Na última quinta-feira, dia 22, moinhos paranaenses e profissionais ligadas ao setor (órgão associativo dos produtores – traders, associação das cooperativas – OCEPAR, empresas de aditivos, etc), inclusive técnicos da FAEP, participaram de um evento organizado pelo Sinditrigo-PR, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba-PR. O objetivo era discutir sobre o setor e mostrar as ações da organização para o ano de 2018.
O evento iniciou-se com as palavras do presidente do Sindicato, Daniel Kummel, que previu um ano de mais ações em torno da mensuração da atividade do setor parceria com a Fiep. Na sequência, representantes da Fiep abordaram o assunto da Contribuição Sindical, que passou a ser facultativa, algo que poderia reduzir a atividade dos órgãos associativos em favor da indústria. Foi reforçada a necessidade de a indústria estar representada e associada, para discutir os novos rumos do mercado após as reformas propostas pelo governo, principalmente a trabalhista.
A reforma trabalhista foi usada como exemplo, pois permite a negociação individual das empresas com seus trabalhadores. Mas as leis trabalhistas seguem abrangentes, exigindo conhecimento e experiência em discussões deste tipo que muitas empresas não possuem, podendo a Fiep e os sindicatos atuarem auxiliando neste campo.
O presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria (Sipcep), Vilson Borgmann, apresentou dados consolidados da pesquisa de resultados do setor de panificação em 2017. Um ano fraco na expansão do negócio, algo esperado diante da situação de retomada da economia. Mas que trouxe uma realidade preocupante, a queda nas vendas do pão francês.
Os dados mostram que o ano de 2017 marcou inflação de 2,95%, e um crescimento no faturamento do setor de padarias em 3,2% sem descontar a inflação, logo com um crescimento real de apenas 0,25%. O faturamento nacional seria de R$ 90,3 bilhões, sendo que apenas no Paraná teríamos um faturamento de R$ 6,5 bilhões. Outros dados relevantes foram os aumentos do fluxo de clientes e do tíquete médio em relação à 2016.
Porém o mais alarmante para toda a cadeia do trigo veio da redução em -3,4% na venda de pão francês, o carro chefe das padarias e um dos produtos que mais consome farinhas de trigo no Brasil e por consequência trigo no Brasil. Apesar disso, o faturamento com o pão francês cresceu 0,3%, com o aumento de preços compensando a redução nas vendas.
Diante da redução de demanda do principal produto, Borgmann destacou a necessidade de medidas que fomentem o consumo dos produtos de panificação. Preocupa bastante a onda dos produtos sem gluten e a desinformação em torno da saudabilidade do consumo dos derivados de trigo.
Em um estudo realizado via pesquisa direta aos moinhos, departamento de estatística da Fiep realizou o levantamento da moagem de trigo no Paraná, um dado que deve ser feito anualmente pelo Sinditrigo-PR, em parceria com os órgãos associativos das indústrias paranaenses.
Estes dados mostraram que 44,4% dos entrevistados moeram menos de 50 mil toneladas de trigo em 2017; 11,1% moeram entre 50 a 99,99 mil toneladas; 33,3% moeram entre 100 a 149,99 mil toneladas e 11,1% moeram 150 mil toneladas ou mais. Estes dados mostram muito mais a capacidade de produção (ou porte da empresa) dos entrevistados, do que um dado direto de produção, ainda assim, utilizando-se estes dados estimou que a moagem paranaense de trigo foi de 2,44 milhões de toneladas, indicando queda anual de 5%.
Um dado que sem dúvida não pode ser observado de forma isolada com o dado acima citado da retração nas vendas do pão francês e a situação frágil da economia no ano de 2017.
Outra pesquisa interessante mostrada pela equipe de estatística da Fiep foi a expectativa dos entrevistados em relação a produção de 2017, quanto à moagem em 2018. No documento, verifica-se que 55,6% dos entrevistados imaginavam produção acima de 2017 neste ano. A expectativa é de que a recuperação da economia e retomada de ex clientes podem fomentar este aumento de moagem. Outros 33,3% projetam 2018 com moagem igual e 11,1% estimam redução na moagem. 55,6% dos entrevistados que esperam que a moagem vai aumentar, 50% destes acham que a moagem vai crescer em até 5% no ano (que é um grande crescimento) e a outra metade (50%) projeta aumento acima de 20%.
Na sequência do evento, Edson Csipai, da Bunge Alimentos, sobre os desafios do trigo na safra 2017/18, destacando uma visão bastante altista, a partir de dados de disponibilidade de trigo nos estados produtores e da grande negociação de trigo argentino para outros países que não o Brasil.
Contextualizando a safra mundial de trigo em 2017/18, Csipai destacou os recordes de produção e de estoques, e isso em partes explica a condição até quase o final do ano safra, sem grandes sobressaltos nos preços (até este mês pelo menos). Focando no Mercosul (3% da produção mundial), Csipai destacou o descompasso em relação ao restante das regiões produtoras, com queda anual de 23% na colheita da região.
Isso afeta a oferta brasileira, já que o trigo paraguaio está fora de mercado, assim como o Uruguai, ambos com baixas produções. Isso sem falar na colheita brasileira, estimada pela Bunge em 4,0 milhões de toneladas, contra 4,3 milhões de toneladas pela Conab. Desenhando um traçado de futuro, o executivo prevê uma forte arrancada nos preços, baseando-se na baixa disponibilidade de excedente de trigo no mercado interno. Ainda segundo o executivo da Bunge, o Paraná teria apenas 350 mil toneladas de trigo 2017/18 ainda por serem negociadas, e no Rio Grande do Sul 300 mil toneladas.
Mesmo com tão pouco trigo a ser negociado, os preços seguem baixos. Csipai mostrou a paridade dos Campos Gerais e da região de Curitiba destacou a paridade do trigo argentino como contentor dos preços. No interior, com maiores fretes dos portos para os moinhos, pesa a necessidade de abertura de espaço físico para a safra de verão, sendo que o trigo acomodado de março em diante, podendo ter outra política de preços. Em um curto espaço de tempo, preços internos poderiam se consolidar nos R$ 700-720/ton FOB, pedidas hoje mais consideradas como bids e não negócios na maior parte das regiões.
Fonte: Gabriel Ferreira, de AF News Análises e Consultoria
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