Muitas vezes, o SENAR-PR é reconhecido como uma universidade à céu aberto, uma vez que leva para a prática diária do campo, de forma gratuita, conhecimento técnico de ponta, oferecido por profissionais de qualidade. Como os papeis das instituições de ensino superior e do SENAR-PR são complementares – o segundo faz com que o conhecimento da primeira chegue ao produtor rural – existem diversos pontos de convergência, como, por exemplo, o corpo docente. Em diversas regiões do Paraná, mais de 20 instrutores do SENAR-PR, com titulação de mestrado e doutorado, também são professores universitários.
É o caso de engenheira agrônoma Juliana Fazam, de Cambé, na região Norte, que participou, em 2015, da primeira formação para tornar-se instrutora do curso de Manejo Integrado de Pragas (MIP) – Soja. Com mestrado na área de entomologia (estudo dos insetos) e doutorado sobre formigas cortadeiras no currículo, Juliana certamente agrega este conhecimento às aulas que ministra aos produtores que buscam conduzir suas lavouras utilizando os inimigos naturais das pragas a seu favor, como preconiza o MIP.
De outro lado, essa troca também possibilita que seus alunos da pós-graduação na faculdade Fundação Assis Gurgacz (FAG) tenham uma vivência mais próxima da realidade do campo. “Estamos muito próximos da vida do produtor, do que é uma flutuação populacional de pragas, de precisar tomar decisões de controle. Isso você não vai ver no banco de uma universidade”, observa.
Um dos desafios (e vantagens) nesse intercâmbio está no trabalho com públicos distintos, como produtores rurais, muitas vezes sem formação superior, e jovens universitários, carentes de vivência prática. Neste contexto, é preciso utilizar abordagens diferentes com cada grupo. Até a linguagem muda.
“Eu consigo levar dinâmicas diferentes para dentro da universidade e vice-versa. Isso deixa o professor muito mais completo, tira da zona de conforto e deixa a aula muito mais completa e dinâmica”, avalia. “Às vezes levo uma caixa entomológica no curso do SENAR-PR ou um inseto vivo para os alunos da universidade olharem de perto, contar o número de pernas”, exemplifica Juliana.
Na opinião da jovem docente, “aliar a teoria à prática é a melhor forma de preparar os novos agrônomos, de forma mais consciente, para o mercado de trabalho”.
Intercâmbio de experiências
Essa troca entre ambientes distintos também é bastante enriquecedora na opinião do instrutor do SENAR-PR Clóvis Palozi, que leciona administração de negócios na Faculdade Unialfa, em Umuarama, na região Noroeste. Hoje doutor em Administração, ele estreou na sala de aula em uma turma-piloto do Programa Empreendedor Rural (PER), em 2003, formação que continua lecionando até hoje.
“Eu levo conhecimento de ponta para o produtor. Às vezes eu pego alguma coisa na universidade e penso ‘será que dá pra aplicar no SENAR-PR?’. Precisamos da teoria para a prática não ficar vazia. Mas só a teoria não traz a experiência. O grande ganho está em adaptar o conteúdo da teoria e colocá- -lo em prática, na vivência do fazer fazendo, que é o slogan do SENAR-PR”, afirma Palozi.
O PER, que preparar o produtor para ser um empresário rural e conduzir um projeto de negócio na sua propriedade com gestão profissional, é semelhante em alguns aspectos a um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma graduação. Há 11 anos orientando TCCs na área de administração, Palozi garante que a vivência no SENAR-PR também já contribuiu par a atuação acadêmica. “[do PER] já implantei projetos variados, desde fábrica de rapadura até curtume. Isso me deu um desenvolvimento em campo enorme. O conhecimento que eu trouxe do SENAR-PR ajuda muito na faculdade”, diz.
Desafio do conhecimento
Outra integrante do time dos instrutores do SENAR-PR que também lecionam em universidades é Jaciane Beal (foto no topo da página), de Assis Chateaubriand, na região Oeste. No SENAR-PR, ela ministra cursos nas áreas de manejo de caprinos, ovinos e operação de painéis de ambiência para frango de corte, enquanto dá aulas no curso de Medicina Veterinária na Faculdades do Centro do Paraná (UCP).
Para ambos cenários, ela se prepara bastante para atender as exigências dos alunos. “Na universidade, o estudo é mais detalhado, o que exige um preparo grande para entrar em sala de aula. Já no curso do SENAR, o produtor e o funcionário vão pôr a mão na massa, ou seja, outro grande desafio”, avalia.
Ainda, quando os alunos são os mesmos nas duas ocasiões, é possível traçar um paralelo interessante. “Principalmente nestes cursos de manejo no CTA [Centro de Treinamento Agropecuário], que têm muitos alunos de nível universitário, eles relatam que nos cursos do SENAR-PR aprendem mais e têm muito mais facilidade de compreensão. Como levamos para o lado prático e sem uma linguagem muito sofisticada, quebra-se uma barreira e o instrutor passa a ser um colega”, relata Beal.
No caso do instrutor do HortiMais, Fernando Chiamolera, de Guarapuava, a oportunidade de atuar junto ao SENAR-PR veio após concluir a formação acadêmica, inclusive no momento em que ele já atuava como docente. “O SENAR-PR tem como foco a formação do público rural por meio da andragogia [ensino de adultos] e que pode se distanciar da formação acadêmica, que em sua maioria, é composta por jovens. Porém, as formações e atualizações técnicas promovidas pelo SENAR-PR nos ajudam a entender melhor esse contexto global para aproximar teoria e prática”, finaliza.
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