Uma legião de mulheres marcou presença em Cascavel, no Oeste do Paraná, para participar de um dia dedicado ao protagonismo feminino no campo. O 10º Encontro de Produtoras Rurais, realizado no dia 4 de agosto, foi palco da mobilização de 650 mulheres de diversas regiões do Estado, envolvendo palestras sobre agronegócio e desenvolvimento pessoal. O evento foi promovido pela Comissão Feminina do Sindicato Rural de Cascavel, grupo local que integra a Comissão Estadual de Mulheres da FAEP (CEMF), com apoio do Sistema FAEP/SENAR-PR.
A comissão local de Cascavel surgiu há 10 anos, com o objetivo de unir as mulheres e fortalecer a presença feminina no sindicato rural. O Encontro de Produtoras Rurais foi idealizado para complementar a proposta, consolidando-se como um espaço de fala e representatividade. Desde então, o grupo tem se desenvolvido, expandindo suas ações e obtendo reconhecimento pelo trabalho na região. Junto a isso, o evento também cresceu, atingindo seu maior público neste ano.
A presidente da Comissão Feminina do Sindicato Rural de Cascavel, Maria Beatriz Orso, que também faz parte da coordenação regional da CEMF, apontou a criação da Comissão Estadual e dos diversos grupos de mulheres nos sindicatos rurais como um dos principais incentivos a essa mobilização. “Foi muito gratificante esse trabalho para trazer as comissões do Estado. É uma oportunidade única para ver a força que a mulher do agro tem”, destacou.
Com a criação da Comissão Estadual em 2021, foram formados 31 grupos locais nos sindicatos rurais, com mobilização de mais de 1,3 mil mulheres. “Quando surgiu o convite para estar à frente da Comissão Estadual, me perguntei como iríamos conseguir, mas o resultado está aqui. Não posso deixar de citar a participação da comissão de Cascavel nesse processo, madura, com anos de experiência. Essas experiências, nossos erros e acertos, nossa união, é isso que faz o nosso grupo crescer”, reforçou a coordenadora da CEMF e vice-presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Lisiane Rocha Czech.
Conquistas de espaços
O crescimento do número de mulheres mais preparadas para reivindicar o protagonismo nos negócios rurais, dentro e fora da porteira, também foi exemplificado em números. De acordo com um levantamento feito pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), 31% das propriedades rurais brasileiras estão sob comando feminino.
“As mulheres, cada vez mais, estão despertando seu interesse dentro da nossa cadeia produtiva. Hoje, a mulher está se capacitando, buscando resultados e conquistando seu espaço. Ela está ao lado do pai, do marido e dos filhos mostrando sua capacidade empreendedora e participando das decisões. Faz parte da diretoria de sindicatos, associações e cooperativas para nos representar onde seja necessário, levando sua contribuição política para dentro do sistema”, afirmou Maria Beatriz.
Na avaliação do presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso, as mulheres paranaenses vêm demonstrando muita força em suas mobilizações, o que representa um imenso potencial para o setor como um todo.
“A mulher está complementando, com muita capacidade e sabedoria, o agro paranaense. O sindicato está conseguindo trazer as mulheres, que estão ajudando a mostrar para toda a comunidade paranaense a importância da família rural”, declarou.
O prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, destacou a inserção das mulheres em diversos setores da economia, além do agronegócio, e reconheceu a importância dessa conquista. “A gente tem visto anúncios no mundo sobre o desempenho das mulheres. No ano passado, a revista Forbes trouxe uma lista das ‘100 Mulheres Poderosas do Agro’. A palavra ‘poderosa’ não está concentrada apenas nessas 100 mulheres, mas mostra a realidade”, concluiu.
Conhecimento para liderar
A gestão de propriedades rurais foi um dos tópicos abordados durante o encontro. O economista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp)Thiago Bernardino de Carvalho falou às mulheres sobre os desafios que se apresentam no futuro do agronegócio brasileiro. Segundo ele, é necessário investir em capital humano, tecnologia e infraestrutura para gerar bons resultados no campo e atender às demandas da população mundial.
“O Brasil tem mais terras agrícolas sem uso do que qualquer outro país. A América do Sul tem grande quantidade de água disponível. O que precisamos é melhorar a nossa vantagem competitiva. Gestão não é só custos, envolve todo o ambiente da propriedade. O mundo está de olho no Brasil e o produtor precisa estar atento às principais preocupações destes países e a todos os processos que estão acontecendo”, resumiu.
O palestrante também destacou pontos importantes para se obter um diagnóstico correto da propriedade rural, permitindo traçar um planejamento estratégico viável e condizente com a realidade. “Para estar no máximo potencial produtivo, tem que estar com os melhores fatores. Em cenários normais, a gestão já é tarefa importante. Em cenários de estresse, pode representar a diferença entre continuar na atividade ou fracassar”, pontuou.
Um momento da programação foi reservado à produtora rural Márcia Piati, que deu um depoimento sobre como deixou a carreira na docência para administrar a propriedade da família, em Céu Azul, após perder o pai de forma inesperada. Quando assumiu o negócio, em 2008, eram 331 hectares. Hoje, sob seu comando, são mais de 500 hectares, que acumulam dezenas de prêmios em concursos de produtividade. Em 2018, ela ficou em terceiro lugar na categoria Grande Propriedade do 1º Prêmio Mulheres do Agro.
“Durante muito tempo, foi como se eu fosse invisível. Na época que assumi a propriedade, eu não conhecia nenhuma produtora na nossa região. Com o passar dos anos, fui encontrando outras mulheres e fomos nos unindo”, contou Márcia, que também faz parte da diretoria do Sindicato Rural de Céu Azul e da coordenação da comissão local de mulheres do município. “Hoje é uma realidade totalmente diferente. É maravilhoso poder divulgar a força da mulher e poder incentivar outras a também estarem nesse caminho”, afirmou.
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