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Confinamento para abate não justifica desconforto, aponta congresso

Três dias de discussões apontaram que sociedade precisa cuidar mais de animais em confinamento até a hora do abate

O 3º Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal, realizado nesta semana em Curitiba, reacendeu discussões acaloradas em relação ao tratamento dado a bovinos, suínos e frangos em confinamento. Os especialistas, a maioria veterinários, admitiram a necessidade de intensificação da produção para alimentar a crescente população mundial, mas tentam garantir cada vez mais conforto aos animais.

O Brasil ainda precisa adequar sistemas de produção tidos como estruturados, avaliou a palestrante Rosângela Poletto, do Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). Os certificados internacionais de bem-estar não aceitam, por exemplo, que as matrizes sejam mantidas em baias, como ocorre e mais de 90% dos criadouros, apontou.

“Ainda existe grande dificuldade de conciliar bem-estar e cuidado com o meio ambiente”, disse a pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Maria José Hötzel. Os selos de qualidade tendem a considerar também questões sociais.

Sem fome nem sede

O bem estar exige que os animais não passem fome ou sede. Isso parece óbvio, mas há uma série de implicações. Os frangos criados atualmente, segundo os especialistas, crescem rápido porque têm uma fome insaciável. Eles propõem revisão dos critérios de seleção genética, para escolha de frangos de linhagens menos famintas. O uso de promotor de crescimento é apontado como agravante, uma vez que interfere nos hábitos naturais de alimentação.

E não basta livre acesso a comida e água. O ideal é que a comida seja adequada a cada idade, que não haja deficiência de nutrientes. Além disso, o local de alimentação deve ser mantido limpo e organizado.

No caso de um bovino recém-nascido, por exemplo, o bezerro tem direito a receber colostro de vaca (primeiro leite após o parto), mesmo que tenha sido necessário congelar o alimento. Água fresca é exigida a qualquer tempo, mesmo para criações em áreas abertas em regiões de clima quente.

Ambiente seguro

Nenhuma fazenda recebe certificado de que cuida bem dos animais se não tiver sombra para que os bichos descansem, conforme os especialistas. São indicados abrigos para tormentas com espaço para todo o rebanho, no caso de bovinos criados a pasto. Se não houver árvores no campo, é preciso construir galpões e, dependendo do caso e das características do rebanho, instalar ventiladores e umidificadores.

A concentração de animais por metro quadrado deve permitir a livre movimentação. No Brasil, segundo os especialistas, há alta concentração de frangos e suínos nos criadouros. Um exemplo: a maioria das matrizes suínas é mantida em baias durante a gestação, o que é reprovado por boa parte dos selos de qualidade, uma vez que o animal passa a maior parte do dia na mesma posição.

Tudo precisa ser planejado, desde a construção dos alojamentos, que não devem ter chão escorregadio nem oferecer risco de ferimentos ou choques elétricos fortes. Umidade excessiva no chão também é motivo para reprovação de um criadouro.

E não adianta secar tudo no dia da visita do auditor (sim, as visitas têm data marcada). Eles olham as patas dos animais e conseguem identificar se o chão é mantido seco. Os pés dos bichos recebem atenção especial por causa de doenças.

Manejo cuidadoso e abate

Os animais não podem ser agredidos ou conduzidos para o abate de forma traumática. Cada pessoa que trabalha com os animais precisa ser devidamente treinada para isso (e os cães também, para que não mordam os bichos).

Os cursos incluem aulas sobre a anatomia dos animais e como isso define o tratamento mais adequado a eles. Os bovinos não podem ser erguidos pela cauda ou pelas pernas, por exemplo. O esforço é para evitar dor e desconforto. O transporte deve ser reduzido.

Algumas regras valem para qualquer rebanho: o manejo não deve gerar estresse, mesmo que para isso os trabalhadores tenham que manter silêncio; no parto, a assistência não deve acelerar o nascimento, apenas ajudar a matriz suína ou bovina; todos os animais doentes devem receber tratamento veterinário e, se não responderem, ter o sofrimento interrompido por sacrifício (sem mais sofrimento).

Sem dúvida, o abate dos animais é um momento crucial. Os métodos tradicionais usados nos sítios que matam suínos com facas ou galinhas com torção do pescoço são condenados. Se o animal grita ou se debate, é prova de que está sofrendo, dizem os veterinários. Então, ele precisa ser primeiro atordoado (desmaiado) e depois abatido.

Fonte: Gazeta do Povo – 11/08/2014

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