Nos últimos anos os preços pagos tanto pelo ATR soma total dos açúcares contidos na planta que são, efetivamente, aproveitados no processo industrial para a produção de açúcar e álcool) da cana-de-açúcar e pela saca de soja praticamente dobraram. O bom momento dos grãos no mercado internacional motivou uma análise econômica comparando a rentabilidade na produção de cana-de-açúcar e da oleaginosa no Paraná. A demanda partiu da Comissão Técnica de Cana-de-Açúcar da FAEP, que realizou, nesta quinta-feira (23), sua primeira reunião de 2021.
O encontro aconteceu por meio de videoconferência, reunindo participantes nas principais regiões produtoras do Estado e os técnicos da FAEP sediados em Curitiba, e serviu também para apresentar aos novos integrantes do colegiado o funcionamento da comissão.
A abertura da reunião foi feita pelo presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette, que destacou a situação atual enfrentada no Paraná de estiagem severa e seus impactos na produção de energia. “Nossos rios estão secos, as minas d’água secando também. E hoje enxergamos que com essa confusão da política nacional, não irá se resolver em um ano aquilo que não foi feito durante décadas”, alertou, referindo-se a investimentos em outras fontes de geração de energia. Desta forma, uma alternativa é a produção de energia solar fotovoltaica, a exemplo do que foi feito no Centro de Treinamento Agropecuário (CTA) do SENAR-PR em Assis Chateaubriand. “Nos EUA a energia solar corresponde a 3% e eles querem ir para 40%. Aqui no Paraná o projeto da usina solar que fizemos em Assis já está em funcionamento e gerando energia”, afirmou.
Após uma rodada de apresentações dos participantes, na qual foi possível colher impressões das principais regiões produtoras do Estado, a presidente da Comissão Técnica, Ana Thereza da Costa Ribeiro, deu boas-vindas aos novos integrantes e apresentou a pauta do encontro. Após uma apresentação dos cursos do SENAR-PR na área de cana-de-açúcar, a dirigente destacou os trabalhos do Sistema FAEP/SENAR-PR desenvolvidos pontualmente para esta cultura, a exemplo dos seminários voltados ao controle do capim camalote e à praga do bicudo.
Soja ou Cana?
Na sequência, o técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR Luiz Eliezer apresentou uma análise de rentabilidade das culturas da cana-de-açúcar e da soja. No que se refere à área cultivada, nos últimos 10 anos, é possível verificar uma expansão na área de soja de 26%, enquanto a da cana encolheu 17% no Paraná. Eliezer também verificou o aumento de área da oleaginosa nos cinco principais municípios produtores de cana-de-açúcar do Estado e constatou que a soja avançou sobre a área de outras culturas, não apenas da cana.
No que tange à produtividade das duas culturas, enquanto a soja vem assimilando novas tecnologias e apresentando tendência de alta, mesmo diante de quebras de safra, na cana é possível observar que a produtividade do ATR permaneceu praticamente estagnada ao longo dos anos.
Segundo Eliezer, é muito difícil comparar as duas culturas, pois ambas têm sistemas de produção, remuneração e ciclos produtivos bastante distintos. “O etanol é majoritariamente voltado ao mercado interno. Já a soja é mais exposta ao mercado externo”.
No que se refere a preço, não há uma tendência clara que diferencie as duas atividades. Nos últimos anos, o valor de remuneração quase dobrou. A soja subiu 161% e a cana 101% entre 2013 a 2021. “Alta do dólar impacta a produção das duas. Mas na hora de vender a soja o repasse é instantâneo. No caso da cana isso não acontece, essa transmissão do câmbio não é imediata. O etanol depende do preço do petróleo, não é apenas um fator que vai impactar o preço, temos que avaliar todo contexto”, analisa Eliezer.
Ainda sobre o câmbio, as duas culturas tiveram seus custos de produção bastante impactados pela alta do dólar. Ao longo dos anos, a rentabilidade da soja é positiva e quando ocorre alguma queda brusca, tem relação direta com o clima. Já a cana-de-açúcar tem conseguido pagar o desembolso dos produtores durante a safra, mas encontra dificuldade em arcar com a depreciação das máquinas e outros custos. A safra 2020/21 foi a primeira em oito anos em que os produtores conseguiram pagar todas as contas. “Nesse ano, a cana devolveu 16 centavos por cada real investido”, completa o técnico do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Workshop
Outro tema tratado na reunião foi a realização de um workshop voltado ao funcionamento do Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado do Paraná (Consecana-PR), conselho estabelece as projeções de preço para a cana básica, servindo de importante referência para o setor. O objetivo desse evento é alinhar e esclarecer dúvidas sobre o funcionamento do conselho, suas normativas e a metodologia utilizada para compor as projeções de preços.
Segundo a técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR responsável por assessorar a comissão, Elisangeles de Souza, “entrou muita gente nova como conselheiro do Consecana, desta forma sentiu-se a necessidade de alinhar o conhecimento dos participantes. Esclarecer dúvidas dos novos e atualizar os antigos membros para que todos entendam o funcionamento desse conselho”, afirmou.
O workshop será destinado aos produtores da Comissão Técnica da FAEP e técnicos das empresas representantes das indústrias no Consecana-PR. O evento deve acontecer entre outubro e dezembro deste ano.
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