Todos os meses, o Conseleite, conselho paritário que reúne representantes dos produtores e das indústrias de laticínios do Paraná, publica o valor de referência para a matéria-prima leite no Estado. Esse valor, que serve de base para a maioria das negociações entre pecuaristas e agroindústrias, trouxe transparência e tranquilidade para uma cadeia produtiva que operava sem balizas claras. Mas afinal, como é formado este número? Quais os critérios que norteiam os cálculos do valor de referência? De que forma este índice reflete a realidade do campo, para que as negociações sejam justas para ambas as partes?
Estas são algumas perguntas que muitos pecuaristas fazem na hora de vender seu produto. A resposta passa por uma explanação técnica, um pouco complexa – mas extremamente necessária – para que não restem dúvidas em relação à transparência e à idoneidade do Conselho e da metodologia responsável pelo cálculo dos valores de referência. Definitivamente, esses números são definidos a partir de um processo rígido e balizado.
Essa metodologia foi elaborada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma instituição isenta, que coordena a câmara técnica do Conseleite Paraná, juntamente com oito representantes dos produtores, indicados pela FAEP, e oito da indústria, apontados pelo Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite-PR).
Para calcular o preço de referência, a UFPR levanta, junto às indústrias, os volumes de produtos lácteos vendidos naquele período ao atacado e o preço recebido por cada um. Para este cálculo, são considerados 14 produtos que compõem o chamado “mix de comercialização”: leite spot, leite UHT, leite pasteurizado, queijo muçarela, queijo prato, queijo parmesão, queijo provolone, requeijão, manteiga, bebida láctea, creme de leite, iogurte, doce de leite e leite em pó.
Após o levantamento, estes dados são submetidos à análise estatística, de acordo com a metodologia aprovada pelo Conselho, que considera os seguintes parâmetros: preços médios dos produtos; participação da matéria-prima no custo total; rendimento industrial da matéria-prima na fabricação dos derivados e a participação percentual de cada derivado no mix de comercialização.
Para entender este último item, vale um exemplo prático: em determinado mês, a venda de queijo prato estava aquecida, então a indústria passou a produzir mais do produto em detrimento ao leite UHT, por exemplo, aumentando a participação deste tipo de queijo no mix.
Ocorre que dependendo do produto, há maior ou menor participação da matéria-prima. Neste caso, um quilo de queijo necessita de quase 10 litros de leite para ser fabricado, enquanto um litro de UHT necessita de apenas um litro desta matéria-prima. Essas variações, que ocorrem com os 14 produtos que compõem o mix, estão previstas na metodologia para que não ocorram distorções.
Para que esse cálculo seja fiel à realidade do campo paranaense, a metodologia da UFPR também considera os custos de produção dentro da propriedade rural. Como não é possível estabelecer um indicador para cada propriedade de leite do Estado, foram eleitos quatro modais que representam os sistemas que ocorrem com maior frequência no Paraná, no que se refere a tamanho da área e da produção, características do rebanho, índices zootécnicos e fatores financeiros.
Para chegar nesses quatro sistemas típicos de produção, o Conselho utilizou um estudo interinstitucional realizado por diversas entidades, como FAEP, Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), Emater e Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), que envolveu dados de aproximadamente 27 mil produtores de leite do Paraná. O fator de ponderação de cada sistema para compor o custo médio final foi a participação de cada um dos quatro sistemas no volume de leite recebido pelas empresas participantes do Conseleite Paraná.
Na opinião do produtor de leite Elson Tamaio, de Umuarama, na região Noroeste, essa metodologia proporciona mais transparência nas relações entre produtores e indústria. “Com o Conseleite, fica mais claro que o valor repassado pelo atacado, seja com lucro ou com prejuízo, é dividido proporcionalmente entre produtor e indústria. Agora sabemos que o lucro não fica só com a indústria”, observa.
Ainda, para Tamaio, depois da atualização dos parâmetros para o cálculo, promovido pela Câmara Técnica do Conseleite em outubro de 2019, o valor de referência está mais próximo dos valores praticadas pelo mercado. “Depois dessa revisão, ele está mais próximo da realidade”, avalia.
Do lado da indústria, o sentimento é o mesmo em relação ao Conselho. “Acho o Conseleite uma ferramenta importante. Vale lembrar que ele indica tendências de mercado. Não vai determinar preço de leite, mas mostrar a tendência do mercado e aquilo que a indústria tem capacidade para pagar”, avalia Valdomiro Leite, diretor da indústria de laticínios Latco.
Outro ponto que vale destacar é que o Conseleite não estabelece um preço mínimo para o leite. O valor de referência se aplica ao leite padrão e há uma escala de ágios e deságios sobre esse valor de acordo com parâmetros de qualidade e volume do produto entregue pelo produtor rural.
Veja os gráficos e saiba mais no Boletim Informativo.
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