“Vamos nos afogar em milho este ano.” A afirmação de Jeff Brown, 45 anos, da quinta geração de uma família de produtores no Estado americano de Illinois, resume a opinião da maioria das pessoas que plantam, comercializam ou processam milho diante de mais uma safra recorde nos Estados Unidos.
O clima úmido elevou as estimativas de uma gigantesca safra de milho, cuja colheita começa em setembro. O Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, prevê que a produção irá superar 14 bilhões de bushels, cerca de 355,6 milhões de toneladas, maior que o recorde de 2013.
Muitos analistas acreditam que o aguardado tour para avaliar a safra promovido pela Pro Farmer nesta semana fornecerá mais evidências de uma safra notável. E a demanda não deve crescer o suficiente para equilibrar essa oferta.
A queda nos preços do milho pode beneficiar os consumidores ao reduzir a inflação no supermercado em produtos que contêm o ingrediente, embora os analistas acreditem que poucos fabricantes de alimentos irão baixar os preços de forma significativa.
A expectativa de excesso de oferta derrubou o preço do milho em 14,5% neste ano, para perto das mínimas de quatro anos, após um recuo de 40% em 2013. Os contratos futuros de setembro, o vencimento mais próximo, caíram 1,37%, para US$ 3,60 por bushel, ontem na bolsa de futuros Chicago Board of Trade. Contratos para entrega em dezembro, após a colheita, caíram 1.46%, para US$ 3,72 por bushel.
A grande queda dos preços gerou esperanças entre alguns produtores de que compradores que buscam pechinchas possam impulsionar as compras. Mas uma avaliação atenta dos principais consumidores de milho indica que o crescimento da demanda enfrenta restrições significativas, mesmo com o grão tão barato.
Uma redução do rebanho significa que há menos animais nos EUA para alimentar. E a demanda americana por etanol – que é feito de milho nos EUA e adicionado na gasolina – já está no limite do teto fixado pelo governo. As exportações de milho, enquanto isso, sofrem com a queda das compras da China.
“Vamos ver pilhas de milho por todo o Meio-Oeste e vai demorar muito para que tudo seja consumido”, diz Jamey Kohake, operador de commodities da Paragon Investments, no Estado americano de Kansas. Ele está aconselhando seus clientes a vender o grão em qualquer alta e não esperar até os meses de inverno dos EUA. Kohake prevê que os futuros de milho caiam para US$ 3,20 por bushel antes de chegar a um piso no início de outubro.
O USDA prevê que os estoques de milho no próximo ano subirão para 1,808 bilhão de bushels, o maior nível desde 2006. Os preços podem se recuperar se, por exemplo, o tour da safra desta semana indicar que a produtividade será menor que o esperado. No tour – organizado pela Pro Farmer, um serviço de notícias e informações agrícolas – negociadores, analistas e repórteres visitam fazendas em sete Estados por quatro dias, medindo espigas e contando sementes. No fim do tour, a Pro Farmer divulga sua previsão para a produtividade média.
Alguns acreditam que o pessimismo em relação o milho irá mudar depois que a colheita terminar. “Uma vez encerrada a colheita […] provavelmente veremos uma grande queda [nos preços] e depois o foco na demanda fará com que eles subam novamente”, diz Chris Narayanan, diretor de pesquisa agrícola do Société Générale em Nova York.
Os rebanhos são os maiores consumidores do milho americano: 34% da oferta, segundo o USDA. A forte queda no preço do milho tem sido uma benção para os produtores de carne bovina, suína e de aves, com alguns incluindo mais milho na ração animal. Mas vários fatores devem limitar o crescimento dos rebanhos, como um vírus que causa diarreia nos suínos e levou a uma redução de 5% no número de porcos em um ano, segundo dados de junho do USDA. Além disso, anos seguidos de seca no sul das grandes planícies reduziram o gado para seu menor nível em 60 anos.
Cerca de 33% do milho americano normalmente vão para a produção de etanol, onde o consumo está limitado pelo teto imposto à mistura: a grande maioria dos veículos americanos não consegue rodar com gasolina que tenha mais de 10% de etanol, e a gasolina americana já está próxima do limite de 10% de etanol. Isso significa que a demanda de etanol nos EUA só pode aumentar se os americanos elevarem o atual consumo de gasolina. O Departamento de Energia estima uma pequena alta este ano, mas uma queda de novo em 2015.
Quanto às exportações, elas cresceram recentemente para alguns países como Peru e Colômbia. Mas as vendas para a China, um dos maiores compradores, minguaram com a rejeição por Pequim de grãos geneticamente modificados que não são aprovados na China. Os embarques para o país asiático no primeiro semestre deste ano caíram 86% ante o mesmo período de 2013, para 154.226 toneladas.
Fonte: Valor Econômico
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