo" pensar em uma exportação de 16 milhões ou 17 milhões de toneladas no próximo ciclo.

Cleida Zilio, gerente comercial do Condomínio de Produtores de Campo Novo do Parecis (MT), conta que empresas estão comprando lotes de 10 mil a 12 mil toneladas de milho para exportação, enquanto o tamanho das compras habituais para esta época do ano é de apenas 1 mil ou 2 mil toneladas. "Geralmente, as tradings compram nosso milho para atender principalmente ao mercado brasileiro. Agora estão com foco no exterior e precisam encher navios com 60 mil toneladas de grãos". "Particularmente após a divulgação do relatório do USDA, as empresas decidiram que era hora de voltar a comprar o grão brasileiro", afirma Cléber Noronha, analista do Imea.

De acordo com analistas, a diferença de custo justifica a opção pelo milho brasileiro. D"Ávila observa que o prêmio pago pelo milho no Golfo do México, por onde os americanos escoam sua safra, chegou a US$ 0,70 por bushel (US$ 1,65 por saca de 60 quilos) sobre o preço praticado no mercado futuro de Chicago. Já em Paranaguá (PR), o produto é vendido com um desconto de US$ 0,35 por bushel (ou US$ 0,83 por saca) sobre o preço em Chicago. Para Vinícius Ito, analista da Jefferies Bache, as importações são viáveis até para consumidores americanos na Costa Leste, que arremataram um volume estimado em 420 mil toneladas nos últimos dias.

Até quarta-feira, o milho negociado em Chicago havia subido 33%, para US$ 7,1850 por bushel (US$ 16,97 por saca), em um único mês. No mesmo período, os preços no mercado interno, convertidos em dólar, avançaram apenas 5,4%, a US$ 12,28 por saca, de acordo com o indicador Cepea/Esalq. Desde então, os preços começaram a subir com mais força no mercado interno. Na sexta-feira, conta Cleida, alguns lotes de milho foram vendidos por R$ 20 a saca, ante R$ 15 em junho.

Até então, o preço praticado no mercado interno estava descolado da cotação internacional devido a estimativa recorde de produção de milho no país. De acordo com a Conab, o país deve colher 69,48 milhões de toneladas neste ano. Com isso, os estoques de passagem devem mais do que dobrar, de 5,9 milhões para 13,1 milhões de toneladas. "Até um mês atrás, tínhamos um cenário muito baixista para os preços do milho no mercado interno. Mas a quebra da safra americana mudou tudo. A tendência é de convergência entre os preços domésticos e internacionais", afirma Rubin. (Colaboraram Gerson Freitas Jr. e Mariana Caetano)

Fonte: Valor Econômico – 17/07/2012

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