Sistema FAEP

Economista da FAEP analisa o comportamento dos preços de 2011

Por Gilda M. Bozza*

Mercado Externo

O comportamento dos preços das commodities não se fundamenta simplesmente em oferta e demanda específicas e variações climáticas, mas também em variáveis macroeconômicas e financeiras mundiais.
Nos anos recentes, a especulação financeira passou a fazer parte do mercado de commodities agrícolas – "produtos padronizados e não diferenciados, cujos preços são formados em bolsas de mercadorias".  No caso das commodities agrícolas, há uma forte relação entre o preço do petróleo e a soja e milho.  Com isso, o mercado de commodities agrícolas tornou-se mais interdependente e suscetível a crises.

Em 2011, as cotações internacionais das principais commodities agrícolas – soja, milho e trigo – registraram médias elevadas, apesar da volatilidade a partir do segundo semestre por conta das turbulências financeiras na União Europeia.

Uma somatória de fatores, como a lentidão na retomada do crescimento econômico dos Estados Unidos, a crise europeia (crise grega, problemas na Espanha, Portugal e Itália) e as questões no Oriente Médio e Norte da África, o terremoto no Japão contribuíram para a gangorra registrada nos preços internacionais das commodities agrícolas.

Com isso, as commodities enfrentaram sobe-e-desce, em razão da fuga de investidores com a queda nos preços e o consequente refúgio no dólar.

No caso da soja, apesar de apontar queda de preço a partir de setembro (16%), com o recrudescimento da crise europeia, o preço médio anual ficou em US$ 29,07 por saca, o maior preço desde 2008 (US$ 27,09/saca).
O Brasil, segundo produtor mundial de soja e atualmente primeiro exportador mundial, comercializou no mercado internacional 32,9 milhões de toneladas de soja em grão, com receita de US$ 16,3 bilhões.  O preço médio de exportação foi de US$ 495,00/tonelada ou US$ 29,70 por saca.  Via Porto de Paranaguá foram exportadas 6,9 milhões de toneladas e receita de US$ 3,3 bilhões.
Para o milho, a média de 2011 foi de US$ 15,99 por saca, com aumento de 69% sobre os preços praticados em 2010 (US$ 9,47/saca). Vale lembrar que o grão enfrentou períodos de preços baixos e teve os preços alavancados em 2010 com a estiagem na Rússia, Ucrânia e União Europeia, que afetou a cultura do trigo. Com isso, abriu maior espaço para o milho no mercado mundial a partir da proibição pelo governo russo das exportações de trigo.  A esperada recuperação dos estoques mundiais não se concretizou haja vista problemas climáticos. A safra norte-americana apontou quebra de 30 milhões de toneladas, o que possibilitou o quadro de preços elevados.

Em 2011, o Brasil exportou 9,5 milhões de toneladas de milho, com receita de US$ 2,6 bilhões, com preço médio de exportação de US$ 277,00/tonelada ou US$ 16,62 por saca.   Pelo Porto de Paranaguá foram exportadas 1,5 milhão de toneladas e receita de US$ 426 milhões.
Para o trigo, a média foi de US$ 15,71 por saca, um crescimento de 30% relativamente aos preços de 2010 (US$ 12,10/saca).

O quadro seguinte traz os preços das commodities no mercado internacional no período 2006 a 2011.

PreçosInternacionais – (US$/saca)

 

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Soja

14,38

19,50

27,09

22,07

22,23

29,07

Milho

  6,20

  8,86

17,84

  9,17

  9,47

15,99

Trigo

  8,93

15,25

17,60

12,22

12,10

15,71

Fonte:Bolsa de Chicago – CBOT

No mercado de câmbio, no primeiro semestre/11, a variação do dólar frente ao real foi negativa em 4,6%, ao mesmo tempo em que as commodities em análise registravam picos históricos.  Já a partir de setembro, com o aprofundamento da crise europeia, o dólar reagiu e acumulou alta de mais de 15% até dezembro.   Ocorre que, a aversão ao risco implicou em saída dos fundos das commodities agrícolas e refúgio no dólar, com consequente queda nas commodities agrícolas e aumento da taxa de câmbio.

Apesar de dólar baixo ser desfavorável para o setor agropecuário, a alta em setembro/11 amenizou a pressão baixista vinda dos preços internacionais das commodities agrícolas. O dólar mais alto confere maior competitividade aos produtos agrícolas brasileiros.

Mercado Interno

A safra 2010/2011 de grãos, foi de 31,12 milhões de toneladas, menor que a safra 2009/2010 de 32,82 milhões de toneladas.  As geadas ocorridas em junho/11 afetaram as culturas de milho e trigo. As perdas decorrentes das adversidades climáticas somaram R$ 1,44 bilhão.  No milho safrinha, a perda foi de 2,65 milhões de toneladas, passando de 8,18 milhões de toneladas para 5,53 milhões de toneladas. Já no trigo, a perda foi de 400 mil toneladas, com produção de 2,48 milhões de toneladas.  O prejuízo estimado é de R$ 170 milhões.

De um modo geral, os principais produtos agrícolas registraram crescimento acima do índice oficial de inflação – IPCA, de 6,5%, com exceção do segmento da suinocultura, que apontou queda de 7%, enfrentando um quadro de preços em queda e custos em alta.

Os preços da soja, a partir de março, apontaram queda à medida da entrada da safra e ensaiaram reação com a alta do dólar em setembro. O preço médio pago ao produtor foi de R$ 42,08 por saca, cerca de 17% superior à média de 2010 (R$ 35,95 por saca). Os preços evoluíram 17%.

No caso do milho, os preços foram firmes ao longo de 2011, encerrando com média de R$ 22,41por saca, um crescimento de 45,5% sobre 2010 (R$ 15,40/saca).  Cabe ressaltar que em 2010 os preços ficaram abaixo do custo de produção e dos preços mínimos de garantia.  Com isso, em 2011, o segmento pode sair de uma situação difícil e experimentar um folego, com preços remuneradores.

Os preços do trigo fecharam 2011 com média de R$ 25,52 por saca, um aumento de apenas 7,7% sobre 2010 (R$ 23,69/saca), não internalizando a alta de 30% dos preços internacionais do cereal. Enquanto produtores de outros países lucraram com a cultura, os triticultores brasileiros continuam em dificuldades, pois esse preço está abaixo do preço mínimo estipulado pelo Ministério da Agricultura e não fecha a conta dos custos de produção, fato que se tornou recorrente desde a criação do Mercosul.

A cultura do trigo tem a característica de cultura de risco, porquanto pode sofrer perdas decorrentes de adversidades climáticas próprias do inverno a ainda o risco de mercado, em razão da forte dependência externa.  A intervenção do governo é que tem propiciado liquidez ao mercado, minimizando os prejuízos dos triticultores.

DETI

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