Por André Amorim
Há oito meses, o produtor Itacir Festugatto, de Pato Branco, passou por maus bocados na atividade leiteira. Problemas de mastite e um aborto prejudicaram a produção e geraram despesas extras. Coisa corriqueira quando se fala em atividade rural, que por natureza é repleta de imprevistos, mas que seria muito pior se todos os ovos da fazenda estivessem na mesma cesta.
Na propriedade de sete hectares, Festugatto dedica um hectare para a produção de hortaliças, que vende para mercados, restaurantes e para as merendas escolares estaduais e municipais. Essa possibilidade surgiu em 2009, quando foi criada a Cooperativa da Agricultura Familiar de Pato Branco, da qual o produtor foi o primeiro presidente.
De lá pra cá foram promovidas capacitações para que aqueles pequenos proprietários que trabalhavam com bovinocultura de leite incorporassem uma nova opção de renda na mesma propriedade. Além de hortaliças, foram realizadas ações de capacitação na área de suinocultura e seus derivados, e de piscicultura. “Tudo que a agricultura produz a gente tenta incluir na merenda”, explica.
Quando decidiram criar a cooperativa, os produtores procuraram o Sindicato Rural de Pato Branco, em busca da expertise administrativa e legal para formalizar a iniciativa. “A Clemilda foi a mãe da cooperativa, ela nos deu todo o apoio e estrutura para a gente ir em frente”, afirma, referindo-se à secretária executiva do sindicato, Clemilda Dala Costa Marques Carneiro. Hoje a cooperativa conta com 80 associados na região, que têm como principal benefício o apoio na ponta da comercialização da produção.
“Para quem é pequeno produtor a saída é a diversificação” avalia Festugatto. “Se plantar um hectare de horta dá mais que dez hectares de grãos, pois gira a produção todo o dia. Além disso, para quem tem pouca terra é inviável comprar maquinário”, diz. Na sua propriedade ele produz salsa, cebolinha, almeirão, couve, alface lisa e crespa e chicória. São 8 mil unidades a cada 40 dias, vendidas a um preço médio de R$ 1,50. “Em janeiro, só de horta deu R$ 13.200,00” conta o produtor.
Na área do leite são 65 vacas, sendo 25 em lactação. Sua estrutura inclui uma sala de ordenha com capacidade para oito animais, e quatro são ordenhados por vez. Sua produção média é de 470 litros por dia. O produto é ensacado na própria propriedade com a marca Festugatto. É vendido nos mercados e direcionado para a merenda escolar. Parte do leite também é transformado em iogurte. Quem cuida dessa parte é a esposa de Itacir, Carmen Festugatto. “O iogurte que ele fazia era muito aguado, depois que eu peguei pra tocar até aumentaram as vendas”, brinca ela. A propriedade tem capacidade para produzir 300 litros de iogurte, mas a fabricação varia conforma a demanda, o produto é comercializado em embalagens de um litro nos sabores coco e morango.
Vendido nos mercados, o litro de leite é cotado em torno de R$ 1,80, quando é destinado à merenda escolar, Festugatto recebe R$ 2,05 por litro. O contrato para a merenda compreende a compra de 100 mil litros de leite e 8 mil litros de iogurte ao longo do ano. A produção excedente é entregue a um laticínio da região. “Se houver algum problema na produção eu não vou deixar de entregar para os mercados, senão eu perco o cliente”, diz.
Organização na ponta do lápis
Para conciliar as duas atividades é necessário ter organização, principalmente na área financeira. “Se eu tiro dinheiro de uma atividade e coloco em outra, quando eu vou ver quebrei as duas atividades”, avalia. Para não haver imprevistos, o produtor programa a cria das vacas durante a entressafra das hortaliças. Além disso, ele e a esposa mantém um controle criterioso de entradas e despesas.
Na produção leiteira, o trabalho é essencialmente familiar, Itacir e Carmen trabalham na ordenha e o filho faz as entregas. Na parte de hortaliças ele tem um sócio para ajudar nas vendas.
“Pouca terra não é desculpa. Se você organizar, não dá muito trabalho. É preciso incentivar e motivar o produtor a explorar a propriedade”, avalia Festugatto.
Para se especializar na produção leiteira, a família buscou capacitações do SENAR-PR. Um dos cursos foi feito no Centro de Treinamento para Pecuaristas (CTP) de Castro, na região dos Campos Gerais. “O Sindicato de Pato Branco deu todo apoio financeiro”, lembra Itacir.
Outro projeto que vem dando suporte aos pequenos produtores do município é o Programa de Desenvolvimento da Agricultura (Prodeagri), da prefeitura de Pato Branco. Através dele, os agricultores podem captar, a fundo perdido, até R$ 2 mil. “Parece pouco, mas para o produtor é um dinheirão. E eles não dão em dinheiro, dão em material”, afirma Festugatto. Para ser contemplada, a propriedade deve ter até três módulos rurais de Pato Branco e 80% da renda oriunda da agricultura.
Para o produtor são três os grandes parceiros da atividade rural no município: a prefeitura (através do Prodeagri), a vigilância sanitária “nos ajuda muito na parte de legislação e sanidade”, e o sindicato rural “que nos ajuda em tudo”. Com isso o resultado é produção, renda e qualidade de vida para pequenos proprietá- rios da região. “O nosso diferencial aqui é que as entidades são parceiras”, atesta o presidente do Sindicato Rural de Pato Branco, Oradi Caldato.
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