A revista de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicou, em sua edição de abril, um Caderno Especial sobre a agropecuária do Paraná. A revista é respeitada por oferecer e informações precisas e relevantes para a tomada de decisão no agronegócio. Em suas edições mensais o leitor encontra matérias sobre meio ambiente, ciência e tecnologia, mercado internacional, legislação, pesquisa e desenvolvimento, negócios, cadeias produtivas, conjuntura econômica e setorial, entre outros assuntos. A imparcialidade e seriedade com que a informação é tratada, assim como a qualidade de seus artigos, fazem da Agroanalysis uma das mais importantes publicações formadoras de opinião voltada para o setor.
O Boletim Informativo da FAEP inicia a reprodução das matérias publicadas pela Agroanalysis. Nesta edição apresentamos a entrevista com o presidente da FAEP e presidente do Conselho do SENAR-PR, Ágide Meneguette.
O agronegócio tem sido constantemente citado como o setor que tem sustentado a economia brasileira, e o Paraná é um dos protagonistas, com sua base tradicionalmente agrícola. Qual é o cenário para os próximos anos?
O Paraná é um Estado com vocação agrícola e um grande exportador; basta verificar sua posição no ranking de proteína animal e grãos. Estamos produzindo mais e com mais qualidade. O crescimento de produtividade dos últimos anos tem sido constante e acima da média nacional.
Para mantermos essa posição nos próximos anos, precisamos aliar o avanço científico e tecnológico a uma modernização da gestão da propriedade. Seguindo a tendência de outros países que são grandes produtores mundiais, teremos que reduzir custos e trabalhar de forma racional para que a propriedade continue viável.
Temos que melhorar a nossa eficiência. Temos produtores de soja que estão utilizando novas tecnologias, produzindo com médias superiores a 65 sacas por hectare. Estes produtores terão melhores condições de sobrevivência mesmo diante da situação econômica adversa que fez com que o preço da saca fosse menor do que o comercializado na safra passada.
Isso exige cada vez mais qualificação, e é aí que entra o papel do SENAR-PR de capacitar o trabalhador e o produtor rural.
O que poderia ser destacado como evolução da agricultura nos últimos anos?
Os motivos do crescimento vão desde novas tecnologias, passando por genética com novas cultivares, até aumento da produtividade via mecanização, o que pressupõe capacitação. Certamente que nesta área o SENAR-PR deu sua contribuição para tal ganho de produtividade. Hoje, o Brasil é um grande agente fornecedor, e, no Paraná, que teve sua fronteira agrícola toda ocupada, a produtividade vem sendo a grande alavanca da produção.
A qualificação da mão de obra acompanhou esse desenvolvimento? Como o SENAR-PR tem se preparado para atender essa demanda?
Não basta a tecnologia se não houver alguém preparado para colocá-la em prática; um profissional com capacidade de pensar antes de tomar decisões, de forma planejada. Acredito que vamos passar por uma transformação muito grande no agronegócio nos próximos anos. Precisamos preparar uma nova geração com consciência de que temos que trabalhar. É por isso que, nos últimos anos, estamos investindo numa Formação Profissional Rural, buscando a empregabilidade e a manutenção das famílias no campo, para que o produtor use a tecnologia a seu favor.
A cada ano, a população rural tem diminuído, com os jovens sendo atraídos para a cidade. A sucessão familiar é uma das preocupações para a manutenção das propriedades rurais. Como lidar com isso?
Nosso entendimento é que, se o filho do produtor avaliar que a propriedade é um bom negócio, naturalmente se sentirá atraído por esse objetivo. É pensando assim que muitos jovens estão se formando e voltando para o campo, para gerenciar o negócio da família.
O SENAR-PR tem dois programas importantes voltados para a juventude: o Jovem Agricultor Aprendiz e o de Aprendizagem de Adolescentes e Jovens, com a finalidade de prepará-los para as atividades na propriedade.
Uma das preocupações constantes é sobre o crescimento populacional em relação à produção de alimentos. O Brasil é sempre apontado como um grande celeiro. Até que ponto temos condições de suprir essa demanda?
O Paraná é um estado com aproveitamento de sua área agrícola. Ainda temos muito a crescer, aumentando nossa produtividade por meio de novas tecnologias onde é possível. Ainda há muita tecnologia disponível e que precisa ser bem utilizada, principalmente em relação à fertilidade e à conservação dos solos.
O produtor rural pode comprar as máquinas e os equipamentos mais modernos e caros do mundo, mas o seu capital mais importante continuará sendo a sua terra. É nela que ele produz, e é dela que ele tira o sustento de sua família. Entendemos, ainda, que o produtor deve, paralelamente às suas atividades econômicas específicas, exercer o papel de protagonista de ações de proteção do meio ambiente nas propriedades e nas comunidades onde vive.
O bom uso do solo e a preservação das fontes hídricas nas propriedades – em especial, a proteção de nascentes – valorizam a propriedade e aumentam a produtividade. É por isso que trabalhamos em parcerias. Uma delas é com o governo do estado no programa Plante Seu Futuro, de boas práticas agrícolas.
Precisamos diversificar em busca de produtos com maior valor agregado. O Paraná tem 532 mil propriedades rurais, em sua maioria representadas por pequenas e médias. A nova agricultura tem que se adaptar ao tamanho delas para manter o homem no campo com boa renda. É o caso da avicultura e da pecuária de leite que atendem esses produtores.
O Paraná tem muito ainda a se desenvolver e tem muitas alternativas econômicas. Mas, tudo isso precisa ser feito de forma planejada, pensada, e é por isso que investimos tanto em programas como o Empreendedor Rural e cursos de gestão da propriedade. Nenhuma tecnologia surtirá efeito sem que consigamos obter o melhor dos recursos humanos que dispomos.
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