Em 2014, o engenheiro de aquicultura Helton Bartoszik começou a implantar tanques para criação de rãs-touro, como forma de diversificar a produção na chácara dos pais, em Virmond, região Sul do Paraná. Ele estava de olho na rentabilidade da atividade: considerada nobre, a carne de rã custa cerca de R$ 70 o quilo. Com o passar do tempo, outros agropecuaristas da região também se interessaram pela ranicultura, mas havia necessidade de conhecimento técnico para começar a estruturar uma cadeia produtiva. Por meio do sindicato rural da vizinha Laranjeiras do Sul, os produtores bateram à porta do SENAR-PR, que não dispunha de capacitação voltada à área em seu catálogo. Mas a pedido dos produtores, a entidade desenvolveu um curso sob demanda.
Realizado no município de Virmond, em 2020, a capacitação foi ministrada ao longo de três dias, pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) André Muniz Afonso, abordando desde noções básicas até técnicas mais avançadas de manejo. O curso foi determinante para que a produção de rãs-touro começasse a se estruturar na região e os produtores comercializarem a proteína. Segundo Bartoszik, o volume produzido só não é maior porque a região ainda não dispõe de um frigorífico para o abate dos animais.
“A realização do curso foi uma demanda de nós, produtores, que queríamos ver como funcionava manejo, produção e mercado, principalmente a questão de engorda e da sanidade. Os participantes estão produzindo com melhor técnica e estrutura adequada. Hoje, tudo que a gente produz, a gente escoa para o mercado. O SENAR-PR foi importantíssimo”, ressalta Bartoszik. Hoje, ele mantém um ranário com capacidade para 3 mil animais, atividade desenvolvida de forma paralela com a fruticultura e piscicultura.
O curso de ranicultura em Virmond é só mais um exemplo de como, além de oferecer mais de 250 cursos permanentes em seu catálogo, o SENAR-PR também atua de forma a atender às demandas pontuais de produtores e sindicatos rurais, criando ações específicas de acordo com as necessidades da localidade. Só em 2022, a entidade já promoveu 33 eventos sob demanda, entre cursos, oficinas e palestras, relacionados a diversas áreas, como alho, mandioca, queijo, pitaia e até de alimentos sem lactose. Teve, ainda, capacitações como remoção de abelhas, filetagem para congelamento e de pescados. Entre outras ações, foram realizadas palestras motivacionais e a demonstração em Agricultura de Precisão (AP).
Diversificação no campo
A busca por cursos que não estejam entre os mais de 250 disponíveis no catálogo da entidade demonstra a diversificação da produção agropecuária do Paraná. Essa abertura do SENAR-PR também destaca a sua preocupação econômica e social de levar formação qualificada a todas as microrregiões do Estado, de acordo com a vocação local. Assim, a entidade contribui para o desenvolvimento das respectivas localidades e, por conseguinte, do Paraná.
“Quando um grupo de produtores, por meio dos sindicatos rurais, procura um curso que ainda não está em nosso catálogo, isso mostra a diversificação do setor e a preocupação em produzir com excelência. O papel do Sistema FAEP/SENAR-PR é colaborar com o desenvolvimento do setor agropecuário. Nesse sentido, o conhecimento técnico é fundamental”, observa o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.
“Quando recebemos demandas pontuais, percebemos movimentos regionais em torno de uma nova cultura e/ou serviço. Isso faz com que levemos para estas regiões especialistas que ajudarão na consolidação de uma atividade. Estes movimentos são muito importantes e têm o apoio do Sistema FAEP/SENAR-PR”, define a diretora técnica da entidade, Débora Grimm. “Isso aumenta a nossa responsabilidade em levar um profissional que possa atender às expectativas e responder aos questionamentos dos produtores”, acrescenta.
Desenvolvimento
Também sob demanda dos produtores, dois cursos de plantio e cultivo de alho foram realizados em Santa Maria do Oeste, na região Central do Paraná – município que tem condições de clima e de solo favoráveis à olericultura. Segundo o secretário Municipal de Agricultura, Clemente Francisco Borecki, mais de 70% dos produtores rurais da localidade provêm da agricultura familiar e precisam de alternativas para ampliar suas fontes de renda. Neste sentido, os agricultores e a prefeitura optaram por pedir apoio técnico ao SENAR-PR, por intermédio do Sindicato Rural de Pitanga.
“Os produtores não pararam por aí. Após os cursos, fizeram visitas técnicas a Santa Catarina, em regiões que se notabilizam por serem grandes produtoras de alho roxo. Conversamos com pesquisadores e produtores de lá. Fizemos uma parceria e já deixamos encomendadas sementes de alho. Estamos nos estruturando”, diz Borecki.
Na avaliação do secretário, os cursos têm sido determinantes para ajudar a manter os produtores rurais no campo, com mais renda e qualidade de vida. No que depender dele, a parceria com o SENAR-PR vai continuar firme e forte. Além disso, Borecki ressalta o papel desses cursos para levar desenvolvimento às localidades, principalmente em municípios como Santa Maria do Oeste, que dependem essencialmente da agropecuária em pequenas propriedades. Para ele, as capacitações catapultam a geração de oportunidades e de renda.
“Nosso município tem potencial e os pequenos agricultores precisam de renda. Os jovens que foram para as cidades estão voltando, graças à olericultura”, observa. “Estamos sempre abertos às demandas dos produtores. Quando trazem interesse em alguma área, a gente vai atrás. E o SENAR-PR tem respondido. É uma parceria que funciona bem. Tanto que já temos uma série de outros cursos planejados, em morango, pepino e em tomate, que é o nosso carro-chefe”, acrescenta.
Em Virmond, depois do curso de ranicultura levado pelo SENAR-PR, a produção de rãs se consolidou como alternativa de renda para inúmeras famílias. Como a capacitação abrangeu todo o processo produtivo, os alunos acabaram se dedicando a etapas distintas da atividade, criando elos na cadeia. “Tem alguns produtores focados só em reprodução, outros trabalhando com engorda. Eu, por exemplo, estou focado na engorda. Pego [os anfíbios] com quatro ou cinco meses e crio até a terminação”, explica Helton Bartoszik. “Isso tem movimentado o setor”, avalia.
Toda essa estruturação tem dado certo. O poder público também tem estimulado a produção. A prefeitura, por exemplo, realiza periodicamente a Feira do Peixe Vivo e da Rã-Touro. Já famoso no município, o evento tem contribuído com a popularização da carne de rã, fazendo com que a iguaria esteja cada vez mais presente na mesa da população. “A rã tem uma carne nobre, de excelente qualidade. Como é um produto valorizado, tem sido uma alternativa interessante na geração de renda”, observa Bartoszik.
Sindicatos rurais são o caminho para os pedidos de treinamentos
O SENAR-PR dispõe em seu catálogo mais de 250 cursos fixos, voltados a inúmeras atividades e áreas de interesse, de acordo com a vocação do Estado. Entretanto, se um grupo de interessados quiser ter conhecimento técnico em um setor específico que ainda não está contemplado pelos títulos disponíveis, é possível solicitar que seja desenvolvida uma ação específica – um curso, uma palestra ou uma atividade de apoio, por exemplo. Para isso, o ideal é que os produtores procurem o sindicato rural mais próximo, para que este apresente a demanda ao SENAR-PR, por meio de ofício.
Entretanto, para que o pedido seja atendido, é preciso que já haja um número razoável de produtores interessados na atividade relacionada à solicitação. “Estamos disponíveis para atender às diversas demandas do Estado. Porém vale ressaltar que os atendimentos fora de catálogo possuem um custo para sua realização, pois normalmente temos que contratar especialistas para estes atendimentos. Por isso, precisamos viabilizar um número de produtores que justifique essa contratação”, observa Débora Grimm, diretora técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Em relação ao catálogo fixo de capacitações do SENAR-PR, os produtores e trabalhadores rurais podem consultar as capacitações disponíveis neste link.
Capacitações também geram benefícios sociais
Além de impulsionar o desenvolvimento econômico, as capacitações do SENAR-PR sob demanda também proporcionam benefícios do ponto de vista social. Em Guarapuava, no Centro-Sul, por exemplo, após um curso sobre cultivo de orquídeas promovido pelo SENAR-PR a pedido de produtores, as participantes passaram a se organizar em um grupo ativo, que deu origem à Associação de Orquidófilos de Guarapuava (AOG). Hoje, 21 associados se encontram em reuniões mensais. Em agosto, a entidade promoveu sua primeira exposição e concurso, com visitação aberta ao público e venda de exemplares. O evento teve apoio da prefeitura e do Sindicato Rural de Guarapuava.
“Isso abre as portas para que as produtoras tenham o interesse de participar ainda mais do setor”, diz Evelyn Linter Pfann, vice-presidente da AOG. “O ciclo social das participantes se ampliou bastante. Estamos sempre conversando, trocando informações sobre cultivo, aprendendo”, acrescenta.
O curso que deu origem a essa movimentação foi realizado em 2016, a pedido de Evelyn. De uma família de produtores rurais – dedicados ao cultivo de grãos e à bovinocultura de leite –, ela tinha começado a cultivar orquídeas em casa, mas as plantas acabavam morrendo. “Eu fui pesquisar e soube que tinha um grande especialista. Como tinha outras interessadas, nós fomos ao sindicato ver se não era possível trazê-lo. Juntou tanta gente, que tivemos que dividir o curso em duas turmas”, relembra a orquidófila. “Depois, foram feitos outros cursos e palestras, todos muito bons”, acrescenta.
Hoje, Evelyn mantém um orquidário na garagem de casa. No caso dela, o cultivo é considerado um hobby que se dá por amor às plantas. A orquidófila, no entanto, aponta que além dos ganhos em qualidade de vida ocasionado pela união das produtoras, há mulheres que viram no cultivo uma alternativa de geração de renda. Como exemplo, ela menciona duas associadas da AOG, que fizeram o curso do SENAR-PR e se tornam produtoras comerciais de orquídeas.
“De um orquidário, a produtora pode pensar em ações para incrementar, para tirar uma renda. Tem muitas pessoas que fizeram o curso e que estão pensando em alternativa. Em Pitanga, Carambeí e Ponta Grossa [municípios vizinhos] têm orquidários. E toda essa movimentação é boa para a cidade. Nosso evento, mesmo, atrai visitantes, turistas”, enumera Evelyn.
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