A simulação de uma pulverização aérea, conduzida em Goioerê, no Noroeste do Paraná, comprovou que a adoção de um conjunto de boas práticas garante segurança total nessa modalidade de aplicação de defensivos. Na ação, a deriva – deslocamento de gotículas pulverizadas para fora da faixa-alvo da aplicação – não chegou a 50 metros: distância pelo menos cinco vezes menor que a área de segurança definida por lei. A demonstração fez parte do dia de campo “Boas práticas na aplicação aérea”, promovida pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), com apoio do Sistema FAEP/SENAR-PR, além de outras empresas e entidades.
Na demonstração, o avião fez as aplicações ao longo de uma faixa linear de 400 metros de extensão, em uma lavoura de soja. Para comprovar as áreas em que houve deposição – onde as gotículas efetivamente caíram –, posicionaram-se papelotes a cada cinco metros, a partir da faixa de aplicação, até se chegar a um raio de 100 metros (veja o infográfico). Para pulverizar o produto, a aeronave fez voos rasantes, a alturas entre três e cinco metros, a partir do topo da cultura.
A análise dos papeis comprovou que a deposição se concentrou na faixa de aplicação. A partir de 30 metros desta área, já não se verificava concentração considerável do produto. Dos 50 metros em diante já não havia vestígios das gotículas pulverizadas. O índice de deriva verificado se encontra, com grande margem, dentro da área de segurança estabelecida pela Instrução Normativa (IN) 2/2008, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A norma estabelece que as aplicações aéreas sejam feitas a uma distância mínima de 500 metros de cidades ou bairros, ou de 250 metros de mananciais e moradias isoladas.
“As boas práticas minimizam os riscos na aplicação aérea, a ponto de praticamente eliminá-los. Qualquer pulverização dentro dessas boas práticas vai ser completamente segura para a sociedade. Os parâmetros ficam dentro da legislação vigente, dentro do considerado aceitável pelos órgãos ambientais e das diretrizes do Mapa”, observou o professor Ulisses Rocha Antuniassi, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), especialista em aplicação aérea e que conduziu a prática.
Outro ponto que chama a atenção é que a aplicação se mostrou segura – com deriva dentro da margem de segurança definida em lei – mesmo com a demonstração tendo sido feita em condições meteorológicas adversas. Durante o voo, o vento chegou a 21 quilômetros por hora, quando o ideal é inferior a 9 quilômetros por hora. “Se fosse para fazer uma aplicação convencional, o avião nem teria decolado, porque o vento pode favorecer a deriva. Nós fizemos, por se tratar de uma demonstração. E ainda com o vento superior, a deriva ficou bem abaixo do limite estabelecido”, disse o professor.
Para a técnica do Departamento Técnico da FAEP Elisangeles Souza, que monitora temas diretamente relacionados ao controle de agroquímicos, o evento atesta que a IN 2/2008 garante, com folga, que a pulverização aérea não implique em riscos ambientais nem às comunidades no entorno das propriedades. “A legislação fala em 250 [metros] e em 500 metros, como área de segurança. Se comprovou que a deriva ficou em uma área pelo menos cinco vezes menor. Isso quer dizer que a legislação é bem segura em relação a essa questão de prática no campo”, apontou.
Pilares da segurança
Para se chegar a esse resultado, no entanto, o professor Ulisses Antuniassi destacou que, além de seguir as determinações da legislação, é imprescindível adotar uma série de boas práticas – que ele divide em “três pilares”. O primeiro é a gestão da informação. Neste aspecto, o produtor e a empresa aérea devem fazer um levantamento do entorno – identificando eventuais áreas sensíveis e de segurança – e estabelecer um mapeamento da aplicação, respeitando as faixas de segurança.
O segundo ponto é adequar o plano de aplicação aos aspectos meteorológicos. Ou seja, deve-se proceder a pulverização apenas diante de condições de tempo consideradas ideais, observando, por exemplo, a temperatura e a umidade, além da direção e da força do vento. Tudo isso, levando-se em conta o tipo de produto a ser aplicado e as especificações que constam da bula.
O terceiro pilar, segundo o especialista, é a adoção de técnicas que reduzem a possibilidade de haver deriva. Neste ponto, a empresa deve levar em conta a composição da cauda do avião e a altura do voo de pulverização, de acordo com as condições do tempo e do tipo de lavoura. Entre os aspectos técnicos, o professor destaca o ajuste do espectro de gotas, que dimensiona a espessura das gotículas que serão pulverizadas sobre a plantação. “Quer reduzir a deriva, tem que se evitar gotas menores, que estão mais suscetíveis ao vendo e às condições atmosféricas. É muito melhor optar por gotas médias”, pontuou.
Bom senso
Ainda segundo o professor, a cada safra, cerca de 25% das aplicações de defensivos no Brasil são feitas por aviões. Para o especialista, o tema merece ser analisado com serenidade e bom senso. Ele observa, por exemplo, que é preciso analisar o tipo de cultura, dimensão e a área em que se encontra a lavoura, para definir qual é o melhor método de controle de pragas. A aplicação de defensivos por meio de aviões é inviável, por exemplo, a pequenas propriedades, mas é indispensável a plantações extensas, principalmente a culturas como soja, algodão, milho e cana-de-açúcar.
“Em muitas culturas, em muitas regiões, não precisa de aplicação aérea. Mas em outras, é imprescindível. Na cana, por exemplo, depois que ela atinge dois metros, não tem como fazer aplicação, sem ser pela plataforma aérea. Mais de 60% das aplicações em cana adulta têm que ser feitas por avião, porque não dá para fazer de outra forma”, ressaltou. “Do ponto de vista técnico, eu posso dizer que o controle químico é seguro. Do ponto de vista de sociedade, digo que é fundamental que coexistam técnicas diferentes, como agricultura orgânica e controle químico, para que possam se complementar e que a gente possa gerar segurança alimentar para a sociedade”, apontou.
A técnica da FAEP destacou que o evento representou mais uma oportunidade de se disseminar informação técnica e qualificada, em relação a um tema que é alvo de uma série de preconceitos por parte de segmentos da sociedade. “É importante a gente trabalhar com informação segura e favorecer esse nivelamento de informação”, disse Elisangeles Souza.
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