Não há dúvidas. A cada novo dado econômico, a cada nova avaliação técnica, está mais evidente que o Paraná tomou a decisão correta ao iniciar o processo para se tornar área livre de febre aftosa sem vacinação. Essa questão ficou ainda mais clara no dia 19 de março quando representantes das principais entidades ligadas ao agronegócio paranaense se reuniram, na sede da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), em Curitiba, para definir os próximos passos do processo. Na ocasião foi apresentado o estudo “Paraná livre de febre aftosa sem vacinação: análise e perspectivas”, elaborado por técnicos da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
O material demonstra que existem diversos ganhos potenciais com o novo status sanitário que o Paraná passará a gozar com a retirada da vacina. Mais uma vez: não é na só bovinocultura que estes ganhos se darão, apesar de bovinos e bubalinos serem as espécies vacinadas. As outras cadeias de proteína animal guardam grandes possibilidades de ganho, inclusive econômicos para os pecuaristas. O reconhecimento da nova condição sanitária credencia o Paraná a acessar novos mercados que pagam mais pela qualidade.
“O governador Carlos Massa Junior, onde vai, embora sensível a algum apelo, tem afirmado que não há recuo. O Estado tem que avançar este ano”, confidencia o secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara. Segundo ele, o governador reafirmou este compromisso recentemente, encaminhando carta à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, comunicando a intenção do Paraná de antecipar a retirada da vacinação. “Tudo isso traduz um sentimento coletivo, que não unânime, mas sob meu ponto de vista, representa a maioria, de que vamos de fato experimentar um avanço”, complementa.
Na suinocultura, onde o Paraná desponta como segundo maior produtor nacional, a expectativa é de abertura de novos – e importantes – mercados para a carne paranaense. Hoje os frigoríficos paranaenses não têm acesso aos principais países importadores deste tipo de proteína. China, Japão, México e Coreia do Sul respondem por 64% do comercio mundial e, hoje estão de portas fechadas para o suíno paranaense. De acordo com o estudo, com o fim da vacinação, o Paraná estaria apto a exportar sem restrições de mercado para estes quatro países, um mercado potencial adicional de 5,1 milhões de toneladas. Em um cenário em que o Paraná consiga 2% deste mercado potencial, as exportações do Estado dobram, passando das atuais 107 mil toneladas para mais de 200 mil toneladas, de acordo com o estudo.
Paralelo aos ganhos econômicos com a venda dos produtos, existem outras vantagens. De acordo com o assessor da presidência da FAEP, Antonio Poloni, que participou da reunião, com o status de área livre sem vacinação, o Paraná teria um cartão de visita de primeira grandeza sanitária, podendo se beneficiar de três situações: “Primeiro a garantia de manutenção dos mercados já conquistados, impedindo que sejam estabelecidas barreiras sanitárias legais. Em segundo, a prioridade na competição para acessar novos mercados ou mercados que não atingimos hoje, como o Japão. O terceiro ponto é a prioridade na ocupação do espaço nas perdas de mercado por motivos sanitários de países concorrentes”, explica.
De acordo com o estudo apresentado pelos técnicos da Seab, o preço médio da carne suína brasileira exportada foi de 2.360 dólares/tonelada em 2017. Em 2018, fatores como a operação “Carne Fraca”, da Polícia Federal, e greve dos caminhoneiros arranharam a imagem da carne brasileira no mercado internacional. Fruto desse processo, o preço médio pago por tonelada da carne suína caiu para 1.880 dólares. Nesse período, Santa Catarina, o único Estado brasileiro a gozar do status de livre de febre aftosa sem vacinação, conseguiu vender sua carne suína para mercados como Japão e Coreia do Sul, abertos somente para áreas sem vacinação. O preço médio para estes países foi de 3.330 dólares/tonelada (janeiro a outubro de 2018), o que representa 77% a mais do que o preço médio da carne suína no Brasil, aponta o estudo.
Desta forma, a obtenção deste novo status sanitário irá beneficiar diretamente uma cadeia importante para a economia do Paraná. Este pleito conta com apoio total do Sistema FAEP/SENAR-PR, como destaca o presidente da entidade, Ágide Meneguette. “Este não é um pleito de ninguém especificamente. É um programa de Estado, para manter o produtor produzindo no campo, com renda e dignidade. A FAEP e o SENAR-PR continuam à disposição para trabalhar pela economia do Paraná”, destaca.
O posicionamento da entidade vai ao encontro da visão do diretor-executivo do Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Paraná (Fundepec), Ronei Volpi, que também participou da reunião. “Hoje existe uma constatação mundial, inclusive na Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), de que não há mais como avançar em sanidade baseado apenas estruturas governamentais. Em todo mundo, não há como avançar sem efetiva integração público-privada”, observa.
O pleito sanitário pelo reconhecimento de área livre de febre aftosa sem vacinação não é de hoje. Em 2010 um estudo realizado por integrantes da Seab, da FAEP e da Universidade de Brasília (UnB), com objetivo de analisar a relação custo-benefício de estratégia de controle da doença no Paraná, concluiu que a cada R$ 1 investido nesta área, o retorno seria de R$ 1,341.
Autoridades
Além do secretário Norberto Ortigara, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette, assessor da presidência da FAEP, Antônio Poloni, e presidente do Fundepec, Ronei Volpi, participaram da reunião o presidente da Adapar, Otamir César Martins, representantes da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), o superintendente do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná, Cleverson Freitas, e o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar, na ocasião representando a Federação das Indústrias do Paraná.
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