Novembro é época de iniciar o controle da broca-da-erva-mate, principal praga da cultura, devido ao alto potencial de dano às plantas e prejuízo econômico aos produtores. As fêmeas do besouro Hedypathes betulinus depositam seus ovos sob as cascas dos ramos e dentro do tronco da erveira, que é danificada pela ação das larvas do inseto.
“É uma praga silenciosa, que ataca a planta por dentro, causando danos mais severos. Está atingindo quase 100% dos ervais. Em novembro, o inseto sai do tronco para fazer o acasalamento. Por isso é o período ideal para controle, pois o inseto fica visível no erval e pode ser contaminado pelo produto com mais facilidade”, explica Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Desde 2010, o controle da broca-da-erva-mate pode ser realizado com o uso de um produto biológico desenvolvido pela Embrapa Florestas. O bioinseticida contém esporos do fungo Beauveria bassiana como ingrediente ativo, que provocam a morte dos insetos, e óleo vegetal, que ajuda na adesão do produto à cutícula do inseto para aumentar sua eficiência. É o único produto destinado ao controle da praga na erva-mate registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“O produto foi desenvolvido à base de uma cepa isolada do fungo para combater especificamente a broca-da-erva-mate. Além de não agredir o meio ambiente, possui alta eficiência a campo, transmissão por contato e efeito cumulativo. Os besouros acometidos pelo fungo o transmitem para outros insetos e a tendência é que a população seja reduzida ao longo dos anos”, destaca a pesquisadora da Embrapa Florestas, Susete Chiarello, responsável pelo desenvolvimento do produto.
A penetração dos esporos do fungo ocorre principalmente nos pontos frágeis do corpo do inseto, causando sua morte após 20 a 30 dias. Quando contaminado, o corpo do inseto fica coberto pelo fungo, causando uma aparência esbranquiçada. É nesta fase que eles passam a transmitir o fungo para insetos sadios, aumentando o controle do inseto.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Florestas, estudos comprovam eficiência de até 70% no uso do produto em campo. Cerca de quatro meses após a aplicação, o inseticida permanece ativo no tronco da erveira, com capacidade de atingir ainda 50% das pragas.
O produto desenvolvido à base do fungo não possui aditivos químicos e, por isso, não agride o meio ambiente. Ainda, os esporos utilizados na composição atacam apenas a broca-da-erva-mate, não oferecendo riscos a outros animais e seres humanos e evitando qualquer tipo de contaminação.
Ação conjunta
O produtor de erva-mate Naldo Vaz, de Bituruna, na região Centro-Sul do Estado, reforça a importância da mobilização dos produtores para que o combate à praga seja realmente efetivo. “Desde 2015, faço o controle com o produto biológico na minha propriedade e tive uma redução de praticamente 98% dos ataques dos besouros. Sigo a programação das aplicações e as orientações técnicas, mas enquanto todo os produtores de erva-mate não fizerem o mesmo, não adianta”, aponta.
O ervateiro, que também é presidente da Associação Biturunense da Erva-Mate (Abem) e do Conselho Gestor da Erva-Mate do Vale do Iguaçu (Cogemate), conta que estão investindo em um trabalho de conscientização nas entidades, em parceria com a Embrapa Florestas. “Nós fazemos uma campanha anual com os nossos associados e outros produtores, tentando disseminar a informação o máximo possível, pois percebemos a falta de conhecimento sobre as medidas de controle da broca, principalmente com o uso do produto”, relata Vaz. “O produtor sabe do problema. Se todo mundo fizer a lição de casa, a necessidade de aplicação de produto será cada vez menor e o custo vai diminuir”, alerta.
A catação manual e uso de aves ainda são alternativas utilizadas para controle da praga. Porém, feitas de maneira isolada, possuem baixa eficácia. Segundo Susete Chiarello, da Embrapa Florestas, os produtores podem continuar realizando tais medidas nos meses de aparecimento dos insetos adultos, desde que combinadas a outras ações.
Recomendações
Para que o produto atinja sua eficácia completa no combate à broca-da-erva-mate é importante que o produtor siga as instruções indicadas na bula. Por exemplo, recomenda-se fazer a aplicação na região abaixo da folhagem do tronco da erveira, local onde a fêmea do besouro caminha para fazer a postura dos ovos, impedindo a reprodução dos insetos. Com isso, também se evita desperdício de produto e que outros insetos benéficos sejam atingidos.
Outra recomendação é fazer a aplicação nas horas mais frescas do dia, preferencialmente no final da tarde, pois o fungo permanece ativo por mais tempo e a incidência solar pode reduzir a eficácia do produto. O bioinseticida também não deve ser aplicado em dias chuvosos ou com probabilidade de chuva.
A aplicação deve ser feita de forma com que o produto forme uma névoa que cubra toda a região e não escorra. Mesmo sendo um produto biológico, o produtor e/ou trabalhador rural deve usar Equipamento de Proteção Individual (EPI) e fazer a limpeza adequada dos utensílios utilizados.
Após a aplicação, deve-se evitar a prática de limpeza mecânica ou química entre as linhas do erval, deixando uma cobertura verde, para propiciar condições ideais para o desenvolvimento e persistência do fungo. Quanto à realização da poda, a indicação é manter de 25% a 30% de folhas em cada planta para favorecer a ação do fungo e contribuir para a eficiência do controle, além de evitar o estresse na planta.
O produto deve ser aplicado duas vezes por ano, novembro e fevereiro, e pode ser encontrado em casas agropecuárias. “Novembro é o mês de maior urgência para o controle pois é o momento de evitar a reprodução da broca. Já fevereiro, é um pouco antes do período em que as fêmeas começam a fazer a postura”, observa Susete.
Ataque pode causar a morte das árvores
As larvas da broca-da-erva-mate constroem galerias no tronco que impedem a circulação normal da seiva, prejudicando o desenvolvimento e resultando no broqueamento das plantas. A planta fica debilitada e perde produtividade, ocorrendo seca de galhos e perda de folhas. Quando o ataque é muito intenso, pode causar a morte das árvores.
Durante o processo de broqueamento, a larva faz um orifício no tronco e a serragem é expelida para fora da planta, o que denuncia a presença da praga. O inseto adulto é um besouro que mede, aproximadamente, 2,5 centímetros, com o corpo de coloração preta e partes cobertas por pelos brancos – por isso é popularmente conhecido como besouro corintiano. Estão presentes nos ervais, em maior número, entre os meses de novembro e abril. Segundo a Embrapa Florestas, é possível encontrar até 50 mil adultos em uma área.
Setor ervateiro do PR investe em tecnologia e exportações
O Paraná é o maior produtor de erva-mate do Brasil. Na última década, registrou crescimento de 2% ao ano, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). Em 2020, a cultura paranaense ultrapassou R$ 750 milhões em Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP). Apesar dos números positivos, ainda existe potencial para o setor alcançar novos patamares em produtividade e qualidade do produto.
Segundo Ives Goulart, pesquisador da Embrapa Florestas, por ser uma cultura nativa da região Sul, cuja colheita extrativista perdurou por muitos anos, o setor não apresenta alto nível de aporte tecnológico em comparação com outras culturas. “Implantar tecnologia não se refere somente a insumos caríssimos e equipamentos de última geração. O Paraná está despertando para essa questão, tanto que nos últimos anos, houve bastante organização do setor e várias iniciativas surgiram”, aponta.
Na Embrapa Florestas, a necessidade de organizar tecnologias voltadas para a erva-mate em um sistema de produção culminou no Sistema Erva 20, um conjunto de práticas em ervais plantados que visam o aumento da eficiência produtiva e sustentabilidade da cultura. “Quanto mais capacitação e assistência técnica disponíveis, maior será o nível tecnológico desses produtores, resultando em mais qualidade e produtividade. O SENAR-PR, um dos nossos parceiros, é fundamental nesse processo de capilarização das tecnologias e cria um ambiente propicio à inovação no âmbito das propriedades. Isso vai se refletir em resultados concretos nos próximos cinco anos”, avalia Goulart, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Erva 20.
Segundo o pesquisador, produtores que adotam as oito principais tecnologias apresentadas pelo Sistema Erva 20 têm produtividade pelo menos três vezes maior que a média nacional. “É um processo contínuo, lento e gradual, mas calcado em bases científicas, e que vai ao encontro da missão da Embrapa no desenvolvimento de tecnologias”, afirma.
Na opinião do produtor Naldo Vaz, é possível observar o aumento da procura por capacitação técnica e melhoria na gestão das propriedades. Na Associação Biturunense da Erva Mate (Abem), onde ocupa o cargo de presidente, o Erva 20 já é conhecido entre os produtores e, segundo Vaz, a busca por informação não para. “O interesse do produtor por inovação está aumentando. O trabalho do SENAR-PR está ótimo, com cursos sensacionais e com uma frequência que não acontecia antigamente”, complementa.
O impacto ambiental também é uma das preocupações do setor. Ou seja, a adoção de tecnologias e o aumento da produtividade devem acompanhar a sustentabilidade. Além de beneficiar o cultivo da erva-mate, o fator ambiental aumenta o valor agregado do produto, principalmente para exportações.
“A erva-mate paranaense é um produto especial no mercado e existe por causa desse ecossistema que nós mantemos. Aos poucos, o Brasil está aumentando sua participação no mercado internacional. Muitas marcas têm apostado em linhas de bebidas e produtos com erva-mate, principalmente por suas propriedades estimulantes, o que vem sendo uma alternativa aos outros produtos com cafeína. As perspectivas são boas. É hora de aproveitar essa demanda”, constata.
O produtor Nei Kukla, de União da Vitória, na região Sudeste, ratifica o potencial da erva-mate paranaense nas vendas para o exterior. Além de produtor, Kukla atua como engenheiro agrônomo em uma agroindústria que fica localizada no município de Cruz Machado. Com capacidade de processamento de 2 mil toneladas de erva-mate por ano, cerca de 90% da produção da agroindústria é destinada para exportação.
“O produto paranaense possui um padrão de qualidade diferente. Além da qualidade superior, nós ainda conseguimos agregar valor ao nosso produto por ser de produção orgânica e sustentável. Além do selo de orgânicos, temos o selo Fair for Life, uma certificação de comércio justo. Esse é o diferencial do setor: produção economicamente viável com responsabilidade socioambiental”, finaliza.
Boa tarde quanto tempo vive uma “lagarta broca do Corinthiano”? E qual erbicidra é utilizado para combater ou matar? No meu Erval tem bastante mas já estão na faze adulta, tem algum erbicidra que mate ela dentro do tronco?
Boa Tarde Senhor Josmar,
primeiro, obrigado pelo seu contato.
Em relação a sua dúvida, o Besouro-corinthiano sobrevive por 4 a 5 semanas, na fase adulta como no teu herval a melhor forma de combater o besouro é com inseticidade biológico, a base do fungo balvéria, com a aplicação desse inseticida o besouro pode levar até 20 dias para morrer. Há apenas um inseticida registrado no mercado, que garante a morte o inseto. A melhor época de controle é em novembro pois o besouro está fora dos tronos para reprodução.
Qualquer outra coisa, seguimos à disposição.
Abraço